40 anos após primeiro carro a etanol, Volks escolhe Brasil como polo para biocombustíveis
14-07-2021

A Volkswagen divulgou nesta segunda (12) que terá um centro global para desenvolvimento de tecnologias biocombustíveis no Brasil. Embora seja um reconhecimento ao trabalho da divisão nacional da montadora, a decisão chega com um atraso de décadas.

O comunicado divulgado agora pela montadora diz que o centro de desenvolvimento será independente e desenvolverá “soluções tecnológicas baseadas em etanol e outros biocombustíveis para mercados emergentes que utilizam energia limpa para a combustão e soluções híbridas”.

Os produtos mais aguardados são os futuros modelos movidos a gasolina, etanol e eletricidade, a exemplo do que ocorre com o Toyota Corolla Hybrid Flex, lançado em 2019.

A possibilidade de tornar o carro flex em um produto de exportação esbarra na falta de competitividade do Brasil e na ausência de álcool enquanto combustível automotivo até em países vizinhos.

Contudo a necessidade de se criar uma solução mais limpa —e que exija menor investimento em infraestrutura em comparação à eletrificação plena— dá uma nova chance à solução nacional.

As montadoras sabem que muitos anos e muito dinheiro serão necessários para implementar redes de recarga em países subdesenvolvidos de dimensões continentais. Tampouco haverá um número suficiente de consumidores com poder aquisitivo que justifique a produção em larga escala de carros elétricos. Sem público, não é possível reduzir os custos.

Se não houver uma opção para os emergentes, será impossível atingir a neutralidade de carbono até 2050. Essa é uma meta da Volkswagen, que foi a primeira fabricante de automóveis a aderir ao Acordo de Paris. Após o Dieselgate, a montadora precisa provar a cada dia que está de fato comprometida com a redução de emissões.

“Alguns fatores impossibilitam mudanças mais rápidas: indisponibilidade de infraestrutura de carregamento, energia renovável e o nível de renda local. É por isso que é necessário explorar opções alternativas aproveitando os recursos locais que já estão disponíveis”, diz o comunicado divulgado pela Volkswagen nesta segunda.

Nesse cenário, biocombustíveis como o etanol ganham relevância —e demorou muito para empresas como a Volkswagen perceberem isso, embora a viabilidade já seja conhecida há mais de 40 anos.

A VW do Brasil apresentou seu primeiro carro a etanol em 1979. Era a resposta da marca ao Proálcool (Programa Nacional do Álcool), alternativa brasileira ao petróleo, que se tornara mais caro e escasso após a crise de 1973.

Na época dos testes, o presidente da Volkswagen do Brasil, Wolfgang Sauer (1930-2013), mostrava-se desconfiado diante das promessas de produção feitas pela Comissão Nacional de Energia.

Em agosto de 1979, o executivo afirmou que continuaria a produzir modelos movidos a gasolina para abastecer o mercado interno sem descuidar das exportações, mas previa também que o álcool seria predominante na frota de modelos novos já em 1985.

Sauer acertou suas previsões: em meados da década de 1980, eram raros os carros zero-quilômetro abastecidos com combustível de origem fóssil.

Em um intervalo inferior a dez anos, o Brasil se tornou referência com uma solução local —que, apesar de problemas como desgaste precoce de componentes metálicos e dificuldades na partida a frio, indicava uma alternativa viável ao petróleo.

A crise de abastecimento de etanol no fim dos anos 1980 prejudicou a imagem do carro a álcool, mas também impulsionou uma outra solução: o automóvel flex.

A Volkswagen foi a pioneira: o Gol 1.6 Total Flex chegou ao mercado em março de 2003, podendo rodar com etanol e gasolina puros ou misturados em quaisquer proporções.

Hoje a filial brasileira da montadora é a escolha óbvia para sediar um projeto global de biocombustíveis, e o que causa espanto é a demora da matriz em apostar nas alternativas desenvolvidas no país.

“Poder liderar, desenvolver e exportar soluções tecnológicas a partir do uso da energia limpa dos biocombustíveis se caracteriza como uma estratégia complementar às motorizações elétrica, híbrida e à combustão a mercados emergentes”, afirmou, por meio de nota, Pablo Di Si, presidente da Volkswagen América Latina.

Fonte: Folha de SP 

Do site: Siamig