Bioeletricidade contribuiu para a bandeira tarifária verde em junho
26-06-2017

Juliana Chade mostrou que o modelo que forma o preço de energia no mercado de curto prazo, o Preço de Liquidação das Diferenças (PLD), é muito sensível às afluências e avaliou que a recente redução do PLD em junho em relação à maio foi devido, principalmente, pelo impacto conjunto de afluências acima da média no período seco, redução de demanda devido à sua sazonalidade e aumento da previsão das fontes renováveis, em especial a biomassa com o avanço da safra sucroenergética na região Centro-Sul. O PLD médio para a primeira semana de junho caiu 75% em relação à última semana de maio, nos submercados Sudeste/Centro-Oeste, Sul e Norte ao passar de R$ 471,16/MWh para R$ 118,77/MWh.

Zilmar Souza, gerente de Bioeletricidade da UNICA, lembrou também que, além dessa redução do PLD, tivemos a alteração do sistema de bandeira vermelha para verde nas contas de luz em junho, tendo não somente como fator principal os altos índices de afluências verificados no final de maio, mas também o reforço da geração pela biomassa para o sistema, com o avanço da safra sucroenergética na região Centro-Sul, contribuindo para melhorar as condições de suprimento no setor elétrico brasileiro.

“Em fevereiro, na entressafra, a biomassa exportou para a rede 449 mil GWh. Em maio, já no período da safra no Centro-Sul, a biomassa gerou para a rede quase 2,6 milhões de GWh, um valor aproximadamente seis vezes superior a fevereiro. A geração em maio representou mais de 63% de toda geração a gás natural para o sistema. Se em abril e maio, a bandeira tarifária ficou na cor vermelha e os consumidores pagaram R$ 3,00 adicionais a cada 100 kWh consumidos e agora está na cor verde, sem pagamento extra na conta, certamente a bioeletricidade foi uma das responsáveis por este benefício”, avalia Souza.

Com relação ao PLD, Juliana Chade alertou que ainda estamos no início do chamado período crítico e isto deverá ter impacto no PLD futuro. “Dado que os reservatórios do Sudeste não sofreram grandes elevações, esta recente redução de preços pode ser momentânea, tendo expectativa de aumento de preços nos próximos meses, caso as afluências voltem a ficar abaixo da média histórica”, comentou Chade. A executiva também mostrou os impactos na previsão do PLD considerando alguns estudos como, por exemplo, possíveis atrasos na linha de transmissão para o escoamento de energia da usina Belo Monte e redução na defluência mínima no rio São Francisco.

A representante da Comerc Energia fechou sua apresentação comentando sobre os desafios do setor elétrico, como a necessidade de representação da incerteza na geração para a fonte elétrica, o gerenciamento pelo lado da demanda e estudos para redução da sensibilidade do modelo de formação do PLD em relação às afluências.

Zilmar de Souza, aproveitou o momento para comentar a importância da bioeletricidade na matriz elétrica brasileira. Dados levantados pela União da Indústria de Cana-de-Açúcar (UNICA), mostram que a capacidade instalada outorgada pela Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL) com a fonte de biomassa da cana-de-açúcar no Brasil é 11.205 MW, praticamente a mesma a ser instalada pela usina de Belo Monte até 2019, que será 11.233 MW. “O setor sucroenergético detém hoje em torno de 7% da potência outorgada no Brasil e 77% da fonte biomassa, sendo a terceira fonte de geração mais importante, atrás da fonte hídrica e das termelétricas com gás natural”, acrescenta o executivo.

De acordo com o presidente executivo da Associação da Indústria de Cogeração de Energia (COGEN), Newton Duarte, esses números mostram por que a Geração Distribuída pode ter uma participação ainda maior na matriz energética brasileira. "É bastante simbólico que a geração de biomassa de cana-de-açúcar já apresente um fator de carga superior ao da Usina de Belo Monte. Esses projetos estruturantes geralmente são construídos em regiões distantes, o que demanda investimentos em linha de transmissão com custos vultosos para a sociedade brasileira. Já a Geração Distribuída não exige nada disso", afirma Duarte.

"Nos sistemas de cogeração, a produção está muito próxima dos pontos de consumo, fornecendo energia a custos muito competitivos e sem tanta variação causada pelas sazonalidades climáticas. Isso proporciona vantagens enormes para o setor elétrico", destaca o presidente executivo da COGEN.

A palestra da executiva da Comerc Energia fez parte do Programa Mensal de Palestra sobre as Condições de Demanda e Oferta no Setor Elétrico, que traz, a cada mês, especialistas para tratar deste tema. O Programa é uma iniciativa da UNICA e conta com o apoio da Associação Brasileira dos Comercializadores de Energia (ABRACEEL) e da COGEN.