BNDES pede a falência imediata de empresas de Bumlai por calote
24-12-2015

Há um ano sem receber do grupo empresarial de José Carlos Bumlai, o amigo de Lula que está preso e virou réu na Operação Lava Jato, o BNDES ingressou com um pedido de falência "imediata" das empresas dele.

As dívidas do grupo São Fernando, que está em recuperação judicial desde abril de 2013, somam R$ 1,2 bilhão. O BNDES é o maior credor das empresas de Bumlai: o grupo deve ao banco cerca de R$ 300 milhões, o equivalente a um quarto da dívida total.
Integram o grupo de Bumlai usina de álcool e açúcar e empresa que produz energia a partir de bagaço de cana, entre outros negócios. Todas as empresas estão em nome dos filhos do pecuarista e ficam no Mato Grosso do Sul.
O banco já havia pedido a falência do grupo São Fernando em junho deste ano. Como o grupo não cumpriu o que havia acertado em seu plano de recuperação, o BNDES ingressou com uma nova petição.
No novo pedido, feito à Justiça de Dourados (MS) no último mês, os advogados do banco argumentam que "o processo de recuperação judicial, neste momento, visa tão somente a procrastinar providência inevitável, qual seja, a decretação de falência".
O BNDES afirma ainda que a procrastinação pode comprometer as garantias oferecidas por Bumlai. "Os efeitos do tempo podem ser nefastos às garantias reais, notadamente quando estas são agregados parques industriais."
O BNDES informou em nota que "o risco de procrastinação só se fez presente quando ficou claro que o grupo não seria capaz de honrar os acordos feitos".
O BNDES fez dois tipos de financiamentos para Bumlai.
Entre 2008 e 2009, emprestou sem intermediários R$ 395,2 milhões para a usina de álcool e açúcar do empresário. Em 2012, o BNDES fez duas operações intermediadas pelo Banco do Brasil e BTG Pactual, no valor de R$ 101,5 milhões para a empresa de Bumlai que produz energia a partir de bagaço de cana, a São Fernando Energia.
Como o grupo já passava por dificuldades em 2012, inclusive com um pedido de falência, os empréstimos de 2012 faziam parte de um plano para tentar salvar o grupo.
Ao todo, o BNDES concedeu empréstimos de quase R$ 500 milhões às empresas do pecuarista. Esse montante não contempla os juros cobrados pelos atrasos, os quais o banco não informa por questões de sigilo bancário.
O banco disse à Folha que os calotes só ocorreram nos empréstimos feitos diretamente. Nos financiamentos repassados pelo Banco do Brasil e BTG, não há inadimplência, segundo o BNDES, porque as duas instituições estão fazendo os pagamentos ao banco de fomento.
Por conta da inadimplência, o banco diz que já executou garantias oferecidas pelas empresas de Bumlai no valor de R$ 250 milhões.
OUTRO LADO
O BNDES diz que segue a Lei de Falências.
A instituição diz que tenta resolver os problemas das empresas desde 2012, quando participou de empréstimos indiretos.
Procurados, os advogados do grupo São Fernando que atuam na recuperação judicial não foram localizados.
Na Justiça, eles dizem que o BNDES parte de "premissa equivocada" ao ver um cenário falimentar e procrastinação por parte das empresas. "O grupo São Fernando tem envidado seus melhores esforços no cumprimento de seu Plano de Recuperação Judicial", dizem em petição.
Segundo os advogados, o grupo já quitou R$ 320 milhões da dívida.