A crescente inserção da mulher no agronegócio
28-03-2019

O VIII Encontro Cana Substantivo Feminino éum exemplo da inserção feminina no agro. O evento debate o tema e abre espaço para que as mulheres apresentem sua visão do negócio
O VIII Encontro Cana Substantivo Feminino éum exemplo da inserção feminina no agro. O evento debate o tema e abre espaço para que as mulheres apresentem sua visão do negócio

Segundo pesquisa da ABMR&A (2017), o agronegócio tem ficado mais feminino. Uma em cada três propriedades rurais do país tem mais espaço feminino no comando

Daniela Coco

Ao longo dos últimos anos temos observado um forte crescimento na mídia, em eventos, nas empresas e em agências de pesquisas do governo, sobre o papel da mulher no agronegócio. Esse tema, tão relevante e atual, passou a ser parte essencial no conteúdo da mídia, em congressos e nas políticas das empresas. O agronegócio brasileiro, tão representativo para a economia nacional, respondendo por 22% do PIB, mais de 40% das exportações e um terço dos postos de trabalho, vem reconhecendo e enfatizando a representatividade da mulher ao longo de toda a cadeia de valor, desde a produção agropecuária até a gestão de empresas, órgãos do governo e instituições financeiras.

Segundo pesquisa da ABMR&A (2017), o agronegócio tem ficado mais feminino. Uma em cada três propriedades rurais do país tem mais espaço feminino no comando. Há cinco anos, eram apenas 10%. A pesquisa da ABMRA ainda apresenta um dado mais surpreendente, uma mudança de mentalidade: 81% dos entrevistados consideraram a participação da mulher “vital” ou “muito importante” no gerenciamento de seus negócios. Porém, apenas 4% das propriedades eram comandadas por mulheres.

 

O VIII Encontro Cana Substantivo Feminino aconteceu em 21 de março de 2019 em Ribeirão Preto, SP e reuniu mais de 300 participantes

Números da FAO, órgão da ONU para Agricultura e Alimentação, são ainda mais curiosos. Nos países menos desenvolvidos, as mulheres economicamente ativas na agricultura chegam aos 70%. Na África, elas executam 80% dos trabalhos domésticos rurais. Em relação às propriedades, em 15 países da União Europeia, 20% das mulheres são proprietárias agrícolas, contra 77% dos homens e 3% do governo. São números muito significativos, especialmente considerando que essa é uma tendência crescente.

Segundo pesquisa realizada pela PwC Brasil em parceria com a ABAG em 2016, as mulheres que estão assumindo a gestão em propriedades rurais possuem o seguinte perfil: agricultoras e pecuaristas, com trabalho direto na produção agropecuária, descendentes de imigrantes ou famílias tradicionais no setor; 60% das mulheres possuem escolaridade com nível superior completo; 80% participam de associações e/ou sindicatos de produtores; 39% são associadas de cooperativas; 55% estão na faixa etária entre 40 a 59 anos; 24% estão no Rio Grande do Sul; 62% são casadas ou vivem com seus parceiros; 65% possuem mais de um filho; 80% tem acesso e usam a internet.

 

Durante o VIII Encontro Cana Substantivo Feminino, além de debates, houve test-drive com caminhão com direção autônoma e tratores. As mulheres fizeram fila para dominarem as máquinas

Essa maior participação da mulher no agronegócio também pode ser percebida nas universidades e associações. Em 2015, metade dos 243 formandos da tradicional Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”, da Universidade de São Paulo, foi do sexo feminino. Nos leilões, feiras e eventos do setor, elas já representam 20% do público, além de participarem em Comitês de Mulheres recentemente criados nos Sindicatos e Federações de proprietários rurais. O extinto Ministério de Desenvolvimento Agrário (MDA) apontou a existência de 90 Comitês Territoriais de Mulheres com propostas para receber recursos do PROINF MULHER.

Na gestão de empresas do agronegócio não é diferente. A mulher recém graduada está iniciando sua carreira em empresas do setor, nos mais diversos segmentos como defensivos, fertilizantes, máquinas, usinas de açúcar e etanol e cooperativas de grãos e de crédito. Elas não apenas iniciam como avançam em suas carreiras, alcançando postos de gestão em suas áreas. Atuando há mais de 40 anos com empresas do agronegócio, a PwC Brasil vem acompanhando de perto essas mudanças. Rosana Napoli, sócia da PwC Brasil, revela que quando se trata de trabalhos de risco, processos e controles, a mulher traz um diferencial interessante, mais detalhista e sistemático. Já para Mayra Theis, sócia da área tributária e societária da PwC Brasil, ao longo dos anos, a mulher vem se destacando na gestão de grandes empresas do agro pela capacidade natural de perceber, avaliar e resolver diversos temas ao mesmo tempo, muitas vezes adotando um estilo participativo e inclusivo e oferecendo alternativas inovadoras. Mayra afirma que a mulher gestora consegue perceber nuances de um problema que poderiam ser sutis para o gestor masculino.

Para Ana Malvestio, sócia da PwCe líder de Diversidade & Inclusão entre 2013-18, a inserção da mulher em um ambiente predominantemente masculino tem sido espetacular e um caminho sem volta. Hoje baseada na PwC EUA, em Nova Iorque, Ana acredita que o Brasil está no caminho certo para atuar como protagonista no fornecimento de alimentos para o mundo. Para Ana, a “mulher na gestão” tem papel fundamental nessa jornada, pois oferece uma percepção diferente da situação, garante diversidade e inovação. Ela acrescenta que o crescimento sustentável das empresas e do setor como um todo, depende da inclusão desse olhar diferenciado e do empoderamento da mulher”. Uma pesquisa da PwC Brasil sobre a Geração Y revela ainda que a sociedade passa por transformações profundas com a entrada dessa nova geração no mercado de trabalho.

O agronegócio brasileiro passa por um momento interessante. Internamente, um novo governo, uma nova pasta para a Agricultura e muitas expectativas. Externamente, o mundo observa com atenção nosso potencial de resposta à demanda crescente por alimentos, fibra e energia, em que FAO e USDA indicam que o país deve responder por cerca de 40% desse incremento. Existem desafios relevantes para conseguir expandir de forma sustentável o setor, mas a inserção, cada vez maior, do perfil feminino em empresas e instituições será de extrema importância na busca por melhor integração, coordenação e inovações no agronegócio brasileiro.

Gerente sênior e especialista em Agribusiness da PwC Brasil