Alta da nafta pode paralisar petroquímicas
19-08-2014

A Braskem pode paralisar total ou parcialmente duas fábricas nas próximas semanas se não chegar a acordo com sua fornecedora de nafta, a Petrobras. Isso significaria uma redução de 35% na produção de derivados petroquímicos no país, atingindo vários setores consumidores.

A Petrobras pede reajuste de 5% a 10% no preço da nafta para compensar custos logísticos. A estatal elevou a importação do produto, porque está privilegiando a fabricação de gasolina localmente.

O objetivo da petroleira é minimizar o prejuízo provocado pela política do governo de não reajustar a gasolina para conter a inflação. Os preços de outros derivados, como a nafta, não são administrados pelo governo.

Carlos Fadigas, presidente da Braskem, confirmou à Folha que pode haver paralisação. "Sim, há essa possibilidade, mas estamos empenhados em encontrar uma solução para garantir matéria-prima competitiva para o setor."

Procurada, a Petrobras não ligou de volta.


Os afetados

Segundo apurou a reportagem, as linhas de produção que podem ser paralisadas são as mais antigas: a fábrica de Mauá (SP) e metade da produção de Camaçari (BA).

Na unidade de Mauá, que começou a operar em 1972 e é o berço da indústria petroquímica no país, seriam duas dezenas de clientes afetados nas indústrias têxtil (nylon), automotiva, linha branca e tintas, entre outros.

Em Camaçari, sofreriam o impacto as indústrias de pneus, solventes, borracha, acrílicos e fertilizantes.

Conforme estudo feito pela LCA Consultores, a pedido da Abiquim (Associação Brasileira da Indústria Química), a paralisação dessas linhas de produção geraria um efeito em cascata no setor, provocando uma perda de R$ 13,1 bilhões de receita anual.

Também poderia significar a demissão de 73,4 mil trabalhadores, entre vagas diretas e indiretas. O impacto no PIB poderia chegar a -0,1%.


Intervenção?

Segundo a Folha apurou, por causa dos impactos na economia, existe uma chance de o governo intervir na briga entre as duas empresas. Os contatos estão concentrados no ministro Guido Mantega (Fazenda), mas também já foram avisados sindicatos, deputados e os governadores de São Paulo e da Bahia.

A visão é que o governo federal teria responsabilidade de desatar o nó que ajudou a criar ao drenar a capacidade financeira da Petrobras para manter o preço da gasolina relativamente estável. Mantega é presidente do conselho da estatal.

O tempo é curto, e as negociações entre as duas gigantes não avançam. O embate começou no inicio do ano passado e, em fevereiro deste ano, o contrato de R$ 14 bilhões de fornecimento de nafta foi prorrogado por seis meses --expirará em 15 dias.

Os executivos da Braskem já fizeram as contas: se a Petrobras aplicar a partir de setembro os reajustes que pleiteia, não valerá a pena operar com prejuízo. A reportagem apurou que a companhia teria apenas algumas semanas para interromper as atividades das duas plantas.

Raquel Landim