Aplicar nutrientes via gotejo permite suprir necessidade nutricional da cana e alcançar real redução de custos
13-06-2022

Planta nenhuma ‘come’ fertilizante. Ela ‘bebe’ uma sopa nutricional. Dessa forma, sem solubilização, a adubação serve puramente para ‘preencher planilhas’
Por Leonardo Ruiz
Ao adquirir um sistema de irrigação por gotejamento, o produtor ou usina leva um pacote altamente tecnológico capaz de suprir não somente toda a necessidade hídrica da cultura, mas também a nutricional. Isso ocorre graças a possibilidade de utilizar os mesmos equipamentos de injeção de água para a aplicação de moléculas químicas e orgânicas e produtos biológicos.
Daniel Pedroso, Especialista Agronômico da Netafim, líder mundial em soluções para irrigação, salienta que essa alternativa vem atraindo o interesse das empresas canavieiras, se tornando um fator decisivo na hora de fechar negócio. “Hoje, os agricultores querem mais do que apenas um sistema de irrigação. Eles buscam uma tecnologia capaz de agregar máximo valor ao seu negócio, e a solução da Netafim vai de encontro a essa demanda.”
Ele explica que o grande problema das aplicações convencionais de fertilizantes é o fato de que a planta irá absorver os nutrientes apenas quando esses forem solubilizados e entrarem na solução do solo. Antes disso, os produtos e insumos aplicados ficam “parados”, podendo inclusive ser perdidos por volatização.
“Planta nenhuma ‘come’ fertilizante. Ela ‘bebe’ uma sopa nutricional. Dessa forma, sem solubilização, a adubação serve puramente para ‘preencher planilhas’. Por outro lado, quando os nutrientes são aplicados via gotejamento, você tem o grande benefício de aplicar esse adubo já solubilizado, que ficará disponível instantaneamente para a planta.”
Cana-de-açúcar de 11 meses irrigada por gotejamento no estado de São Paulo
Foto: Divulgação Netafim
Outra vantagem desse sistema, segundo Pedroso, é a possibilidade de extrair o máximo da curva de extração nutricional da planta. Ocorre que, ao longo de seu ciclo, a cana-de-açúcar necessitará de diferentes quantidades e tipos de nutrientes. Suprir essa necessidade por meios convencionais é uma tarefa difícil e inviável. Mas, munido de um sistema com acesso ‘vitalício’ às raízes, é possível fornecer esses insumos no exato momento em que a planta precisar e na quantidade ideal, inclusive durante a fase de maior crescimento da mesma, que varia dos 180 a 270 dias após o plantio/corte dependendo da variedade.
Além de uma cana mais vigorosa e produtiva, essa prática irá reduzir custos de aplicação, evitar a alta salinidade causada pelo uso excessivo de fertilizantes, impedir a lixiviação e, consequentemente, a perda dos produtos aplicados, e melhorar os níveis de sustentabilidade da fazenda/empresa.
Insumos mais utilizados dentro desse sistema são a ureia, nitrato de amônio, cloreto de potássio pó branco, MAP purificado e vinhaça
Foto: Divulgação Netafim
Atualmente, os insumos mais utilizados dentro desse sistema são a ureia, nitrato de amônio, cloreto de potássio pó branco, MAP purificado e vinhaça. Os volumes a serem utilizados irão variar de acordo com a deficiência do solo de cada região. Por conta disso, é importante um diagnóstico do aspecto nutricional do seu canavial, que fornecerá uma visão geral das principais demandas e deficiências. Com esses dados em mãos, será possível fazer a suplementação correta, com grandes e expressivos retornos em produtividade e redução de custos.
Diminuir uso de fertilizantes não é o melhor caminho. Correto é apostar em tecnologias que permitam aumento de produtividade e, consequentemente, diluição dos custos
Um dos questionamentos mais comuns quando se fala em aplicação de nutrientes via gotejamento é um possível gasto maior de fertilizantes por hectare. Teoricamente, é verdade, já que uma planta que cresce mais necessitará ser mais estimulada nutricionalmente. No entanto, devido ao expressivo aumento de produtividade propiciado pelo manejo, ocorrerá uma redução do custo real de produção, pois a quantidade de fertilizantes por tonelada de cana produzida será menor em comparação com as aplicações convencionais.
