Apoio a etanol nos EUA frustra mercado
10-10-2019

 

A indústria americana de etanol ficou exultante na semana passada quando o governo de Donald Trump anunciou as tão aguardadas reformas para estimular a demanda por biocombustíveis nos EUA, mas a reação nos mercados foi bem diferente.

Os preços dos créditos usados nos mercados de etanol caíram desde o anúncio pela Agência de Proteção Ambiental (EPA, na sigla em inglês), na sexta-feira, como reflexo das dúvidas que pairam sobre os detalhes do plano e das incertezas em relação ao real impacto nas vendas, de acordo com a opinião de analistas.

A maior parte da gasolina vendida no Estados Unidos contém cerca de 10% de etanol. A commodity tem enorme importância econômica nos Estados americanos da região do Meio-Oeste, onde cerca de 35% da colheita de milho é vendida para usinas de etanol. Esses Estados, por sua vez, são cruciais para as perspectivas de reeleição de Trump em 2020.

A EPA do governo Trump anunciou na sexta-feira um plano para elevar a demanda por etanol a 15 bilhões de galões (56,8 bilhões de litros) por ano - o patamar exigido por determinação parlamentar - em 2020. Anteriormente, o governo havia enfraquecido a necessidade de cumprimento dessa determinação por meio de exceções concedidas para dezenas de refinarias de petróleo que atuam no país.

Agora, caso seja bem-sucedido, o plano vai reduzir o impacto dessas exceções, o que elevaria o preço dos créditos que as refinarias de petróleo compram para cumprir as exigências de mistura do combustível. O crédito é conhecido oficialmente como “Número de Identificação Renovável” (Rin).

Depois do anúncio na sexta-feira, no entanto, os créditos Rin entraram “em queda livre”, nas palavras de Denton Cinquegrana, do serviço de informações de preços de combustíveis Opis.

O preço médio do Rin de etanol na segunda-feira era de US$ 0,20 por galão (3,875 litros), 16% mais baixo do que na quinta-feira anterior e próximo ao preço médio de 2019. A queda refletiu o “desapontamento” com a proposta, de acordo com Bill Lapp, da firma de consultoria Advanced Economic Solutions.

O preço dos swaps de etanol ficou em US$ 1,485 por galão na bolsa de Chicago, na segunda-feira, 2,3% a menos do que na quinta-feira. Os contratos futuros de milho estavam em US$ 3,87 por bushel, um pouco abaixo do verificado na quinta.

Nesta semana, a EPA planeja propor formalmente a ampliação das exigências de uso de biocombustível, segundo um técnico da agência. Em seu anúncio na semana passada, a EPA havia comunicado que iria pedir sugestões “sobre ações para assegurar que mais de 15 bilhões de galões de etanol convencional sejam misturados à oferta de combustível da nação a partir de 2020”.

Líderes da indústria americana de biocombustíveis ainda estão otimistas quanto ao cumprimento da meta de 15 bilhões de galões, apesar de o consumo nos Estados Unidos estar aproximadamente 500 milhões de galões abaixo desse patamar.

Para atingir a meta, seria necessário elevar a taxa nacional de mistura de etanol na gasolina dos atuais 10% para 15%, com o uso de um combustível chamado E15, segundo Todd Becker, executivo-chefe da Green Plains, uma empresa de Omaha que conta com 13 usinas de etanol.

Vender mais E15 nos postos de gasolina “vai ser o legado deste acordo e vai mudar a agricultura em toda nossa vida”. “A única área em que a demanda por milho vai crescer para os agricultores vai ser a de produção de etanol”, afirmou Todd Becker.

Outros no mundo da agricultura não têm tanta certeza. A declaração da EPA “certamente é atraente e satisfatória para o lobby do etanol”, disse Richard Feltes, vice-presidente da corretora de commodities RJ O’Brien. “Eu diria que o resto do mercado vai ficar na expectativa. Eles não vão querer acreditar até que vejam.”

Scott Irwin, economista especializado em agricultura na University of Illinois, disse que ampliar as vendas do E15 vai ter obstáculos pela frente, como o pequeno número de postos que o vendem. “Simplesmente, não vejo nenhuma forma de conseguir que o consumo real de etanol físico em 2020 chegue ao nível de 15 bilhões [de galões] ou mais”.

 

Fonte: Financial Times via Valor Econômico