2º Fórum Brasileiro da Indústria de Alimentos debate gargalos e propõe soluções para o setor
14-04-2014

O 2º Fórum Brasileiro da Indústria de Alimentos, promovido pelo LIDE – Grupo de Líderes Empresariais, presidido pelo empresário João Doria Jr., LIDE AGRONEGÓCIOS, liderado pelo ex-ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, e LIDE GOIÁS, comandado pelo empresário André Rocha, reuniu nesta sexta-feira (11), no Hotel Mercure, em Goiânia, 250 participantes. Aberto e encerrado pelo governador de Goiás, Marconi Perillo, o encontro debateu a importância estratégica da produção de alimentos e o papel do Brasil nesse contexto, além propor soluções para compatibilizar o abastecimento doméstico com as demandas internacionais por alimentos, que foram consolidadas na Carta de Goiânia, que deverá ser encaminhada aos candidatos presidenciais nas eleições deste ano.

Na abertura do Fórum, o ex-ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, presidente do LIDE AGRONEGÓCIOS, afirmou que o Brasil está diante de um grande desafio em termos de produção de alimentos. “Temos de aumentar nossa produção para atender as necessidades mundiais, ao mesmo tempo em que não podemos derrubar mais árvores, não podemos usar água, defensivos agrícolas e nem máquinas, pois isso afeta o ambiente”, afirmou, acrescentando que nesse caso, a saída é aumentar a produtividade. “Nesse caso, aqui em Goiás temos o exemplo de um governo que contribui muito para que o setor privado tenha condições de vencer esse desafio. Como, aliás, vem fazendo”, complementou.

O governador de Goiás, Marconi Perillo, por sua vez reafirmou que tem como norte principal em seu governo a busca pela eficiência. “Aqui nós procuramos repetir no setor público a competência e a eficiência do setor privado. E isso em todas as áreas. E é por esse motivo que o Estado tem conseguido fazer suas exportações avançar de US$ 317 milhões no fim dos anos 1990, para US$ 7,5 bilhões, em 2013. É graças a isso também que conseguimos estar entre os três estados que mais geraram empregos em 2013”, conclui o governador.

Segundo João Doria Jr., presidente do LIDE, fatores como esses levaram o LIDE e a Abia – Associação Brasileira das Indústrias de Alimentação, também promotora do Fórum, optar por fazer de Goiânia a sede dos próximos eventos. “As transformações ocorridas no Estado e as políticas públicas colocadas em práticas pelo governo, com o processo de intensa industrialização, por exemplo, nos levaram a decidir por promover o Fórum da Indústria de Alimentos sempre em Goiânia”, declarou o presidente do LIDE.

Tributação: Brasil convive com 1,3 milhão de regras fiscais
Um dos temas que dominou os debates foi o da tributação. De acordo com Roberto Giannetti da Fonseca, presidente do LIDE INFRAESTRUTURA, não podemos mais conviver com uma estrutura tributária complexa e confusa que reduz a competitiva das empresas. Segundo ele, o País tem hoje nada menos que 1,3 milhão de regras fiscais que, combinadas entre si totalizam 7,9 milhões. “Temos de ser propositivos e ter vontade política para equacionar o problema”, afirmou Giannetti da Fonseca.

A saída, segundo ele, passa por redução gradual da carga de impostos, reformulação do Confaz, um novo pacto federativo para reduzir a guerra fiscal entre estados, racionalização do modelo tributário, alíquota interestadual de 4%, fim do acúmulo de taxas e redução de alíquotas. Em relação a esse último ponto, o economista lembrou o caso concreto de redução de alíquota que, ao contrário do esperado, aumentou a arrecadação. “Quando o Estado de São Paulo baixou de 18% para 12% a alíquota de ICMS do etanol, a arrecadação de impostos com o produto cresceu em vez de cair”, afirmou Giannetti.

Debatedor desse painel, o ex-ministro do Planejamento, Martus Tavares, hoje vice-presidente da Bunge, informou que o excesso de tributação está induzindo a desindustrialização na cadeia da soja. “Os dados da balança mostram que de 2010 até o ano passado, enquanto a produção de soja cresceu numa média de 25%, as exportações avançaram 51%, os embarques de farelo de soja cresceram zero e as de óleo de soja recuaram 10%. Esse é um claro sinal de desestímulo à industrialização dos grãos”, completou Tavares.

