Cem dias depois mercado se aproxima dos 15 centavos
13-11-2017

Depois de uma semana extremamente produtiva por ocasião dos eventos que ocorreram em São Paulo para celebrar a 9ª. edição do Jantar de Gala do Açúcar, a percepção da maioria dos participantes foi de que o mercado de açúcar está um pouco mais construtivo. Os preços mais baixos (aqueles 12.53 centavos de dólar por libra-peso observados no final de junho passado) ficaram para trás. Ninguém duvida mais disso. O que poderá vir adiante depende largamente do comportamento do preço do petróleo no mercado internacional e da trajetória da moeda brasileira em meio aos solavancos políticos no Brasil.

O mercado de açúcar, assim, acabou encerrando a semana cotado a 14.96 centavos de dólar por libra-peso, o preço mais alto dos últimos 100 dias. Na semana, foi uma valorização de 58 pontos no vencimento março, ou quase 13 dólares por tonelada. Os demais meses de negociação fecharam com alta entre 25 e 48 pontos. Não fosse pelo volume enorme de rolagem de outubro para março feito pelas usinas na esperança de fixarem a melhores preços, certamente o mercado hoje estaria acima dos 16 centavos de dólar por libra-peso.

Existe quase um consenso entre as tradings/usinas acerca das previsões de moagem para a próxima safra de cana no Centro-Sul. Os números são muito próximos, na média (segundo gráfico elaborado pela Novacana) 589.2 milhões de toneladas de cana, o número da Archer é de 591 milhões de toneladas de cana. O que varia, e aí é a pergunta de um milhão de dólares, é sobre o mix. Mais cana será direcionada para o etanol embora a discussão seja o tamanho dessa mudança.

Solidifica-se o entendimento que algumas alterações factíveis, sejam no aumento da venda de veículos flex; ou na melhora da economia que impulsiona o consumo de combustíveis; ou na apreciação do petróleo no mercado internacional e seus reflexos imediatos no preço da gasolina na bomba; ou na valorização do dólar em relação ao real; ou ainda uma safra 2018/2019 que pode ter uma combinação de menos cana, menos ATR e canavial mais velho; ou uma combinação de todos esses fatores em diferentes dosagens, podem tirar 4 milhões de toneladas de açúcar do circuito.

O mercado já absorveu isso? Não. Os fundos estão preocupados com isso? Com certeza, não. Mas, uma posição vendedora do tamanho da que os fundos possuem, faz com que o gestor às vezes se canse de carregar por longo tempo um portfólio que não agrega mais valor. Num dado momento pode haver uma virada de mão por parte dos fundos. Isso ocorreu com o café no ano passado e é possível ocorrer no açúcar. Porém - e sempre tem um porém - o volume de fixações pendentes por parte das usinas é um enorme fator inibidor de alta. Por outro lado, o lançamento do programa RenovaBio ainda este ano (uma crença nas rodas movidas ao mais puro malte escocês) pode potencializar a correção do mercado. E é nesse momento que a irracionalidade entra em cena protagonizada por fundos vendidos a descoberto. E nós sabemos o que isso significa, não?

Fui gentilmente inquirido durante os eventos da semana sobre minha suposta "má vontade" nos meus comentários semanais acerca das operações de balcão no mercado de açúcar. Bem, correndo o risco de ser repetitivo, acho que já falei aqui que trabalhei numa empresa (Copersucar) que foi a pioneira na utilização desses produtos de balcão numa época (1996) em que eles eram completamente desconhecidos no mercado de commodities e oferecidos timidamente por pouquíssimas instituições financeiras.

O que vejo hoje, da parte de alguns provedores desses instrumentos, é uma abordagem predatória. Não alertam, nem se importam com o cliente sobre a extensão do risco que ele está correndo em determinadas operações. Parecem visar apenas o spread de volatilidade e a margem. O que ocorre é que quando uma operação não funciona a contento para o cliente ou ele se vê numa situação em condição pior do que estava antes dela, ele não opera derivativos de balcão nunca mais. E todo o mercado perde com isso. Por isso, conheça bem seu fornecedor antes de fazer negócios com ele. Simples assim.

Lula não será candidato em 2018. Será novamente condenado em março ou abril de 2018 além de ter sua pena aumentada pela corte de segunda instância. Articula nos bastidores a possibilidade de não ser preso em troca da retirada de sua candidatura. Uma vergonha para as instituições se isso se confirmar. O lugar de Lula é atrás das grades junto com todos os bandidos da organização criminosa que preside.

As eleições do próximo ano trarão enorme volatilidade ao dólar e as usinas devem ficar atentas as possibilidades que sempre surgem em tempos de incerteza. Monitore as variações da moeda americana juntamente com a curva de NDF (contrato a termo de dólar com liquidação financeira) pois uma antecipação de câmbio (pre-hedge) certamente será interessante.

Vale aqui mencionar o evento promovido pela Copersucar no Palácio Tangará, em São Paulo, durante a semana do açúcar. Raras são as oportunidades de rever tantos amigos e colegas do setor de várias gerações, dos quatro cantos do planeta açúcar, num evento de puro entretenimento para os comensais. Alguém comentou que uma festa como essa - irrepreensível e imperdível - ocorreu mesmo com o mercado a 14 centavos de dólar por libra-peso, o que aconteceria se o contrato 11 estivesse a 25 centavos de dólar por libra-peso? O Palácio de Buckingham, talvez? 2019 tem mais.

Arnaldo Luiz Corrêa