Açúcar: Petróleo pode ser fator de desetabilização
25-07-2016

Por Arnaldo Luiz Corrêa

As férias de verão no hemisfério Norte e o recesso escolar no Brasil são os ingredientes perfeitos para compor um mercado bastante quieto e sem nenhuma notícia que anime aos analistas olhar por cima dos óculos. Por isso, o mercado futuro de açúcar em NY fechou praticamente inalterado na semana. O vencimento outubro/2016 encerrou a sexta-feira cotado a 19.59 centavos de dólar por libra-peso com anêmicos 2 pontos de variação em relação à sexta anterior.

O mercado físico de exportação está inerte enquanto os spreads no mercado futuro não dão a menor sinalização de que exista, por enquanto, qualquer preocupação com a disponibilidade de açúcar do Centro-Sul. A manutenção da enorme posição comprada dos fundos, que liquidaram apenas 12.000 lotes na semana, num mercado que parece estar se consolidando, é uma verdadeira incógnita. Há algumas conjecturas.

Um analista de commodities de NY fez uma observação sobre a recente correlação existente entre o mercado de açúcar e o de café. Naquele mercado os fundos se “descobriram” aumentando a posição comprada enquanto o mercado caia. Ooops. Ato contínuo, uma avalanche de liquidação por parte dos fundos nesta sexta-feira. Será que o açúcar vai se contaminar também com esse comportamento dos fundos?

Não dá para apostar nisso pois do lado de cá, no mercado de açúcar, as tradings estão ainda cobrindo suas posições vendidas a descoberto lambendo as feridas. Ou seja, quando os fundos vendem (liquidando) encontram ávidos compradores.

A queda do preço do barril do petróleo no mercado internacional não é uma notícia animadora para o setor sucroalcooleiro. O barril, após negociar no início de junho no preço mais alto desde novembro do ano passado, quando atingiu 52 dólares, despenca e negocia a 44 dólares por barril. Esse valor, se projetado para os próximos meses e considerando ainda que o real deve se apreciar em relação ao dólar com a saída definitiva da presidente Dilma Roussef, projeta o litro da gasolina C (contendo 27% de anidro) para o consumidor em R$ 2.8250 por litro e o hidratado para R$ 1.9800. Ou seja, com esse valor, teremos uma produção de açúcar quase no limite da capacidade de cristalização do Centro-Sul.

Em outras palavras, acredito que existe um teto para o preço do açúcar em NY em torno de 22.50-23.75 centavos de dólar por libra-peso que pode ser reduzido se o petróleo continuar pressionado. Se o preço alvo for em reais, a chance de uma fixação a R$ 1.600 por tonelada ser uma “fixação ruim” é exígua.

O preço do petróleo, nesse momento, é um dos pontos mais críticos na análise que pode ser feita para o médio prazo. Os fundamentos do açúcar continuam bastante sólidos para o médio e longo prazo calcados na correta percepção de que o crescimento do canavial para a safra 2017/2018 está comprometido por falta de investimentos enquanto o consumo mundial cresce a um ritmo mais rápido do que a produção mundial é capaz de acompanhar.

Por outro lado, a enorme defasagem que o preço da gasolina projeta para o final do ano abre espaço considerável para que o governo introduza a CIDE sem impactar o caixa da Petrobrás, neutralizando a defasagem (A gasolina na bomba – preço médio de SP - está acima mais ou menos 20% acima do mercado internacional).

Alguns números da moagem do Centro-Sul estão sendo revisados para baixo. Embora ainda estejamos na metade do período de moagem, números próximos a 600-610 milhões de toneladas podem neutralizar ou servir de contraponto para a questão do petróleo.

Ninguém pode dizer que 2016 não foi um ano de fortes emoções. E ainda faltam 162 dias para acabar.
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(Arnaldo Luiz Corrêa é diretor da Archer Consulting - Assessoria em Mercados de Futuros, Opções e Derivativos Ltda.)