A família das cigarrinhas pode ter aumentado
11-04-2014

Os profissionais do setor já conhecem a cigarrinha-das-folhas (Maharnava posticata) e a cigarrinha-das-raízes da cana (Mahanarva Fimbriolata), mas agora a família pode estar aumentando. Foi o que alertou no 9º Insectshow, o professor e pesquisador Newton Macedo em sua palestra - Manejo de cigarrinhas-das-raízes em áreas de difícil controle.

O professor salientou que sempre que houver cana crua, haverá cigarrinha e que não existe cigarrinha se não houver excesso de água no solo, por isso, o período crítico da incidência da praga vai mais ou menos da segunda quinzena de novembro até março.

Principalmente a cigarrinha-da-raiz gera perdas consideráveis em áreas de cana crua, tanto na produtividade agrícola, como na redução de açúcar ao sugarem a seiva e injetarem toxinas, ocasionando desordem fisiológica. Essas injúrias provocam a morte de perfilhos, encurtamento, rachadura, brotações laterais e murchamento dos colmos, que provocam redução na quantidade e qualidade do açúcar recuperável e aumento no teor de fibras. Essas perdas podem provocar reduções de produtividade que variam de 25% a 60% na cana soca, e chegam a 11% na cana planta. 

Em sua palestra Macedo falou sobre o controle químico da cigarrinha, deixou claro, que, segundo suas pesquisas, não acredita em retorno financeiro no controle biológico induzido pelo homem, acredita em preservar os inimigos naturais, mas não jogar fungo.

A incidência das cigarrinhas-das-raízes aumentou a partir da adoção da colheita da cana crua, no final da década de 1990 e foi aumentando com o crescimento da mecanização, atualmente, ao lado da broca-da-cana, figura como as duas principais pragas do setor, está presente em diversas regiões, com elevadas populações no Centro-Sul e em alguns Estados do Nordeste do País.

Mas Macedo disse que há cerca de quatro anos, chegou-se a pensar que o setor havia dominado o controle da cigarrinha, mas não é o que ocorre, pois sua forma de infestação muda de um local para outro, de uma variedade de cana para outra e, principalmente em relação a idade do canavial, por exemplo: nas canas colhidas no segundo semestre os danos são maiores. “Se o produtor não tem dinheiro para aplicar inseticida durante o ano, aplique pelo menos no segundo semestre, quando o ataque é maior, haverá perda de produtividade, mas se não aplicar nada a perda será maior”, aconselha.

Fatores que influem na dinâmica populacional do controle da praga – segundo Macedo são:
- com o início da estação chuvosa ocorre a eclosão dos ovos, aumentando o número de indivíduos. Seu ciclo biológico apresenta duração média de 60 dias, o que possibilita a presença de cerca de três gerações da praga a cada safra.
- capacidade dos solos em retenção de umidade;
- extensão do período seco e temperatura mínimas do solo no inverno;
- quantidade de ovos que permanecem viáveis na última geração;
- distribuição de chuvas no período de primavera-verão;
- o estágio fenológico da planta – planta mal nutrida sofre mais;
- e o índice de parasitismo na planta - envolve predadores e parasitoides, entre eles o fungo Metarhizium anisopliae.
Fatores técnicos - metodologia e estratégia para monitoramento do controle da praga.
O pesquisador também alertou para a importância desses aspectos:
- o time da aplicação - quanto maior o período de convivência da praga com a planta, maiores serão os danos em produtividade e qualidade da matéria-prima, por isso, é preciso iniciar a aplicação o quanto antes;
- modalidade da aplicação, os inseticidas podem ser aplicados em jato dirigido, barra total, ou aérea. É preciso se ater sobre as características, se é para contato, ou ingestão pelo inseto, se pode ser por aplicação aérea;
- o PH da calda de inseticida;
- não deve realizar mistura de produtos.
“Antes de falarmos, o produto não funciona, precisamos realizar todos esses procedimentos”, observou.

O produto certo na modalidade certa – Para o controle da cigarrinha-da-raiz, o pesquisador apresentou um estudo realizado com o produto Curbix, lançado em 2010 pela Bayer CropScience. Segundo dados do levantamento, a testemunha que não recebeu controle de cigarrinha apresentou 105 toneladas por hectare de cana, a segunda área que recebeu o produto A, chegou a 115 toneladas por hectare, e o canavial que recebeu o Curbix produziu 147 toneladas por hectare. “Quando realiza o controle da cigarrinha, ganha-se de quatro a cinco vezes o valor que foi investido, mas quando é aplicado o produto certo na modalidade certa, como foi no caso do Curbix, o retorno é muito maior”, ressaltou.

Áreas com problema no controle – o pesquisador contou que menos de 10% da área de cana com cigarrinha, ou seja em torno de 2 a 2.5 milhões de hectares, estão apresentando problemas no controle de cigarrinha-da-raiz, a causa principal desse problema é porque os critérios citados anteriormente não foram seguidos à risca. No entanto, há casos em que o processo foi realizado corretamente e, mesmo assim, os insetos se mantém. “Não sabemos se são tolerantes ou resistentes, mas o fato é que nenhum produto está resolvendo”, diz Macedo que explicou a diferença entre os dois:

- Resistência é uma característica genética, o inseticida não induz à resistência. Há insetos que são resistentes a produtos, ao mesmo grupo químico, ou a mais de um produto e mais de um grupo químico. Esses indivíduos ao sobreviverem, criam uma nova geração resistentes também.
- Tolerância ao inseticida, são indivíduos com mais vigor, que normalmente se alimentaram mais, e precisam de uma dose maior de aplicação para ser eliminado, não é um fator genético.

Mais uma cigarrinha – Macedo levantou um novo fator que possa estar comprometendo a performance dos produtos em algumas áreas: talvez esteja ocorrendo uma variabilidade dentro da espécie, pois foi encontrado, o que parece ser um outro tipo de cigarrinha, não a da raiz e nem a da folha. Mas como essa identificação precisa ser estuda em laboratório, ainda não é possível dizer se a família aumentou, se as áreas podem estar sendo atacadas por uma nova espécie ou outra variedade da praga. “Antes de anunciar se há insetos resistentes ao controle químico é preciso levantar o que realmente acontece.’

O pesquisador disse que a equipe de profissionais da Bayer, juntamente com ele, com a professora Maria Bernadete Campos, da UFSCar/Araras e o professor Gervásio Carvalho, da PUC do Rio Grande do Sul, especialista na identificação da cigarrinha, estão estudando esse caso e empenhados a resolver esse problema.
No final da palestra de Macedo, Dib Nunes, presidente do IDEA, disse ser uma hipótese muito séria, pois se está ocorrendo uma nova espécie. Será preciso rever os conceitos.