Bacteriose do milho pode causar perda de 50% na produtividade
21-12-2023

Excesso de chuvas no Sul cria ambiente favorável para o desenvolvimento da doença
Por Carolina Mainardes — Ponta Grossa (PR)
O período mais chuvoso e nublado na região Sul do país traz uma ameaça às lavouras de milho: a bacteriose. Popularmente conhecida como estria bacteriana, a doença é causada pela bactéria xanthomonas vasicola pv vasculorum e tem grande potencial para gerar perdas na produtividade.
Segundo Rui Leite, pesquisador do Instituto de Desenvolvimento Rural do Paraná (IDR-PR), ela pode reduzir em até 50% a produção na lavoura. “Alguns híbridos apresentam uma variação muito grande de suscetibilidade à doença”, alerta.
Justamente por isso, a recomendação ao produtor rural é, em regiões onde há histórico da doença, optar por híbridos resistentes à essa bactéria.
“Não temos, ainda, produtos químicos para o controle da estria bacteriana do milho. Por isso, o agricultor corre o risco de ter grandes perdas com a ocorrência”, completa.
A bacteriose do milho não é uma doença nova. Os primeiros sintomas foram detectados na África do Sul em 1949, mas só chegaram à América do Sul em 2010, na Argentina. Desde então, a incidência aumentou, com relatos de sintomas em lavouras do Oeste paranaense em 2016 e uma expansão significativa em 2018 no Oeste e Centro-Oeste do Paraná no cultivo da safrinha. Apesar do histórico de aparições, ainda não existe um consenso científico de combate à doença, que está sendo estudada.
De acordo com o pesquisador do IDR-PR, não houve notificação oficial de casos na safra de milho atual no Paraná, até o momento. A cultura está 100% plantada, com colheita prevista para ocorrer até janeiro. Ele também destaca que, após 2018, houve apenas registros de casos pontuais. “Mas é bom ficar atento”, reforça.
Anderson Versari, gerente nacional de desenvolvimento de produtos da Longping High-Tech, multinacional que atua no desenvolvimento de tecnologias para o segmento de híbridos de milho e sorgo, destaca que a empresa tem acompanhado registros da bacteriose do milho na região Sul e que é possível que ela esteja presente no Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Oeste do Paraná.
Ele também aponta que ainda não há dados concretos, uma vez que o ciclo de cultivo do grão está em andamento. “No final da safra 2023/24 teremos um cenário mais definitivo, com a proporção de perda ocasionada pela doença”, acrescenta.
O executivo enfatiza que, uma vez que a ocorrência da bactéria está diretamente relacionada com o clima, a doença pode ter encontrado condições ideais - com chuvas e dias nublados - para se expandir na região Sul. Ele comenta que, após 2018, o tempo mais seco predominou, o que contribuiu para a diminuição dos patógenos e o consequente afastamento da bactéria.
Transmissão e características
A transmissão da bactéria pode ocorrer por meio de sementes contaminadas, presença em restos culturais, no milho voluntário (que rebrota após a colheita) ou em plantas daninhas, que podem ser hospedeiras da doença.
A estria bacteriana do milho atinge a folha da planta, inicialmente com pequenas pontuações - entre dois e três milímetros - que podem evoluir para lesões alongadas e estreitas, circundadas por um halo de coloração amarelada com bordas sinuosas, predominantemente localizadas nas regiões internervais. Versari explica que as bordas onduladas das lesões são a característica que diferencia a bacteriose da cercosporiose, uma doença fúngica.
Rui ressalta que é importante que seja feita a identificação correta das doenças na lavoura. “Há outras que podem ser confundidas com ela, por isso é fundamental ter auxílio técnico para identificação exata. Até porque se for outra doença, o produtor pode entrar com fungicida para o controle”, observa.
A bacteriose atua, na maior parte, na fase reprodutiva da planta, ou seja, na etapa final do ciclo da cultura, quando o milho já está com espiga, podendo atingir também as brácteas. Versari comenta que os prejuízos para a planta ocorrem devido à redução da área foliar e da fotossíntese.
Espiga de milho com estria bacteriosa
Foto: IDR/Divulgação
Prevenção e controle
Versari também recomenda aos produtores rurais a utilização de híbridos mais resistentes, com garantia de tolerância genética, o que exige informações e orientações técnicas bem embasadas por parte das empresas fornecedoras. O gerente de desenvolvimento de produtos comenta que a Morgan e a Forseed, marcas da LongPing High-Tech, têm trabalhado para oferecer produtos que apresentam menor incidência à bacteriose.
Os especialistas também reforçam a importância da atenção às medidas fitossanitárias e da adoção da rotação de culturas como ações de prevenção da doença.
Fonte: Globo Rural