Especialista Agronômico da Netafim, Daniel Pedroso detalha um experimento conduzido no oeste do Estado de São Paulo, em uma área de 140 hectares e que recebeu um acumulado de chuvas de 1.069 mm. Devido a esse clima mais árido, houve uma necessidade maior de irrigação, conduzida tanto via sistema de gotejamento (409 mm) como por canhão/salvação (120 mm).
Aumento de produtividade das áreas irrigadas via gotejo dilui melhor os custos com o uso de fertilizantes
Foto: Divulgação Netafim
Na área irrigada pela tecnologia da Netafim, foram aplicados os seguintes volumes de nutrientes: 150 kg/ha de nitrogênio, 52kg/ha de fósforo e 160 kg/ha de potássio. Já na área de canhão/salvação, as doses utilizadas foram menores: 100 kg/ha de nitrogênio, 50 kg/ha de fósforo e 100 kg/ha de potássio.
Quando é visualizada a divisão de quilos utilizados por produtividade alcançada (155,49 ton/ha no gotejo contra 67 ton/ha da área de canhão/salvação) fica visível a melhor eficiência nutricional entregue pela tecnologia da Netafim: 0,96 kg/ton de nitrogênio contra 1,54 kg/ton; 0,33 kg/ton de fósforo contra 0,77 kg/ton; e 1,03 kg/ton de potássio contra 1,54 kg/ton.
Para o pesquisador Emídio Cantídio Almeida de Oliveira, Professor Associado I do Departamento de Agronomia da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) na área de Fertilidade do Solo e Nutrição Mineral de Plantas, esses números atestam a força desse sistema na diluição sustentável dos custos de produção.
Segundo ele, diante da alta dos fertilizantes, muitas usinas têm diminuído sua nutrição, acreditando que estão reduzindo custos, quando na verdade estão apenas perdendo produtividade. No final do ciclo, o impacto decorrente da queda na produção será maior do que o valor “economizado” anteriormente. Isso ocorre especialmente em canas de altas taxas de crescimento, como no caso das irrigadas via gotejo. “Não é correto pensar que estamos colocando mais adubo. Devemos olhar para o aumento de produtividade proporcionado. Dessa forma, na hora do balanço final, haverá uma real redução dos custos totais, pois o custo de fertilizante por tonelada produzida será menor.”
Mais eficiente, aplicação de vinhaça via sistema de gotejamento resulta em aumento de produtividade e alta redução no gasto com fertilizantes
Com os preços dos fertilizantes nas alturas e restrições à importação de potássio, as usinas de cana-de-açúcar podem se considerar privilegiadas, uma vez que possuem uma verdadeira “fábrica” do nutriente em seu quintal. Trata-se da vinhaça, um dos principais subprodutos da indústria canavieira e fonte valiosa de K2O. Estima-se que a cada 1 litro de etanol produzido, são gerados aproximadamente 12 litros de vinhaça.
A aplicação desse resíduo no campo gera melhoria contínua no condicionamento do solo, resultando em um ambiente de produção mais propício. Aplicação essa que pode ser feita por aspersão ou de forma localizada, nos formatos in natura ou concentrada.
Daniel Pedroso: “Não é mais possível conceber um sistema de irrigação por gotejamento apenas para fornecimento de água. Uso para aplicação de vinhaça e fertilizantes se tornou parte intrínseca da tecnologia”
Foto: Divulgação Netafim
Mas uma nova alternativa tem surgido nos últimos anos, que envolve a aplicação de vinhaça através do sistema de irrigação por gotejamento. O Especialista Agronômico da Netafim, Daniel Pedroso, afirma que essa técnica não é exatamente recente – existem estudos que datam da década de 2000. Entretanto, ela voltou à tona recentemente em função da crescente demanda pela tecnologia de gotejo no Centro-Sul.
Ele conta que, desde 2005, o Centro de Cana do Instituto Agronômico (IAC) conduz experimentos nessa área, culminando na instalação da primeira área comercial em 2008, na Usina Seresta, de Teotônio Vilela/AL. Em uma lavoura de 1000 hectares, foi utilizada a vinhaça limitada a 5% da vazão.
Após cinco anos, a testemunha alcançou uma produtividade de 67 ton/ha. Em 10 anos, a área irrigada por gotejo aliada a fertirrigação com cloreto de potássio produziu 96 ton/ha. Já o canavial irrigado via gotejo com o uso da vinhaça atingiu uma produtividade de 109 ton/ha após uma década. “Além desse ganho em produção, foi constatada ainda uma redução de 45% no custo com fertilizantes, uma vez que, utilizando a vinhaça, você retira a adubação com cloreto de potássio do manejo.”
