Aumento da mistura de álcool na gasolina ameniza crise no setor
07-01-2015

O aumento da mistura de etanol anidro na gasolina vendida no País, anunciado pelo governo para fevereiro, deve melhorar a rentabilidade das usinas de cana-de-açúcar, que sofrem com a pouca competitividade em relação a gasolina. Porém, o setor esperava que a mistura tivesse um porcentual maior de álcool e deve insistir junto ao governo por uma mistura com mais biocombustível nos próximos anos.

A mistura subirá de 25% para 27% e o aumento tem potencial para ampliar as vendas do combustível extraído da cana em cerca de 1 milhão de litros. O aumento do porcentual foi solicitado há quase um ano pela União da Indústria da Cana-de-açúcar (Unica) e representações do setor nos Estados, e, em setembro, foi publicada uma Lei estabelecendo 27,5% como limite máximo para a mistura, apesar de alguns estudos mostrarem que é possível ter até 30% de etanol anidro na gasolina sem prejuízo para os motores dos veículos.

A solicitação da Unica visou a aliviar a crise vivida pela indústria sucroalcooleira, que tem perdido competitividade com a manutenção dos preços da gasolina em patamares abaixo dos praticados no mercado internacional, a ponto de mais de 70 usinas fecharem as portas desde a crise financeira mundial de 2008 e 66 unidades produtoras estarem em recuperação judicial.

"O porcentual ainda não é o que foi pedido pelo setor, mas subir de 25% para 27% já é um importante primeiro passo, uma conquista que mostra ser possível, no futuro, chegarmos a novos avanços", considera o presidente da Associação de Produtores de Bioenergia do Estado do Paraná (Alcopar), Miguel Rubens Tranin. Segundo ele, o setor sucroalcooleiro está em situação crítica. Duas das 30 usinas da região já fecharam e outras estão em recuperação judicial. "A crise das usinas não é somente das usinas, é da economia como um todo", destaca. Ele ressalta que, nos últimos anos, o Centro-Sul perdeu de 80 mil a 100 mil empregos.

"Esta crise atinge também as cidades onde estão estas usinas", afirma Tranin. De acordo com ele, geralmente as usinas estão em pequenas cidades e tornam-se a maior fonte de emprego de uma vasta região. Quando a unidade passa por dificuldades ou fecha, postos de trabalho são extintos e a previsão de queda de impostos também afeta os municípios. "Outras indústrias que dependem das usinas, como as empresas de recuperação e manutenção de equipamentos, todos são atingidos quando as usinas entram em crise", declara.

Com o aumento anunciado, o presidente da Alcopar aposta em melhoras para o setor em 2015, especialmente pela possibilidade de bom diálogo com o governo federal e a definição de uma política de longo prazo. Além do aumento do etanol anidro à gasolina, há a reintrodução da Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico (Cide), tributo que deve provocar elevação no valor da gasolina C (misturada com etanol anidro) e, como consequência, ampliar a competitividade do etanol hidratado. Outra mudança aguardada pelo setor é a redução do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) cobrado no Estado. O governo já sinalizou com a possibilidade de redução em um por cento no caso do álcool anidro, o que ajuda o biocombustível a ser mais competitivo no Paraná.


BNDES fala em impulso nos próximos anos

Durante um seminário, no Rio de Janeiro, o diretor da Área Industrial do Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Júlio César Maciel Ramundo, destacou a importância da cana-de-açúcar para a produção de combustíveis renováveis e para a área química. Segundo ele, o setor tem pouco expressividade no mundo. "Como país agrícola, a gente pretende dar impulso enorme nos próximos anos", afirmou.

A presidente da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica), Elizabeth Farina, ressaltou a interlocução permanente do setor sucroenergético com o Ministério de Minas e Energia e o BNDES, em especial. Observou que para virar o jogo da crise é essencial que haja inovação tecnológica que "produza ganhos de produtividade e competitividade".

Segundo ela, "ganhar competitividade demanda ganhos de produtividade, de eficiência, previsibilidade institucional e ações de política pública que atuem sobre situações particulares em que custos sociais são maiores do que os privados e levem a subinvestimentos em atividades que têm valor social".

Para o representante do BNDES, o banco pretende criar políticas públicas que possibilitem o setor sucroenergético fazer chegar ao campo as tecnologias inovadoras que estão sendo construídas.

Luiz de Carvalho