Agro Cana Caiana usa caminhão como transbordo e desenvolve sua própria tecnologia de direção autônoma
15-04-2019

Caminhão Axor 3131 com direção autônoma nos canaviais da Agro Cana Caiana
Caminhão Axor 3131 com direção autônoma nos canaviais da Agro Cana Caiana

Caminhão fora de estrada já opera 24 horas por dia na colheita da cana no interior de São Paulo

Leonardo Ruiz

Há mais de 50 anos na produção de cana-de-açúcar, a Agro Cana Caiana é uma empresa familiar que atua na região de Lençóis Paulista. Com uma área de 5500 hectares, fornece matéria-prima para a unidade Barra Grande, do grupo Zilor. Na safra 2017/18, a produtividade agrícola dos canaviais fechou em 116,8 toneladas de cana por hectare (TCH) numa média de 3,7 cortes.

O grande trunfo da empresa para essa alta produção é o controle de tráfego. Na Agro Cana Caiana, a colheita mecanizada de cana crua é realizada com caminhões transbordo e não com tratores, como é comum no setor sucroenergético nacional. A solução, segundo os sócios-proprietários da empresa, Mateus e Henrique Belei, além de reduzir o pisoteio das linhas de cana e aumentar a produtividade, agiliza o processo de transbordo dentro das fazendas, diminui o consumo de combustível e acarreta menor custo operacional.

Mateus conta que a ideia de “devolver” o caminhão a atividade da cana surgiu em 2007, quando começou a mecanização da colheita na fazenda. Logo de início, foram instalados pilotos automáticos nos tratores que puxavam os transbordos canavieiros. Mas, por conta da topografia acidentada dos talhões, a tecnologia não fazia muito sentido. O trator andava corretamente na linha enquanto o transbordo, devido a suas articulações e bitolas impossíveis de serem ajustadas, andava “torto”.

“Naquela época, possuíamos um caminhão que ficava ocioso durante a maior parte do ano. Pensamos em ajustar esse veículo para que ele também pudesse trabalhar na lavoura. O problema era ajustar a bitola e integrar o piloto automático”, explica.

Irmão de Mateus, Henrique Belei, formado em engenharia agronômica, mas com paixão pela engenharia mecânica, se propôs a resolver a questão. Durante três anos, estudou a anatomia do veículo, juntou peças daqui e dali, fez adaptações nas caixas de direção e ajustes nas bitolas e instalou sistemas de GPS. Por fim, havia criado sua própria tecnologia de direção autônoma. “Em 2013, o veículo já estava operando na colheita mecanizada de cana crua na propriedade. Hoje, esse protótipo está com mais de seis mil horas trabalhadas, totalizando quase duas safras e meia de excelentes resultados.”

Mateus conta que a ideia de “devolver” o caminhão a atividade da cana surgiu em 2007, quando começou a mecanização da colheita na fazenda

O sucesso foi tão grande que a mesma engenharia começou a ser aplicada nos demais caminhões da empresa, que foram gradativamente substituindo os transbordos na colheita da cana. Hoje, a Agro Cana Caiana conta com quatro colhedoras e seis caminhões transbordos. Todos com bitolas ajustadas, GPS e dotados de direção autônoma. “Não é um veículo totalmente autônomo, pois ainda exige a presença de um operador dentro da cabine, que será como seu escritório, de onde ele irá monitorar os indicadores e fazer ajustes quando necessário. A parte mais pesada será as manobras de cabeceira e o tráfego na estrada. Operações que, no futuro, também deverão ser feitas de forma autônoma”, afirma Mateus Belei.

Ele destaca que, no início, a introdução da tecnologia de direção autônoma buscava puramente o aumento da produtividade por meio de um controle mais rigoroso do tráfego. Porém, o projeto trouxe inúmeros outros benefícios, como 50% de redução no consumo de combustível, 40% a menos no consumo de lubrificantes e 30% a menos no custo de reparo e manutenção. Além disso, ele eliminava os erros por falha humana e permitia uma rápida retomada da operação após as chuvas.

Mateus Belei explica que a direção autônoma em seus caminhões difere do encontrado no mercado. “Enquanto a grande maioria instala um piloto elétrico ou um orbitrol no volante, optamos por manter a caixa de direção do equipamento, fazendo apenas um sistema hidráulico em paralelo a ela.”

Como benefício principal, ele destaca a possibilidade de trabalhar com maiores volumes de carga. “O piloto elétrico é limitado. Acima de 14 toneladas, começa a perder qualidade no controle de tráfego. O nosso equipamento consegue transportar até 20 toneladas, pois não faria sentido abandonar os transbordos se a capacidade de carga fosse inferior.”

Por fim, os sócios-proprietários explicam que todas as rotas que o caminhão irá percorrer são criadas em computadores por meio de georreferenciamento. “Com precisão de centímetros, o veículo só circulará por onde o sistema indica, aumentando assim a produtividade da operação. Com uma bitola maior, de até 3 metros, o caminhão opera sem passar por cima das áreas de plantio, preservando o solo e os brotos das futuras plantas.”

Fonte CanaOnline