Layout de um projeto de irrigação por gotejamento com injeção de vinhaça
Foto: Divulgação Netafim
O layout proposto pela Netafim para implantação do sistema de gotejo + fertirrigação com vinhaça consiste na instalação de uma casa de bombas, um tanque de injeção de insumos e um reservatório de água e um de vinhaça. Esse último podendo ser alimentado por canal ou caminhão-pipa. Nesse local, será instalada uma motobomba com aproximadamente 5% da vazão do projeto.
Pedroso ressalta que 95% de água e 5% de vinhaça é a taxa recomendada pela empresa, já que o resíduo é rico em ferro e sólidos, podendo prejudicar o sistema de gotejamento em caso de volumes maiores. Porém, o profissional reforça que essa quantidade é suficiente para atender a demanda de K2O da cana-de-açúcar, uma vez que a tecnologia permite aplicar vinhaça ao longo de todo o ciclo da cultura e não tudo de uma vez. “Tem usinas que fazem aplicação diária com vazão abaixo de 1% e outras que utilizam o sistema mensal ou quinzenalmente. Tudo dependerá da quantidade de quilos de K2O por metro cúbico de vinhaça e da necessidade da planta.”
Irrigação por gotejamento será essencial para Usina Alta Mogiana verticalizar produção e eliminar capacidade ociosa da indústria
Cento e cinquenta e três dias sem chuvas expressivas e três geadas. Esse foi o cenário enfrentado pela Usina Alta Mogiana em 2021. Os prejuízos ainda não foram completamente calculados, mas os gestores da unidade estimam grandes perdas em produtividade agrícola. Diante dessa realidade, a empresa, com sede no município paulista de São Joaquim da Barra, começou a buscar alternativas que pudessem minimizar os danos causados por tais fenômenos climáticos adversos, cada vez mais frequentes nos últimos anos.
Uma das apostas foi no sistema de irrigação por gotejamento subterrâneo da Netafim. Uma área de aproximadamente 30 hectares foi implantada ainda em 2021 cujo objetivo era validar o potencial de retorno da tecnologia. As variedades utilizadas não diferiram das já presentes no plantel da companhia, sendo elas a RB966928, CTC 9002 e IACSP95-5094. A colheita ainda não foi realizada, mas as expectativas não poderiam estar mais altas, uma vez que o canavial já aparenta melhor performance em comparação com as áreas de sequeiro.
Uma área de aproximadamente 30 hectares foi implantada em 2021 pela Alta Mogiana com o objetivo de validar a tecnologia
Foto: Divulgação Netafim
O supervisor de produção agrícola sênior da usina, Júlio César Naves Batista da Silveira, afirma que o grande diferencial da tecnologia de irrigação por gotejamento é a possibilidade de aplicar as quantidades ideais de água e nutrientes no momento certo e diretamente na raiz, maximizando a resposta da cana e reduzindo os custos de produção.
Até o momento, a Alta Mogiana aplicou potássio, nitrogênio, fósforo e micronutrientes via sistema de gotejo. A partir deste ano, a empresa dará início também ao processo de fertirrigação com vinhaça. “Hoje, aplicamos esse resíduo de 92% a 94% da nossa área, seja na modalidade localizada ou por aspersão. Mas a possibilidade de fazer essa aplicação via gotejo é bastante interessante, pois além de potencializar o desenvolvimento da cultura, também implicará em redução de custos, uma vez que teremos menos consumo de adubos químicos.”
Júlio Naves: “Possibilidade de fazer essa aplicação [de vinhaça] via gotejo é bastante interessante, pois além de potencializar o desenvolvimento da cultura, também implicará em redução de custos”
Foto: Arquivo pessoal
Com uma indústria preparada para moer 7 milhões de toneladas de cana-de-açúcar por safra, a Alta Mogiana aposta na irrigação por gotejamento para diminuir a capacidade ociosa e elevar sua produção, uma vez que a tecnologia atuará num fator redutor de produtividade que não está nas mãos da usina: o clima. “Já estamos em processo de estudos para aumentar nossa área irrigada por gotejo para cinco mil hectares, pois sabemos que esse será o melhor caminho para a verticalização”, finaliza Silveira.
Fonte: CanaOnline