Afinal, como Dilma vai tirar o Brasil do marasmo?
18-11-2014

No encontro com outros chefes de Estado do G-20 em Brisbane, na Austrália, no último final de semana, Dilma Roussef, reeleita no mês passado para um segundo mandato de quatro anos como presidente do Brasil, teve pouco do que se gabar além da (apertada) vitória nas urnas.

Cada dia parece trazer mais evidências da bagunça que ela deixou para si mesma. Dados oficiais divulgados nas três semanas mais recentes apontam para um déficit orçamentário cada vez maior, queda na produção industrial e aumento da pobreza.

Até o mercado de trabalho, que até recentemente era fonte constante de boas notícias, com o desemprego próximo da mínimo histórico de 5%, começa a dar sinais de fraqueza. Na semana passada, os números mostraram uma perda líquida de 30 mil postos de trabalho em outubro, o pior resultado para o mês desde 1999, frustrando a expectativa do mercado, que esperava a criação de 56 mil empregos.

Dias antes teve início uma disputa envolvendo uma lei enviada ao congresso que, na prática, permitiria a Dilma transformar em déficit um excedente fiscal primário (antes do pagamento de juros) de 1,9% do PIB prometido no orçamento de 2014.

Como o balanço primário mostrou um buraco equivalente a 0,5% do PIB nos nove primeiros meses do ano (por causa do excesso de gastos antes da eleição), o governo estava simplesmente reconhecendo a realidade. A oposição aproveitou a oportunidade para acusar Dilma de incontinência fiscal e retenção dos dados. Alguns ameaçaram contestar essa manobra orçamentária na suprema corte.

Se isso não bastasse, no dia 14 de novembro a polícia federal reuniu dúzias de suspeitos envolvidos numa investigação de corrupção dentro da Petrobrás, a gigante estatal do petróleo, implicando o Partido dos Trabalhadores (PT, de Dilma) e outros partidos da sua coalizão. Estavam entre eles um ex-diretor da Petrobrás, bem como os executivos de várias grandes empresas de construção donas de contratos avaliados em R$ 56 bilhões de reais (US$ 21,5 bilhões) com ela; R$ 720 milhões de reais em ativos foram congelados.

A apreensão dos suspeitos ocorreu um dia após a Petrobrás ter dito que, em decorrência da investigação, adiaria em um mês a divulgação de seus resultados para o trimestre, esperados para a manhã seguinte (na semana passada veio à tona que as autoridades americanas também estão analisando o caso porque algumas ações da Petrobras são negociadas em Nova York).

Como seria de se esperar, o mercado de ações despencou; o diretor da bolsa de valores, Edemir Pinto, declarou abertamente temer que o escândalo prejudicasse a reputação da bolsa de valores brasileira. O dólar chegou ao valor mais alto em nove anos diante do real.

Com manchetes como essas não surpreende que os analistas, depois de terem cortado para quase zero as projeções de crescimento para 2014, estão ocupados revisando para baixo as projeções para o ano seguinte.

Arthur Carvalho, do banco Morgan Stanley, espera agora uma contração de 0,3% na produção em 2015; um mês atrás, ele calculava que a produção teria aumento da mesma ordem.

Para preservar sua celebrada classificação de crédito, o governo terá que reduzir os gastos para produzir um excedente primário de pelo menos 1% do PIB, diz ele. Se acrescentarmos uma política monetária de aperto (para conter a inflação de 6,5%) e o desânimo entre os empresários, fica difícil enxergar de onde o crescimento poderia vir, diz ele.

Entre as 20 maiores economias do mundo representadas em Brisbane, apenas Itália e Argentina têm crescimento econômico inferior ao brasileiro este ano. De acordo com o Morgan Stanley, no ano seguinte apenas a Rússia terá crescimento abaixo do brasileiro.

Muitas das maiores empresas brasileiras divulgaram os dados do seu rendimento trimestral essa semana, incluindo a mineradora Vale, e a siderúrgica Gerdau disse que ficaria abaixo de sua meta de investimento esse ano conforme se prepara para uma queda na demanda. Executivos se queixam da incerteza e das políticas econômicas erráticas.

A presidente está recebendo queixas até mesmo de seus aliados. Essa semana, Gilberto Carvalho, que comanda o gabinete de Dilma (mas também pode estar de saída), disse que o governo "fez pouco para atender" às demandas sociais, como a reforma agrária e os direitos indígenas.

Numa carta de renúncia, uma das cinco que a presidente recebeu essa semana, a ministra da cultura, filiada ao PT, implorou a ela que escolhesse uma equipe econômica "comprometida com uma nova pauta de estabilidade e crescimento para o país", além de "restaurar a confiança e a credibilidade".

Não ajuda a decisão de Dilma de não revelar quem estará nessa - dúvida que pode permanecer até dezembro. Muitos acreditam que qualquer nome seria melhor do que o de Guido Mantega, atual ministro das finanças, já de saída.

Mas os céticos apontam que o surto de interferência microeconômica e o déficit da prudência monetária e fiscal que caracterizaram os quatro anos mais recentes não foram obra de Mantega; teriam sido ditados de cima. Se assim for, nem um ministro mais favorável aos negócios poderia garantir mudanças genuínas. Levando-se em consideração o caminho acidentado pela frente, não está claro por que alguém desejaria esse cargo.