Ara, é caipira, sô!
16-10-2015

A cultura caipira como fonte de geração de renda, melhoria de vida e atrativo para fixar a população no campo

Michel Teló, um dos atuais galos do sítio Felicidade


Luciana Paiva

O dia começa cedo no sítio Felicidade. O despertador é o cantar do galo. E pro canto sair afinado, lá é tradição os galos serem batizados com nomes de cantores famosos, já teve o Tônico, o Tinoco, o Sérgio Reis, e até cantor importado: Frank Sinatra. Mas estrangeiro mesmo, só o nome, pois os galos são originários da roça, caipira de nascimento e criação, daqueles de canela amarela, espora afiada e que correm soltos pelo terreiro.

No caminho que leva ao sítio Felicidade o progresso não cobriu a poeira, a estrada é de terra, mesmo sendo a ligação entre as pequenas cidades de Rincão e Guatapará, no interior de São Paulo. Mas não é o chão batido, que levanta pó na época de seca ou atoleiro no período de chuvas, que incomoda Wilton Rodrigues Paiva, o seo Wilton, o proprietário do sitio, mas sim a alta velocidade de caminhões, carros e motocicletas que circulam pela estrada. “Um perigo. Isso é coisa de gente da cidade, que passa correndo sem admirar o caminho. A toada dos sitiantes é moderada, dá para conferir se não há buracos nas cercas, se o gado não escapou, e ainda cumprimentar os amigos que encontram pela estrada.”


O BRASIL CAIPIRA

Como os galos, o seo Wilton é um legítimo representante do mundo rural. Daquele Brasil caipira que compreende os estados de São Paulo, o sul de Minas Gerais, boa parte de Goiás e sudeste do Mato Grosso do Sul. São mais de 55 milhões de habitantes, em um território do tamanho do Chile.

O caipira apresenta uma etimologia bastante variada: para o historiador Batista Caetano, a palavra caipira vem do tupi: cai = queimada / pir = pele: pele tostada. Para Câmara Cascudo, em seu Dicionário do Folclore Brasileiro, a origem de caipira pode estar em caapora, ou seja: caá = mato / pora = habitante, morador. Portanto, caipira é o habitante do mato.
Sempreesteve ligado a um modo de vida muito particular: ocupava uma pequena área de terra, desenvolvia uma agricultura diversificada, voltada para o consumo próprio, criava alguns animais e praticava artesanato doméstico. Eventualmente, o pequeno excedente gerado pela economia caipira era comercializado no mercado mais próximo.

Mesmo ensimesmado em seu canto, o caipira não conseguiu se proteger da invasora cultura de massa e das imposições da tida sociedade moderna. E criou-se uma visão preconceituosa de outros segmentos da sociedade sobre o caipira, definido então como retrógrado.Mesmo sendo o campo a principal força de renda do Brasil, financiando inclusive a industrialização das cidades, formou-se no consciente coletivo a imagem que o mundo rural era arcaico, enquanto o mundo urbano-industrial era sinônimo de moderno. E o morador da roça passou a ser conhecido como Jeca-Tatu.

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