Agtechs: EUA vão investir R$ 41 bilhões nos próximos cinco anos
02-03-2022

Pavilhão de Sustentabilidade na ExpoDubai. AFP_GETTY IMAGES
Pavilhão de Sustentabilidade na ExpoDubai. AFP_GETTY IMAGES

Tom Vilsack, secretário de agricultura dos EUA, disse à Forbes que grande parte irá para tecnologias emergentes.

Por Ollie A Williams

Uma iniciativa global liderada pelos EUA e pelos Emirados Árabes Unidos para tornar a agricultura mais limpa vai investir US$ 8 bilhões (R$ 41 bilhões na cotação de ontem, 28), em tecnologia agrícola, as agtechs.

Presidindo a primeira reunião ministerial da Missão de Inovação Agrícola para o Clima (AIM for Climate), em Dubai, na segunda (21 de fevereiro), o secretário de Agricultura dos EUA, Tom Vilsack, disse que grande parte do financiamento será destinado a áreas de ponta de “agritech”, como “nanotecnologias, biotecnologias, robótica e IA”.

“Parte disso pode ir para tecnologias emergentes. A noção de agricultura de precisão, desde sensores e drones até entender especificamente cada acre ou hectare de terra e o que precisa e o que não precisa, pode, por sua vez, reduzir os insumos e a pegada de carbono desses insumos”, disse Vilsack à Forbes .

Além de dobrar o compromisso de financiamento de US$ 4 bilhões para US$ 8 bilhões, a AIM anunciou que outros seis países (Chile, Costa Rica, Egito, Guiana, Moçambique e Turquia) aderiram à iniciativa que já conta com 140 parceiros governamentais e não governamentais, tornando-se o principal esforço do mundo para limpar a agricultura.

A agricultura contribui com 8,5% de todas as emissões de gases de efeito estufa e 40% das emissões globais de metano a cada ano. A AIM quer reduzir essas emissões abordando as áreas mais nocivas da agricultura.

Além das emissões de metano, há três áreas principais da agricultura que a AIM quer limpar, diz David Livingston, conselheiro sênior de John Kerry, o enviado especial presidencial do Estados Unidos para o clima. Isso inclui tecnologias emergentes, inovações de pequenos agricultores e pesquisa agroecológica, “ou o que algumas pessoas chamam de agricultura regenerativa”.

O programa terá a duração de cinco anos (2021-2025). “Acho que uma coisa que torna esta iniciativa bastante única é que não é uma iniciativa aberta. Não é uma nova instituição que existe apenas para criar uma nova instituição”, diz Livingston. “Acho que ao definir essa linha do tempo, você realmente cria um senso extra de urgência, um senso extra de foco.”

Correndo para a COP27

Kerry visitou o Egito na semana passada para discutir a próxima cúpula da COP27 em novembro, onde a AIM for Climate espera lançar sprints de inovação em quatro áreas focais: pequenos agricultores em países de baixa e média renda, redução de metano, tecnologias emergentes e pesquisa agroecológica.

Alguns “sprints” já estão em andamento. A IBM, por exemplo, prometeu US$ 10 milhões para organizações que promovem a agricultura sustentável. Uma organização, a Plan21, ajuda pequenos agricultores na América Latina.

A IBM já forneceu à organização financiamento e seus poderosos dados de previsão do tempo. “Ao fornecer essas previsões meteorológicas, podemos aumentar a produtividade, o rendimento das colheitas e a renda desses pequenos agricultores”, diz Justina Nixon-Saintil, vice-presidente e chefe global de responsabilidade social corporativa da IBM.

“Além disso, os agricultores poderão mostrar suas certificações de sustentabilidade e credenciais para suas culturas.”

Em outro sprint, a Fundação Bill e Melinda Gates destinou US$ 40 milhões para financiar bancos de genes e o acesso dos agricultores a sementes que possuem resiliência incorporada a um clima em mudança.

“Os agricultores precisam mudar as variedades de sementes que usam de tempos em tempos”, diz Enock Chikava, diretor interino de desenvolvimento agrícola da Fundação Bill e Melinda Gates.

Agricultura Vertical, Aeroponia e Aquicultura

Ausentes da iniciativa AIM for Climate estão alguns dos maiores produtores de alimentos da Ásia: Rússia, Índia e China. Muitos dos signatários da AIM são importadores líquidos de alimentos, incluindo os Emirados Árabes Unidos, que gastaram mais de US$ 1,1 bilhão em produtos agrícolas dos EUA em 2021.

“Quando você está importando 80% de seus alimentos e o clima coloca em risco a capacidade desses 80% de serem produzidos, você está muito interessado em garantir que o fornecimento continue”, diz Vilsack.

Mas os Emirados Árabes Unidos querem garantir seu suprimento de alimentos de outras maneiras. Atualmente, o país está investindo grandes quantias em agrotecnologia e aquicultura, diz James Lewis, diretor administrativo da Knight Frank no Oriente Médio e na África.

A Fish Farm, com sede em Dubai, lançada em 2013, produziu 600 toneladas de salmão em 2020, chegando a 1.000 toneladas em 2021. Nas proximidades, Abu Dhabi está investindo US$ 100 milhões em quatro empresas de agrotecnologia, o primeiro estágio de um programa maior de apoio à agrotecnologia de US$ 272 milhões.

É improvável que os Emirados Árabes Unidos venham a ser autossuficientes em alimentos, mas, ao turbinar sua indústria de agrotecnologia, pode ser capaz de chegar até lá e reduzir suas emissões no processo. “Realmente é preciso que todos façam alguma coisa, façam o que são capazes de fazer”, diz Vilsack.

*Ollie A Williams é jornalista colaborador da Forbes EUA e há uma década cobre histórias de negócios em todo o mundo.

Fonte: Forbes