Ainda subaproveitada, geração de energia por biomassa é discutida no Paraná
28-06-2019

No congresso, foram debatidos temas como produção e exportação de biomassa, novas tecnologias e aspectos técnicos e estratégicos para a geração de energia
No congresso, foram debatidos temas como produção e exportação de biomassa, novas tecnologias e aspectos técnicos e estratégicos para a geração de energia

Congresso internacional reuniu pesquisadores, instituições científicas e empresas em Pinhais. Para especialistas, fonte tem grande potencial no país, mas depende de incentivos e de retomada econômica

Rafael Costa - Grupo Folha

Com tecnologias cada vez mais eficientes para a geração a partir de diferentes tipos de materiais, a fazenda que gera sua própria energia com resíduos de sua produção também se tornou cada vez mais viável. A chamada biomassa, também gerada no setor florestal e nas cidades, responde por cerca de 8,55% da matriz da energia elétrica do Brasil, segundo a Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica). O crescimento desta fonte energética, contudo, depende de investimentos dos produtores — o que só deve ganhar força com a retomada econômica do país.

Estes foram alguns dos apontamentos de especialistas ouvidos pela FOLHA no Cibio (Congresso Internacional de Biomassa), que aconteceu entre os dias 25 e 27 em Pinhais, na Região Metropolitana de Curitiba.

O evento reuniu cerca de 2,5 mil pessoas — incluindo 140 especialistas, que falaram sobre temas como produção e exportação de biomassa, novas tecnologias e aspectos técnicos e estratégicos para a geração de energia.

“As energias renováveis têm de crescer na matriz energética brasileira e, hoje, a biomassa é a principal”, explica o professor Dimas Agostinho da Silva, que coordena o Laboratório de Energia de Biomassa (LEB) do Departamento de Engenharia e Tecnologia Florestal da UFPR e é presidente de honra do Cibio.

“Cada dia mais há uma massa crítica que está levando a uma maior utilização da biomassa em áreas em que ela não era usada. Tem gente investindo e buscando negócios na área”, conta.

Além de positiva do ponto de vista do impacto ambiental, a biomassa oferece vantagens econômicas para produtores, conforme explica o pesquisador da Embrapa Territorial, José Dilcio Rocha — um dos palestrantes e mediadores das dezenas de palestras do evento.

“Um produtor de uma granja, por exemplo, pode usar o biogás feito a partir do esterco dos animais para aquecê-la, criando sinergia dentro da própria propriedade”, diz.

Segundo o pesquisador, o Brasil tem um setor de energia renovável importante e o Paraná, por sua grande importância no setor agropecuário, pode se beneficiar.

“Há grandes possibilidades para a produção destes biocombustíveis. Temos muito o que crescer”, diz Dilcio. “Bioenergia é a nossa praia.”

Outro dos nomes presentes no evento, Eduardo Saboia, diretor da consultoria Agrofácil, explica que a geração de energia a partir da biomassa também tende a se tornar uma necessidade. Ele explica que os custos de produção estão cada vez maiores, sem que haja um acompanhamento dos preços das commodities, o que gera pressão por redução de custos.

“O uso do potencial da biomassa, hoje, ainda está em um estágio inicial, mas a curva tende a ser exponencial”, diz. “O novo contexto do agronegócio impõe a necessidade de reorganização e implementação de novos modelos de negócio. E isso inclui a necessidade de fontes de energia alternativas sustentáveis para supri-los”, diz — mencionando, ainda, a possibilidade de a biomassa ser utilizada para abastecer o meio urbano.

“Toda matéria orgânica não utilizada pode ser queimada para se produzir biometano, que poderá ser utilizada em veículos, na sede da fazenda ou qualquer processo que demande energia”, explica.

Juntamente com o congresso, o evento incluiu a feira Expobiomassa, com representantes de toda a cadeia de produção de energia — desde trituradores de madeira para a produção de pellets até turbinas para a geração de energia.

Na avaliação de Dilcio, a feira reuniu uma parcela representativa do segmento, mas também refletiu o momento de estagnação econômica do país, com uma movimentação menor do que o desejado.

“Precisamos de uma retomada de crescimento, porque tudo o que se está vendo aqui é investimento, é custo. Quem vai gastar nesta situação?”, questiona o pesquisador.

“A roda tem que girar mais rapidamente. Estamos aqui justamente para tentar acelerar esse processo de crescimento”, diz.

Brasil precisa de uma política para energias renováveis, diz professor

O professor de Engenharia Florestal da UFPR Dimas Agostinho da Silva diz que a biomassa tem uma série de atributos que fazem desta fonte renovável uma boa alternativa para a perspectiva de aumento da necessidade energética do Brasil.

Ele diz que, diferentemente da energia eólica e da solar, que estão sujeitas a variáveis como as estações do ano, a biomassa permite uma produção constante — o que é fundamental no processo industrial.

Silva diz que o crescimento do país e o surgimento de novas demandas por energia, como os veículos elétricos, obrigarão o Brasil a desenvolver este tipo de fonte energética.

“Mas nós não temos uma política de biomassa”, explica — apontando que a geração pode se tornar um importante fator de renda para produtores.

Na avaliação do professor, a falta de incentivos faz com que geradores deixem de produzir quantidades maiores de energia e biomassa para evitar a tributação, por exemplo.

“Existe uma trava por falta de segurança”, avalia. “Temos de buscar uma política para a as energias renováveis.”