Diretora administrativo-financeira do grupo Antonio Ruette
Luciana Paiva
Se hoje a participação das mulheres está em alta no setor sucroenergético é porque existem aquelas que abriram caminho, uma delas é Regina Porto Ruette Aspásio, diretora administrativo-financeira do grupo Antonio Ruette. Regina integra um clã de mulheres desbravadoras do setor, durante sua participação no Encontro Cana substantivo feminino, realizado pela Editora Paiva & Baldin, em março de 2012, a executiva contou como tem sido sua trajetória no universo da cana-de-açúcar. “As pioneiras sempre sofrem mais. O preconceito era ainda mais forte, ouvíamos e engolíamos piadinhas e comentários grosseiros como: Se for loira, pensa com a raiz. Se for bonita não pode ser inteligente, Deus não vai dar tudo.”
Regina relembrou que quando tinha seis anos de idade, seu pai, Antonio Celidônio Ruette, assumiu a administração de uma usina na região de Itapira, SP. “Foi meu primeiro contato com a cana-de-açúcar”, disse. Formada em biomedicina, resolveu montar seu laboratório de análises clínicas. “Pensei que primeiramenteia provar o meu valor, depois atuaria na empresa de meu pai. Com o meu negócio tive os primeiros contatos com gestão, mas nunca me afastei do setor, porque em casa só falávamos sobre cana”, contou.
Em 1986, começou a atuar na empresa da família. “Nesse primeiro estágio eu passei pela área financeira, acho que meus irmãos me deram essa área para atuar não por competência, mas por achar que mulher não rouba, é mais rígida”, confessou à empresária.
Falar a linguagem dos homens
Regina salientou que no inicio ela trabalhava, mas não falava nada. “Meu pai, um espanhol muito bravo, com ele mulher não tinha vez, meus irmãos engenheiros falavam aquela linguagem lógica, objetiva, que a gente não entende nada. Então, nesse meu primeiro estágio eu só ouvia, observava o jeito dos homens, o que eles faziam”, contou, ressaltando que isso foi muito bom. “Porque aprendi sobre o negócio e como os homens agiam, e na hora em que comecei a falar eles prestaram a atenção, porque eu só falava com embasamento e de forma objetiva, podia pensar tudo aquilo que mulher pensa, mas na hora de falar eu focava.”
Em sua opinião, as mulheres são muito eficientes, mas para que seu trabalho seja compreendido pelos homens é preciso traduzi-lo para a linguagem masculina, senão eles não entendem. Essa compreensão desperta a valorização e abre caminhos. “Competência independe do gênero, mas se não tivermos oportunidade, um terreno fértil, ela vale zero”, disse.
Descobriu que tinha direitos
Regina ressaltou que em seu primeiro estágio na empresa, além de apenas ouvir, o trabalho vinha em primeiro lugar, anulando os papéis de mãe e mulher. “Jamais eu poderia dizer: o pessoal, segura as pontas que eu vou para uma reunião de escola dos meus filhos.” Mas a situação começou a mudar, o que Regina coloca como segundo estágio. “Passei a achar que tinha direitos. Um dia eu ousei e disse aos meus irmãos e meu pai que iria sair, fazer o cabelo. Foi uma loucura. Ficaram indignados e me questionaram: ‘Que é isso, está louca, largar o trabalho para ir ao cabeleireiro?’. Respondi: eu posso, vou sair as 14horas para fazer as unhas e volto às 15 horas, eu tenho direito. Não vai prejudicar o meu trabalho.” A partir daí as coisas mudaram, mesmo assim, ainda surgia certa culpa por tentar exercer esse direito.
Durante o Encontro Cana substantivo feminino, Regina disse que, naquele momento havia chegado ao 3º estágio. “Na hora do intervalo conversei com mulheres com visão extremamente interessante, como a Ana Paula Malvestio, sócia da PwC, e elas disseram que eu tenho direito sim e que não preciso ficar com culpa. Que podemos exercer nossa vida profissional de forma equilibrada. Sem precisar se anular como mulher para ser profissional. Eu sofria porque a minha cabeça também era machista, porque nossas mães também eram assim”, observou.
Regina disse que a sociedade impôs que para a mulher alcançar um espaço, precisava ser mais competente, por que sefor igual ao homem o espaço será ocupado por ele. Mas que, felizmente, isso vem mudando, os novos conceitos mostram que os dois podem trabalhar lado a lado, completando as deficiências que cada um tem. “Eu não tenho o menor senso de direção, não sei se vou para a direita ou esquerda. Meu marido diz: quando você quiser ir para a direita, vá para a esquerda, pois aí é o caminho certo. Mas em compensação, se eu peço para ele olhar o nenê, esquentar a sopa e assistir a novela para depois me contar, ele fica perdido, não faz nada. Então, como canta Paul McCartney,se no teclado do piano o preto e branco convivem muito bem, então porque não podemos conviver harmoniosamente com os homens nos completando?”, questionou a executiva.
Fonte: Encontro Cana substantivo feminino - Cana Substantivo Feminino
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