A comunicação como fonte de cultura e pertencimento
31-08-2018

A criança tem cem linguagens (e depois cem, cem, cem), mas roubam-lhe noventa e nove

Sandra Schiavetto, pedagoga, psicopedagoga, master coach e sócia da Multi Training, empresa especializada em Liderança e Cultura Organizacional

A comunicação, de forma simplificada, possui três aspectos fundamentais: emissor, receptor e mensagem. No entanto, há muito mais aspectos que envolvem essa aparente forma de entendimento entre duas pessoas ou grupos. Pode parecer óbvio, mas se óbvio fosse, não teríamos tantos problemas de comunicação em todos os contextos sociais. É sobre essa problematização que desejo contribuir para que possamos refletir sobre quais condutas são necessárias para que a clareza e a fluidez na fala e na linguagem possam, de fato, viabilizar uma relação tão necessária para a sobrevivência e evolução da espécie humana.

Para iniciar tal reflexão, em meu papel de educadora e facilitadora dos processos de desenvolvimento humano, tenho a intenção de resgatar a importância da comunicação desde muito antes de trazermos essa questão para o ambiente de trabalho, afinal de contas, essa habilidade nasce bem antes de tentarmos entender as relações profissionais.

Quero resgatar um fato ocorrido na cidade italiana de ReggioEmilia, depois da Segunda Guerra Mundial, em que não sobrou pedra sob pedra, pois absolutamente tudo havia sido bombardeado. Para não privar os filhos do direito de estudar, grupos de pais se organizaram para reunir materiais dos escombros e decidiram iniciar a construção de uma nova escola. Um jovem que passava de bicicleta gostou do que viu e resolveu ficar. LorisMalaguzzi criaria ali, em 1946, naquele ambiente marcado pela destruição, uma forma de trabalhar o ensino infantil que viria influenciar escolas do mundo inteiro, inclusive no Brasil, estimulando educadores crianças a usarem todas as suas formas de expressão, levando a produção dos pequenos para fora da escola e trazendo a comunidade para dentro.

A capacidade de mobilização, enfrentamento e resiliência gerou um movimento de criação e criatividade nessa população, ao invés da vitimização ou qualquer outra forma de paralização das competências humanas. A escola nascida dessa realidade descontruída, também desconstruiu padrões de ensino e aprendizagem arraigados na cultura de protagonismo das crianças. Nós, adultos, também necessitamos reinventar nossas formas de trabalhar por meio de uma cultura que substitui a autocracia pela democracia, empenhada na co-construção e na co-responsabilidade em apoiar as necessidades humanas universais.

O sistema reggiano de educar considera que a criança tem múltiplas linguagens, pois a vê como um ser forte, pensante, construtora e comunicativa da sua visão de mundo, pois é dessa forma que elas se relacionam, ou seja, com o uso de todas as linguagens implícitas e explícitas de sua identidade e pluralidade. E nós, adultos, em quais níveis estamos negociando nossas múltiplas potencialidades para reinventar as práticas de negociação dentro e fora das empresas, no campo, na produção fabril, nas relações entre líderes e liderados? Qual a nossa motivação para reorganizar nosso caos organizacional, permeado por ruídos que transcendem a necessidade de pensar a comunicação como um ato simplista de falar e ouvir? O que eu falei? O que o outro ouviu? Qual a interpretação ficou assegurada e, além disso, o que essa relação dialógica produziu como resultado?

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