Altos e baixos do etanol, do Proálcool ao flexfuel
23-11-2015

A indústria automobilística brasileira rememora, neste mês de novembro, os 40 anos de criação do Proálcool, o Programa Nacional do Álcool, considerado a iniciativa global mais importante para a substituição em larga escala dos combustíveis veiculares derivados do petróleo pelo etanol, no Brasil obtido a partir da cana de açúcar.

O programa, que teve raízes na crise do petróleo de 1973 e avançou com o desenvolvimento de veículos capazes de funcionar exclusivamente com álcool, teve altos e baixos e obteve sucesso relativo. O Proálcool foi criado oficialmente em 14 de novembro de 1975, pelo decreto 76.593. Os engenheiros Lamartine Navarro Júnior e Cícero Junqueira Franco são considerados os pais do programa, acompanhados pelo empresário Maurílio Biagi. O programa de motores a etanol foi idealizado pelo físico José Walter Bautista Vidal e pelo engenheiro Urbano Ernesto Stumpf.

Segundo dados da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica), no fim dos anos 1970 a produção alcooleira atingiu um pico de 12,3 bilhões de litros e o Proálcool teve importância expressiva em 1979, quando ocorreu nova elevação nos preços do petróleo e foram comercializados 3.114 veículos leves movidos a etanol – os primeiros a aparecerem nas estatísticas da Anfavea, a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores.

O Proálcool começou a enfrentar problemas no fim da década de 1980, à medida que o preço do barril de petróleo recuava e a cotação do açúcar subia no mercado internacional. Nesse cenário, os usineiros preferiam produzir mais açúcar, enquanto o etanol tornava-se desvantajoso em relação à gasolina e começava a faltar nos postos. Como resultado dessa distorção de mercado, em 1990 apenas 81.996 unidades leves a álcool foram emplacadas, depois de um recorde de 697.049 unidades em 1986. Em 1997, somente 1.120 veículos a álcool foram registrados.

FLEX E O RENASCIMENTO DO CARRO A ÁLCOOL

O etanol, no entanto, haveria de recuperar o espaço perdido a partir de 2003, quando surgiu o primeiro veículo flexfuel no Brasil, um Volkswagen Gol 1.6 equipado com software e sensor da Magneti Marelli para gerenciar a queima do combustível, seja ele etanol, gasolina ou mistura dos dois em qualquer proporção.

Naquele mesmo ano foram licenciados 48.178 veículos com o sistema flex; em 2004 o volume subiu para 328.379 unidades e, em 2005, para 812.104 unidades, vencendo a barreira do milhão em 2006 e dos 2 milhões em 2007. Em 2014 foram registrados quase 3 milhões (2.940.508) de automóveis e comerciais leves equipados com o sistema flex (88,2% das vendas), ante 184.841 a gasolina (5,5%). Este ano, até o fim de outubro, haviam sido emplacados 1,83 milhão de veículos leves flex (88,3%) e 115.891 a gasolina (5,6%).

Foram produzidos no País, até 15 de setembro, 5.646.661 veículos movidos exclusivamente a etanol e outras 24.454.801 unidades com motor flex fuel. Até 15 de outubro haviam sido licenciados 5.638.332 veículos a etanol e 24.600.270 veículos flex fuel, segundo dados da Anfavea.

Houve investimentos expressivos em novas usinas de álcool entre 2004 e 2010, com a construção de uma centena de unidades no período. Uma nova crise abateu-se sobre as usinas e desde 2008 oitenta fecharam com a perda de competitividade do etanol. Este ano outras dez podem encerrar as atividades, mas o segmento produtivo busca reagir, com preços mais favoráveis diante da gasolina. Assim, entre altos e baixos, essas usinas garantiram a presença do etanol combustível nos carros brasileiros desde 1979 – ou por 36 anos.