Adubação verde melhora o solo dos tabuleiros costeiros
30-06-2014

O sul de Alagoas apresenta uma topografia tão plana que é chamada de tabuleiro, propício para a mecanização da lavoura canavieira. Por outro lado, na região chove menos e os solos são mais pobres

Luciana Paiva

Um tapete; assim pode ser considerada a maioria das áreas canavieiras localizadas no sul de Alagoas, a topografia plana dos chamados tabuleiros costeiros é fundamental para a mecanização da cultura, condição que passou a ser essencial para a continuidade da atividade. No entanto, se a região oferece o benefício da topografia plana, apresenta como problemas a menor quantidade chuva e solo mais pobre, onde predomina o argissolo amarelo e argissolo acinzentado.
Por meio da irrigação, os produtores tentam compensar a falta de chuva e com o uso dos fertilizantes, o solo é enriquecido. Com o passar do tempo, os fertilizantes químicos ganharam o reforço dos subprodutos da cana como vinhaça e torta de filtro. Mas cabeça de pesquisador e dos profissionais do campo não para, por isso, acharam que a adoção de adubos verdes e técnicas agrícolas conservacionistas poderiam cooperar para e melhoria dos solos nos tabuleiros costeiros.
Assim, em 2005, pesquisadores da Embrapa em parceria com a Usina Triunfo, de Boca da Mata, e da Usina Coruripe, de Coruripe, ambas localizadas no sul de Alagoas, iniciaram uma pesquisa com rotação de cultura com leguminosas em áreas com cana cultivada nos tabuleiros costeiros. Na Usina Coruripe a área de renovação recebeu Crotalaria spectabilis, foi utilizada 18,5 kg de sementes por hectare, a semeadura foi por avião. A amostragem de parte aérea foi feita na
na floração, no ano de 2005, coletando-se cinco repetições de 0,20m² x 0,20m²
(0,45m x 0,45m).
Na Usina Triunfo a área em rotação com cana orgânica recebeu um coquetel de leguminosas (Crotalária spectabilis, Crotalaria juncea, Cajanus cajan, Canavalia ensiformes e Vignia unguiculata). Foram utilizados 40 kg de sementes por hectare, não inoculadas e semeadas por avião. Em seguida, foi passada uma grade leve para incorporação. A amostragem de parte aérea também foi feita na floração, no ano de 2006.

Como pode ser conferido nos dados mostrados nas imagens, a rotação com leguminosas foi eficiente no aporte de biomassa e de nutrientes ao sistema de produção da cana-de-açúcar, cultivada nos tabuleiros costeiros. Depois dessa experiência, a Coruripe adotou definitivamente a rotação de cultura com leguminosas, segundo Pedro Carnaúba, gerente agrícola, o aumento de produtividade no primeiro corte na área de renovação com crotalária é de 20 toneladas de cana em relação à área sem rotação de cultura.
Carnaúba explica que, na Coruripe, 90% da área de renovação de cana de 18 meses (reponde por 80% da cana plantada) recebe adubação verde, dos quais 500 hectares são destinados ao plantio de feijão-de-corda - para atender ao projeto social Prato Cheio, que distribui feijão à população carente -, o restante do campo é cultivado com crotalária. A cana ocupa 32 mil hectares e a renovação anual é entre 15 e 20%.

PLANTIO REDUZIDO
A partir da rotação de cultura com leguminosas, em 2005, a Coruripe iniciou a prática do cultivo mínimo, reduzindo as tradicionais operações, como gradagem. “Na época, quando adotamos esse sistema, disseram que a Coruripe estava quebrada, que não tinha dinheiro para realizar o preparo do solo. Mas não era nada disso, estávamos trocando o preparo convencional, por um manejo que melhora as características químicas e físicas do solo”, salienta Cícero Augusto Almeida, gerente Corporativo de Planejamento e Desenvolvimento Agrícola.
Nas áreas com crotalária a Coruripe realiza uma subsolagem e entra com o plantio da cana. A adoção da adubação verde aliado ao cultivo mínimo, declara Cícero, proporciona comprovadas melhorias nas condições de fertilidade do solo, é eficiente alternativa em acumular matéria orgânica no solo e contribuir para o sequestro do CO2 atmosférico em solos agrícolas e, portanto, para a melhoria da qualidade ambiental.
No médio e longo prazo, o sistema favorece o maior acúmulo de palha na superfície do solo, menor desagregação do solo, maior retenção de água, maiores taxas de infiltração de água no solo, redução superior a 99% nas perdas de solo e 94% nas perdas de água, menores temperaturas máximas e flutuação térmica do solo, menor evaporação da água do solo, maior economia de água de irrigação em torno de 14%, em relação ao preparo convencional com o solo descoberto, além de proporcionar redução no número de operações, tempo disponível de pessoal e equipamentos envolvidos, custos em aproximadamente 40% em comparação com o convencional e ainda pode aumentar a produtividade.
COOPERATIVA PINDORAMA TAMBÉM ADOTA A CROTÁRIA
Vizinha da Usina Coruripe, a Cooperativa Pindorama também adotou a rotação de cultura, utilizando a crotalária como melhorador de solo no período da entressafra da cana. A leguminosa atua como um subsolador natural, suas raízes atingem a profundidade de quase 1 metro, descompactando o solo. Outro objetivo da Pindorama é reduzir a presença dos nematoides (pragas do solo).