Na sequência, o presidente da Abia, Edmundo Klotz traçou um panorama do setor no Brasil. O faturamento da indústria alimentícia, segundo ele, atingiu R$ 413,7 bilhões, superando setores como o petroquímico, que fatura R$ 368,4 bilhões. “Apesar das dificuldades, nós continuamos crescendo e devemos fechar 2014 com uma expansão real da ordem de 4%”, informa Klotz salientando que o crescimento das vendas se deve, em parte, ao maior consumo de alimentos por parte da classe “C” nos últimos anos. Segundo ele, a participação do consumo da classe “C” no total de consumo do País saltou de 34%, em 2005, para 54% neste ano.

Já na palestra proferida pelo ex-ministro Luiz Fernando Furlan, ele enfatizou a necessidade de o país desenvolver marcas fortes com vistas ao mercado externo. No caso de alimentos, o palestrante lembrou que, apesar de sermos o maior produtor mundial de café, não temos uma marca com presença mundial. “O Brasil precisa saber onde quer colocar seus produtos. Tem de desenvolver formas de saber onde tem pessoas dispostas a consumir os nossos produtos. Mas mais do que isso, tem também de fazer adaptações os nossos produtos em termos de padrões, normas e regras exigidas pelos mercados internacionais”, comentou.

Outra recomendação dada por Furlan é para que os empresários e entidades aprendam a fazer acordos e tenham ciência de que, com eles, mercados serão abertos, mas também haverá a contrapartida da entrada de concorrentes externos no País. “Estamos falando de um novo paradigma em termos de comércio exterior”, analisa o debatedor John Mein, ex-presidente da Câmara Americana de Comércio e coordenador do Instituto Procomex.

Furlan também citou exemplos de iniciativas bem sucedidas de empresas brasileiras que conseguem boa presença no mercado externo com suas marcas. “Um bom caso é o das sandálias havaianas. Dias desses estava num hotel em Paris e, no quarto, tinha um par de havaianas gravadas com a logomarca do hotel”, conta ele, acrescentando que é de exemplos como esses que o setor alimentício necessita.

Encerrando o ciclo de palestras, a diretora geral do Ital – Instituto de Tecnologia de Alimentos, Eloisa Elena Garcia falou das novas tendências e preferências dos consumidores. Em relação aos investimentos no desenvolvimento do setor, ela acentuou a necessita de alinhamento dos investimentos. “Precisamos alinhar os investimentos em pesquisa e desenvolvimento na área alimentícia com os interesses da indústria de alimentos e também dos consumidores. Temos de ter investimentos que realmente resultem no uso prático da indústria”, afirmou a pesquisadora.

Ao final do encontro foi entregue o Prêmio Lide-Abia da Indústria de Alimentos 2014 aos destaques do setor, distribuídos em quatro categorias. As empresas vencedoras na categoria Desenvolvimento de Canais de Distribuição foram: Brasil Kirin, Italac e Mabel. Na categoria Eficiência em Mercados Internacionais, os vencedores foram: BRF e Bunge. Na categoria Inovação em Produtos, os ganhadores foram: Açúcar Itajá, Goiás Verde e Piracanjuba. Na categoria Melhores Práticas da Produção: AmBev, Caramuru e Nestlé. Na categoria Sustentabilidade, as vencedoras foram: Comigo, Predileta e Queto.

Além desses prêmios, o LIDE fez uma homenagem especial a João Alves de Queiroz Filho, fundador da Arisco, e ao empresário Alair Martins, presidente do Conselho de Administração do Grupo Martins.

Carta de Goiânia
Ao final do encontro, foi lida a Carta de Goiânia, documento que fez um resumo dos debates com propostas de algumas linhas de ação. Redigida pelo ex-ministro Roberto Rodrigues, a Carta diz, num determinado trecho: “Houve uma grande convergência entre expositores, debatedores e a plateia em relação aos principais temas discutidos, especialmente em relação às demandas do setor, mais centradas no real interesse nacional. Isso faz parte do amadurecimento da Nação e da sociedade brasileira, com maior grau de participação de todas as pessoas na governança geral do País. Tal convergência sinaliza uma maior capacidade da sociedade de influir nas mudanças necessárias para avançar por mais produtividade e sustentabilidade. Tem de mudar para que, dentro de um ano não voltemos a Goiânia para falar mais do mesmo, discutir, reclamar e pedir menos impostos, mais logísticas. Mãos à obra”.