Caso de navios iranianos presos em Paranaguá pode afetar comércio de milho
24-07-2019

O navio iraniano Bavand, carregado com 48 mil toneladas de milho, ancorado no porto de Paranaguá (PR). Heuler Andrey / AFP
O navio iraniano Bavand, carregado com 48 mil toneladas de milho, ancorado no porto de Paranaguá (PR). Heuler Andrey / AFP

 

Embarcações estão sem combustível por causa de sanções americanas a Teerã.

O Irã é o maior comprador do milho brasileiro no exterior, e o imbróglio que impede o abastecimento de navios em Paranaguá tem potencial para interromper quase 30% das exportações do grão.

Apenas em 2018, as vendas ao exterior somaram 22 milhões de toneladas. Dessas, 6,4 milhões foram para o Irã. No primeiro semestre deste ano, segundo dados do Imea (Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária), outras 2,4 milhões de toneladas já foram embarcadas ao país.

Das quase 100 milhões de toneladas de milho produzidas nesta safra, 76 milhões foram na chamada safrinha, cuja colheita se concentra nos meses de junho e julho. Por isso, as exportações ocorrem em maior volume no segundo semestre —no primeiro, os portos são ocupados por soja.

Quando os embarques deveriam ganhar corpo, o impasse se instalou, a partir da recusa da Petrobras de abastecer os navios pelo receio de sofrerem sanções.

O questionamento de entidades que representam o setor produtivo está no embargo a alimentos, que seriam imunes a punições.

“Não há razão para embargo de produto agrícola”, diz Alysson Paolinelli, ex-ministro da Agricultura e atual presidente da Abramilho (Associação Brasileira de Produtores de Milho).

Medindo palavras, Paolinelli afirma não saber se é prudente a entidade brigar com a Petrobras sobre o abastecimento do navio iraniano.

“O milho é um alimento importante, e o Irã é o maior comprador”, diz.

Assim como o representante da Abramilho, a Aprosoja-MT também se move com cautela. Antônio Galvan, produtor e presidente da associação, diz que a entidade ainda não acionou órgão de pressão, como a Frente Parlamentar de Agricultura na Câmara ou a CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil).

Ele afirma, porém, que os preços do milho começaram a cair no estado, o que atribuiu ao impasse.
Segundo Galvan, a baixa chegou a R$ 2 a saca, cotada a cerca de R$ 23. No mesmo período, o dólar também caiu, o que afeta os preços do cereal.

Mato Grosso é o principal produtor de milho do país e já colheu quase 90% da safra deste ano, que deve se encerrar nas próximas semanas.

As vendas também estão avançadas —quase 80% da safra do estado havia sido negociada até o começo do mês, ainda de acordo com o Imea.

A Anec, que representa os exportadores, principalmente de soja e milho, não quis comentar o impasse. No Paraná, a Faep, federação que representa produtores do estado, vê prejuízos ao agronegócio. 
Afirma que o milho embarcado pode perder qualidade e, no futuro, ser devolvido.

A entidade reforçou que “as sanções econômicas contra o Irã, estabelecidas pelos EUA e em alinhamento com os interesses do governo federal, não devem ser aplicadas em caso de transporte de alimentos, assim como de medicamentos e equipamentos médicos.

“O transporte de comida está previsto no que se encaixa como ‘exceção humanitária’”, afirmou a entidade, em nota.

 

Folha de S.Paulo