Alto custo impede biogás de cana
01-12-2021

Estado produziu 74 milhões de toneladas de cana-de-açúcar somente neste ano, aponta Seapa | Crédito: Divulgação
Estado produziu 74 milhões de toneladas de cana-de-açúcar somente neste ano, aponta Seapa | Crédito: Divulgação

A diversificação da matriz energética é ponto de consenso em todos os setores econômicos no mundo. Uma das várias contribuições que o agronegócio pode dar nesse sentido é a produção de biogás aproveitando rejeitos da moagem de cana- de-açúcar. Minas Gerais é o segundo maior produtor de cana do País, o que insere o Estado entre os grandes potenciais geradores de biogás do Brasil. Para a Associação das Indústrias Sucroenergéticas de Minas Gerais (Siamig), o momento atual – em termos de tecnologias existentes e discussões sobre o tema

– é propício para dar o start na geração do energético no Estado. Porém, os custos elevados para a construção de usinas ainda são desafios difíceis de transpor. 

Conforme dados da Secretaria de Estado de Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Seapa), somente neste ano já foram produzidas mais de 74 milhões de toneladas de cana-de-açúcar em território mineiro. No entanto, apesar da grande quantidade, o Estado ainda não conta com uma usina de produção de biogás e biometano a partir dos subprodutos da cana. 

Sem mencionar números, o presidente da Siamig, Mário Campos, explicou que essa possibilidade de produção de biogás é relativamente nova para o setor, mas pode trazer benefícios para toda a indústria sucroenergética, além do próprio papel de atuar no sentido da descarbonização das atividades da indústria sucroenergética e de fornecimento de energia.

“Este é o momento adequado para os investimentos na criação de usinas de produção de biogás, porque temos muitas discussões e contribuições sobre o assunto. Mas temos uma realidade no Brasil na qual as coisas estão caras, e você precisa de aço para a construção de usinas. O câmbio também prejudica a importação de alguns equipamentos que são necessários para a construção”, afirma Campos.

Apesar dos desafios, o presidente da Siamig afirmou que este é um processo natural que acontece no desenvolvimento de novos produtos na indústria. Mário Campos lembrou por exemplo que, no passado, a cana-de-açúcar era explorada apenas para a produção do açúcar, mas que esse cenário mudou ao longo dos anos com o apogeu da fabricação do etanol, entre as décadas de 1970 e 1980. Segundo ele, isso demonstra que essas evoluções na indústria resultam de movimentos favoráveis à diversificação da matriz energética.

O avanço da legislação, paralelamente aos estudos feitos no campo das energias alternativas, também pode incentivar a criação de usinas no Estado. Conforme pontuou Mário Campos, no início do ano, o governador de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), sancionou a Lei Nº 23.762.

A legislação reduz em até 0% tributos cobrados sobre a energia gerada a partir de fontes renováveis, como já acontece com a energia solar fotovoltaica. Para ter efeitos práticos, é necessária, ainda, autorização do Conselho Nacional de Política Fazendária (Confaz).

A riqueza do biogás

A produção de biogás pode significar para a indústria sucroenergética vantagens econômicas. Mas não é só. Conforme enfatizou Mário Campos, pode agregar valor à indústria, trazendo o conceito de economia circular, e descarbonizar os processos produtivos, ações que favorecem à conquista de certificados de neutralidade do carbono.

Entre as possibilidades de transformação dos subprodutos da cana-de-açúcar está a produção de energia elétrica. A conversão do biogás em energia elétrica é realizada por meio de um biodigestor. Nele, o material orgânico que resta da cana, podendo ser a vinhaça ou a torta de filtro, sofrem a ação de bactérias, responsáveis pela geração do biogás. A decomposição dessa energia química, resultante do processo citado anteriormente, transforma-se em energia mecânica. Quando ligada a um gerador, a energia é, por fim, transformada em energia elétrica.

Em Minas Gerais, apesar de não haver projetos de geração com a cana-de-açúcar, alguns produtores rurais já utilizam rejeitos de rebanhos para a geração de biogás que abastece o consumo próprio de propriedades.

Mas em São Paulo já existe uma empresa que utiliza o biogás advindo dos resíduos da cana-de-açúcar para a geração e exportação de energia elétrica. Esse é apenas um dos usos possíveis para o biogás.

O presidente da Siamig ressaltou que, se purificado, o biogás pode ser utilizado para o abastecimento de frotas de veículos. “As atividades da indústria canavieira são muito mecanizadas e demandantes de diesel. Então você teria ganhos econômicos e ambientais utilizando o biometano (gás obtido por meio do biogás). Por fim, uma terceira possibilidade de uso seria o abastecimento de uma indústria com o biogás”, sugeriu Campos.

Carcaça de peixe vira ração e óleo

Há um ditado popular que diz que do boi só não se aproveita o berro. E realmente, além da carne, temos o couro usado na indústria de confecção e os ossos transformados em farinha que será utilizada na fabricação de ração para animais. No caso dos pescados não é diferente. O que sobra após a retirada de toda a carne da carcaça do peixe também é aproveitada como farinha para ração, além do óleo que pode ser consumido como matéria-prima para biodiesel, alimentação animal, entre outros.

Atualmente, estudos mostram que os restos orgânicos de pescado podem ser transformados em poliuretano, um polímero que forma um material sólido com textura muito similar à espuma. Ele pode ser usado na produção de espumas para colchões, travesseiros, assentos de automóveis, isolantes térmicos e acústicos, na produção de fibras, vedações, preservativos, calçados, dentre tantos outros produtos.

Segundo a Associação Brasileira de Reciclagem Animal-Abra, o Brasil produz cerca de 200 mil toneladas de sobras de peixes por ano que serão usadas como matéria-prima para as indústrias de reciclagem de pescado. Ou seja, toneladas de resíduos de pescados que iriam para os aterros sanitários ou lixões estão sendo coletados e processados por diversas empresas especializadas.

Pioneirismo na reciclagem – Clênio Gonçalves, presidente do Grupo Patense, lembra que essa preocupação em reciclar as sobras de animais não era comum em 1970, quando fundaram a primeira empresa em Patos de Minas, Minas Gerais.

“Inicialmente, utilizávamos restos do abate bovino”. Mas, em 2014, o conglomerado viu uma grande oportunidade na reciclagem dos resíduos de peixes, isso depois de terem enveredado pela reciclagem dos resíduos de frangos e suínos. “A produção de pescado teve um grande crescimento devido ao aumento do consumo interno e das exportações e, assim, a oferta das sobras também cresceu”, afirma.

Hoje, com 12 indústrias que reciclam sobras de abates animais no Sul e Sudeste (MG, SP RJ, PR, SC e RS), além de uma unidade no Mato Grosso do Sul, o grupo possui uma capacidade de reciclar mais de mil toneladas de pescado por dia, além dos resíduos de aves, suínos e bovinos.

Gonçalves diz que “além das melhores tecnologias, automação e parcerias, nosso grande diferencial são os mais de 1.800 colaboradores que, diariamente, exercem as melhores práticas para atendermos cada vez melhor a cadeia produtiva de pescados e outras proteínas, contribuindo de forma significativa para uma economia sustentável”.

“As nossas unidades industriais estão preparadas para um crescimento de 40% no volume de produção, pois vemos o setor de pescado em ascensão no País”, afirmou Gonçalves.

  

Fonte: Diário do Comércio