A adoção de variedades de cana antigas é barreira para a obtenção de canaviais com alto desempenho
07-12-2018

Maior Censo Varietal de Cana mostra que a RB867515 se mantém como a mais plantada e cultivada no Centro-Sul

O setor canavieiro nacional ainda utiliza variedades bastante antigas. Das décadas de 1980 e 1990. A RB867515 é uma prova viva. Sua primeira semeadura foi há mais de 30 anos, na extinta Estação Experimental de Ponte Nova, MG, ainda sob o controle do IAA-Planalsucar. Embora “velha”, esse material ainda arrasta multidões por onde passa e se mantém como líder - tanto como a mais cultivada, como a mais plantada - na região Centro-Sul do Brasil.

É o que mostra o Censo Varietal Safra 2018/19, desenvolvido pelo Programa Cana do IAC e apresentado durante a última reunião de 2018 do Grupo Fitotécnico, realizada no final de novembro em Ribeirão Preto, SP. O pesquisador Rubens Leite do Canto Braga Jr., coordenador do projeto, salientou que o censo do IAC tem o objetivo de levantar informações sobre as áreas de variedades no maior número possível de unidades produtoras, englobando usinas, destilarias, associações e grandes fornecedores.

De acordo com Braga, o Censo Varietal do IAC é o maior do Brasil. Este ano, foram levantados dados de 216 empresas produtoras em uma área de 5.957.393 hectares nos estados da Bahia, Espírito Santo, Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Paraná, São Paulo e Tocantins.

O Censo apontou que a variedade RB867515 segue como a mais cultivada no Centro-sul, com 23% de área. Em seguida, está a RB966928, com 13%. Na terceira colocação, se encontra a CTC4, com 8% de área. No levantamento de área plantada, a RB867515 também segue na frente, com 18,3%. A RB966928 (14,8%) e a CTC4 (14,3%) aparecem logo atrás.

O Estado de São Paulo é o que mais rapidamente vem deixando de lado a 7515 e já opta por materiais mais novos, produtivos e com melhor resposta ao processo de mecanização. A variedade da Ridesa ainda segue na frente, tomando para si a maior parte da área cultivada (17%). Entretanto, a RB966928 aparece logo atrás, com 16% de participação. Essas posições devem se inverter já no próximo ano, já que no levantamento de área plantada, a RB867515 é apenas a terceira colocada, com 10,7% de área. Nas duas primeiras colocações, aparecem a 6928 com 18,5% e a CTC4 com 14,3%.

Na contramão de São Paulo, existem estados em que a RB867515 aparece, não apenas na liderança, mas com números exorbitantes. É o caso do Espirito Santo, onde ela ocupa 68% da área cultivada. A segunda colocada nesse ranking é a RB92579, com apenas 4% de participação. Esse cenário não deve se reverter tão cedo. A área plantada com o material no estado é de 65,3%, contra 11% da segunda colocada (RB937570). Mato Grosso (47%), Paraná (45%), Mato Grosso do Sul (33%), Goiás (23%) e Minas Gerais (20%) são outros estados onde a RB867515 ocupa a maior parte das áreas de cultivos de cana-de-açúcar.

Paralelo ao Censo Varietal, o IAC conduziu uma pesquisa de intenção de plantio para o próximo ciclo. Ao todo, foram 165 unidades recenseadas, totalizando quase 791 mil hectares levantados. O cenário previsto não deve se distanciar do registrado nas últimas safras. A RB867515 deverá ser a mais plantada no Centro-Sul, com 15,2% de intenção de plantio. Em seguida, aparecem a CTC4 (13,2%), RB966928 (12,7%), CTC9001 (9,9%) e RB92579 (5,2%).

A única exceção a esses números é, novamente, o Estado de São Paulo. À frente, aparece a RB966928, com 13,7%. CTC 4 (12,7%) e CTC 9001 (10,5%) completam o “top 3”. Líder absoluta nos outros estados, a 7515 conquista apenas a quarta colocação, com 9,8% de intenção de plantio para o próximo ano.

O consultor do IAC observa que, gradativamente, as variedades que estão ganhando espaço nos censos varietais são novas, desenvolvidas pensando no manejo mecanizado e que perfilham mais do que a 7515. Exemplos disso são as RB966928, RB92579, CTC4 e a IAC91-1099. “Não podemos negar que esse material deu uma contribuição fantástica para o setor. Mas, é importante lembrar que ele foi criado para outro tipo de manejo, não favorecendo a mecanização.”

Braga Jr. ressalta que a introdução de variedades modernas deve ser o caminho adotado pelos produtores e as usinas, pois os programas de melhoramento nunca irão lançar um material que seja inferior aos anteriores. “Por medo de arriscar, os produtores e usinas permanecem sempre nas mesmas variedades, mas a segurança vai contra a chance de obter resultados melhores. Se não arriscar, as médias de produtividade continuarão sempre as mesmas, o que ocasionará uma quebra geral em todo o setor.”

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Fonte: CanaOnline