Agricultura de precisão ressuscita o plantio pelo sistema de Meiosi
29-08-2019

Os ganhos com a Meiosi ficam ainda mais consistentes se a cana da linha mãe for colhida e plantada manualmente
O sistema de Meiosi (Método Interrotacional Ocorrendo Simultaneamente) foi desenvolvido por pesquisadores da UNESP de Jaboticabal, SP, na década de 1980. O método consiste em intercalar lavouras de interesse agronômico (crotalária) e econômico (amendoim e soja, principalmente) com o canavial para reduzir custos de implantação, melhorar o sistema de logística e o local de cultivo (condições químicas, físicas, biota e microbiota do solo). Além disso, o sistema protege o solo contra erosão no período de renovação do canavial.
Com o avanço da colheita mecanizada, ficou inviável a aplicação da Meiosi porque é necessário o paralelismo entre as linhas. Sem um sistema de posicionamento, fica difícil saber exatamente onde entrar com a colhedora. Assim, a Meiosi ficou meio deixada e lado. Mas a disseminação da agricultura de precisão, do GPS, veio possibilitar a aplicação do plantio de Meiosi sem criar problemas de alinhamento da colhedora.
Uma vez a Meiosi viabilizada, o setor viu nesta prática a possibilidade de melhorar o desempenho do plantio de cana. Com isso, a adoção do método está em franca expansão na formação dos canaviais. Por meio desse sistema, planta-se os toletes ou muda pré-brotada (MPB) numa linha (chamada de "linha-mãe") e, em torno de nove meses depois (depende da variedade e se for tolete ou MPB) essa cana é cortada, manualmente, ou com máquina (depende do tamanho da área) e é “deitada” nas linhas paralelas à “linha-mãe”, no solo onde foi cultivada a cultura intercalar. O novo canavial será formado sem a necessidade de transportar a cana-muda de longas distâncias até o local de renovação de área, com menos abalo às gemas e em um solo mais vitaminado e com menos pragas de solo, reflexo da rotação de cultura.
No sistema de Meiosi, a cana proveniente da linha-mãe é tombada nas linhas onde estavam a cultura intercalar |
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Crédito: CanaOnline |
Em relação ao crescimento do plantio de cana com Meiosi, Dib Nunes Jr, presidente do IDEA, observa se tratar de uma operação que permite ao setor produzir grãos, trazendo ganhos agronômicos e até financeiro, e que por isso vai se manter no setor. No entanto, nem todas as áreas é possível fazer Meiosi, que também exige grande planejamento, mudas na hora certa e liberação antecipada de áreas. Além disso, já há quem esteja mecanizando o plantio mesmo em áreas com Meiosi. “A cana-muda é colhida, passada para a plantadora que vai preenchendo as linhas onde estavam os grãos. Sem a necessidade de mão de obra.”
MEIOSI, MPB, PLANTIO DA “LINHA-MÃE” COM MATRACA, COLHEITA MANUAL E PLANTIO MANUAL DA DESDOBRA
Plantio da linha-mãe com MPB utilizando a matraca |
Crédito: CanaOnline |
Os ganhos com a Meiosi ficam ainda mais consistentes se a cana da linha mãe for colhida e plantada manualmente. E é o que usinas e muitos produtores têm feito. E se a “linha-mãe” for formada com muda pré-brotada (MPB), o retorno é maior ainda. Ismael Perina Júnior, um dos proprietários da fazenda Belo Horizonte, em Jaboticabal, SP, é o pioneiro na adoção do sistema MPB-Meiosi. Iniciou em 2013, implantando 2 linhas de cana e 8 de amendoim, com espaçamento de 50 cm entre as mudas. Hoje o processo de MPB-Meiosi na Fazenda Belo Horizonte já evoluiu para 1 linha de cana para 40 linhas intercalares, com espaçamento de 60 cm entre uma MPB e outra.
Mas Ismael dá como exemplo o resultado de o plantio de 1x20 linhas, com 10 sulcos de cada lado e espaçamento entre as mudas de 60 cm. “Nessa área de 2017, as linhas de cana receberam as mudas pré-brotadas AgMusa™ BASF que foram plantadas em 13 de julho, e são da variedade CTC 9005 HP. – o plantio da MPB pode ser feito com matraca, ou para áreas acima de cinco hectares, para o plantio de AgMusa™, a BASF realiza o plantio com máquina. É fundamental que haja irrigação logo após o plantio da muda”, alerta o produtor.
Cana-muda suficiente para cobrir de 30 a 32 linhas e ainda sobra para fornecer para a usina |
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Crédito: CanaOnline |
O amendoim, plantado no começo de novembro, foi colhido em março, e logo após foi feita a desdobra da linha de cana que cobriu 20 linhas. A colheita da “linha-mãe” e o plantio foram manuais, e utilizou-se em torno de 4,5 toneladas de cana-muda por hectare – bem diferente das 20 toneladas utilizadas por muitas usinas ao realizarem o plantio mecânico. “Isso gera economia em torno de 2 mil a 2,5 mil reais por hectare. Só na operação de plantio”, salienta Ismael. Além, disso, ainda sobra cana, que irá para a usina. “Essa linha de cana tem condição de saída de 1x20 linhas, mas produz cana-muda suficiente para cobrir de 30 a 32 linhas, é que cada touceira tem entre 22 a 25 colmos viáveis, o que resulta em mais de 2 milhões de gemas por hectare, e na multiplicação o que importa é a gema.”
O sistema MPB permite alcançar aumento de eficiência e ganho econômico na implantação de viveiros, replantio de áreas comerciais e expansão e renovação de áreas plantadas de cana-de-açúcar. Entretanto, para a implantação do sistema em grande escala, ainda não é viável, exige, por exemplo, irrigação para o pegamento das mudas, transplantadoras mais eficientes, que cobrem mais linhas simultaneamente, e, para muitos, o custo da muda ainda é alto.
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