Bioquerosene de cana se torna uma realidade e deve ajudar a aviação com suas metas de redução de CO2
30-06-2014

O que até o ano passado era uma promessa, transformar o querosene, principal combustível usado pelas aeronaves, mais sustentável, tornou-se realidade. O bioquerosene, conhecido no Brasil pela sigla QAV, produzido a partir da cana-de-açúcar, segundo a certificadora internacional de padrões industriais ASTM, já pode ser adicionado na proporção de até 10% ao querosene de aviação de origem fóssil. A resolução favorece a indústria aeronáutica mundial, que agora poderá contar com os benefícios proporcionados pelo uso do combustível limpo para reduzir o impacto ambiental das viagens aéreas, e também o setor sucroenergético, que ao ampliar o seu portfólio de produtos derivados da cana, ganha novas perspectivas comerciais.

A norma D7566 da ASTM revisada e divulgada no dia 16 de junho inclui o uso de farnesano (diesel de cana), como um elemento de mistura que pode ser acrescentado ao querosene usado na aviação comercial. Esta decisão permitirá que bioquerosenes produzidos a partir de biomassa, como o de cana-de-açúcar produzido pela empresa Amyris em parceria com a multinacional francesa Total, possam ajudar a indústria na redução de suas emissões de gases de efeito estufa.

“A conformidade com a norma ASTM nos permite avançar nas discussões com várias das principais companhias aéreas do mundo, que planejam voos comerciais com combustíveis renováveis, reduzindo emissões ao mesmo tempo em que promovem ganhos de desempenho,” afirmou o presidente e CEO da Amyris, John Melo.

O bioquerosene, por enquanto, apenas poderá ser usado para o abastecimento no exterior e não por aqui. Para que o consumo no Brasil seja liberado, a certificação da ASTM precisa ser legitimada pela Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), um procedimento que poderá levar até 90 dias.

Para o consultor em Emissões e Tecnologia da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (UNICA), Alfred Szwarc, a aprovação do uso comercial de 10% de bioquerosene com o combustível convencional, representa um marco na história da aviação moderna.

“Essa mistura diminuirá em cerca de 10% a emissão de gás carbônico, gerando grandes benfeitorias para a indústria aeronáutica e agregando novos benefícios para a atividade canavieira,” explicou o representante da UNICA. Szwarc acrescentou ainda que os ganhos seriam maiores se a ANP, seguindo o exemplo da ASTM, já tivesse aprovado o uso comercial no Brasil.

Rio+20

O primeiro teste com bioquerosene foi realizado em junho de 2012, em voo entre os aeroportos de Viracopos, em Campinas (SP), e Santos Dumont no Rio de Janeiro, cidade sede da Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável (Rio+20).

O voo experimental do jato Embraer 195 da Azul Linhas Aéreas contou com a presença de 60 pessoas, entre jornalistas, personalidades acadêmicas, autoridades políticas e executivos das empresas envolvidas no projeto.

O consultor da UNICA destacou na ocasião que além de reduzir as emissões, o biocombustível de aviação mostrou que possui desempenho similar ao querosene de origem fóssil e que pode ser competitivo comercialmente quando produzido em escala industrial.