Cientista cria polímero de bagaço de cana que substitui o petróleo na produção de plástico
31-01-2020

Cientista Antonio Burtoloso, da USP, descobre polímero que pode substituir o petróleo (Foto: Divulgação/USP)
Cientista Antonio Burtoloso, da USP, descobre polímero que pode substituir o petróleo (Foto: Divulgação/USP)

O produto obtido a partir da cana-de-açúcar poderia ser usado na fabricação de painéis de veículos e para produzir alguns tipos de espumas

O seu nome é meio complicado: valerolactona. Mas o seu uso pode simplificar – e tornar mais sustentável – a produção de plásticos industriais. Um cientista brasileiro anunciou nesta semana, na renomada revista Green Chemistry, a criação de um polímero feito a partir do bagaço de cana-de-açúcar, subproduto que contém a valerolactona (que é um líquido incolor) e origina moléculas de carbono semelhantes àquelas obtidas a partir do petróleo.

Segundo Antônio Burtoloso, do Instituto de Química de São Carlos (IQSC), órgão ligado à Universidade de São Paulo (USP), o polímero foi obtido a partir de duas moléculas de valerolactona (cada uma possuía cinco átomos de carbono) originando uma molécula com 10 átomos de carbono (C10). “O carbono é o elemento químico fundamental para a produção de diversos produtos e, normalmente, ele é obtido a partir do petróleo, que é uma fonte não-renovável”, explica.

No Brasil, segundo o Instituto de Economia Agrícola (IEA), são produzidos cerca de 166 milhões de toneladas de bagaço de cana, subproduto originado da fabricação de etanol e açúcar, e parte deste volume é descartada. “Não precisamos plantar cana para produzir o polímero, podemos reaproveitar o produto que já está nas usinas”, diz.

O polímero de bagaço de cana, de acordo com o cientista, pode ser usado na fabricação de painéis de carro e alguns tipos de espumas, leva 24 horas para ser produzido em laboratório, em uma reação de transformação simples. Por ser uma alternativa sustentável, o produto faz parte do rol de descobertas científicas que visam substituir o uso do petróleo para a fabricação de plástico industrial.  “Novos métodos precisam surgir para substituir o petróleo”, afirma.

De acordo com o cientista, alguns países já começam a instituir metas para a substituição gradativa de 20% e 30% do carbono proveniente do petróleo por fontes verdes.

  • VIVIANE TAGUCHI
  • REVISTA GLOBO RURAL