Adubação sustentável
27-06-2014

Cada vez mais, produtores adotam a adubação verde para a obtenção de ganhos agronômicos e ambientais, que resultarão em maior lucratividade


Luciana Paiva
Na fazenda Continental, em Barretos, SP, a grande estrela é o gado da raça Brahman, o zebu mais criado no mundo. Os melhoristas da Continental trabalham para desenvolver uma seleção de animais precoces e funcionais, e o resultado tem sido alcançado, tanto que os touros da Brahmania/Continental ganharam a prova de ganho de peso a pasto da Associação Brasileira de Criadores de Zebu (ABCZ) em 2012 e novamente em 2013.
Os produtores ao redor do mundo valorizam o Brahman porque essa raça apresenta rusticidade (tolerância ao calor e resistência ao frio, a insetos e vermes); vigor híbrido em cruzamentos / desempenho e ganho (campo e confinamento); conformação frigorífica (rendimento); qualidade da carne (maciez / marmoreio); habilidade maternal e longevidade (anos de produção); docilidade e temperamento; beleza e singularidade. Enfim, um conjunto de características que somado ao melhoramento genético e tratos corretos, garantem a viabilidade econômica do negócio.
EXCELÊNCIA TAMBÉM NA CANA
A pecuária não é a única atividade da fazenda Continental, há também investimento na produção de cana. O segmento é outro, porém a gestão da Continental com foco na sustentabilidade se estende para a área de cana. São 2600 hectares destinados à cultura, com média de produtividade entre 96 e 100 toneladas, com idade do canavial em torno de 4,2 anos, números expressivos. Mas seus gestores querem ultrapassar a barreira dos 100 e manter a produtividade neste patamar, pois sabem que, quanto maior a quantidade de cana por hectare, mais o custo é diluído.
Para isso, intensificaram a adoção de novas práticas de cultivo, uma delas bem simples e já consagrada, mas que ainda tem espaço para crescer na agricultura brasileira: a fertilização verde. Há, dois anos, conta Rodrigo Pinto, gerente agrícola da Fazenda Continental, passaram a realizar rotação de cana com Crotalária-juncea nas áreas de renovação. Segundo Rodrigo, a escolha pela crotalária deveu-se aos benefícios agronômicos que possibilita, como grande produção de massa verde em pouco tempo (40 a 60 t/ha), que reverte em maior fixação de nitrogênio (300 a 400 kg/ha).
Sua produção de biomassa fornece suprimento de matéria orgânica, aumento da capacidade de armazenamento de água e recuperação de solos degradados. Seu sistema radicular profundo ajuda na descompactação, estruturação e aeração do solo e reciclagem de nutrientes lixiviados e liberação de fósforo fixado. Reduz o assoreamento de sulcos de plantio, evitando o replantio. Além disso, por ser uma leguminosa, quebra o ciclo de pragas que atacam a cana, que é uma gramínea.
MENOR CICLO E MANEJO DA CROTÁLARIA
Porém, Rodrigo observou, que o ponto que mais pesou na decisão de rotacionar com crotalária foi seu ciclo menor em comparação a outras opções de adubação verde. Na Continental, a crotalária foi plantada em setembro e em torno de 100 dias após o plantio já foi possível realizar o manejo da biomassa. O preparo de solo para as sementes da crotalária é o mesmo realizado para receber os toletes de cana. O plantio da semente pode ser em linha, feito com a máquina, ou a lanço, nesse caso é necessário que depois se incorpore a semente de forma leve e superficial.
Para o manejo da Crotalária-juncea o indicado é entrar com o rolo-faca que pica essa biomassa no tamanho de 20 a 30 centímetros, formando uma cobertura morta, aí faz a sulcação e entra plantando a cana. No caso do plantio direto, o trator entra sulcando, na máquina é colocado um tronco que deita a leguminosa e se faz a sulcação direta. No caso do plantio de cana mecanizado, o peso das plantadoras tombam facilmente a crotalária e a cana é plantada.
Em 2014, a Continental fará a sua primeira safra nas áreas de cana que foram rotacionadas com crotalária e aí terá os resultados de produtividade e poderá realizar um balanço sobre o desempenho dessa leguminosa no primeiro corte, mas os benefícios da adubação verde se estendem ao longo do tempo, aumentando a longevidade do canavial. Contribuindo para que o produtor atenda os critérios da agricultura sustentável que são: respeitar o meio ambiente, ser justa do ponto de vista social e ser economicamente viável. Conceito cada vez mais valorizado pelo mercado.