Com fundo de impacto, Bonsucro busca projetos para apoiar sustentabilidade na cana
11-03-2022

A plataforma internacional Bonsucro, de certificação sustentável da produção de cana-de-açúcar, lançou um fundo de impacto, o Bonsucro Impact Fund (BIF), para investir em projetos que promovam práticas social e ambientalmente sustentáveis da produção da cultura em vários países produtores.

Produção sustentável

Em sua primeira busca de projetos para apoiar, a Bonsucro abriu duas chamadas. Uma é voltada para projetos de promoção da produção sustentável junto a comunidades e pequenos produtores, que tenham menos de 25 hectares de terras. Serão selecionados três propostas, que receberão 30 mil libras cada, com necessidade de cofinanciamento de 7,5 mil libras dos proponentes ou de outros financiadores.

O cultivo da cana é realizado por cerca de 100 milhões de agricultores em todo o mundo, e em muitos países os pequenos produtores são predominantes. Na Tailândia, segundo maior exportador de açúcar do mundo, 70% da produção de cana vem de propriedades com menos de 10 hectares. Na Índia, há 6 milhões de pequenos produtores dedicados ao cultivo da gramínea.

Segundo a Bonsucro, esses pequenos produtores são especialmente vulneráveis aos impactos das mudanças climáticas, e também enfrentam problemas como degradação do solo, trabalho infantil, uso excessivo de agroquímicos, falta de colaboração entre usineiros e agricultores e o uso insustentável dos recursos hídricos.

Redução de emissões

A segunda chamada é para projetos que reduzam as emissões de gases do efeito estufa ou gerenciem melhor o uso de água no cultivo da cana. Para essa chamada serão selecionadas duas propostas, que também receberão 30 mil libras cada, com subsídio de até 20 mil libras do BIF e cofinanciamento das demais 10 mil libras.

A Bonsucro lembra que a cultura da cana tem alto consumo de água. Um levantamento do WWF e do Rabobank realizado em 2017 concluiu que, em algumas regiões da Índia, a cana consome 60% da água disponível para a agricultura, embora só represente 3% a 4% da área agrícola do país.

Os rejeitos líquidos também são outro problema da cultura. Pesquisas da Austrália descobriram que corpos d´água em áreas de cana-de-açúcar continham altas concentrações de moléculas de agrotóxicos na cultura.

Consumo de água

A plataforma vê espaço de melhorias para o consumo de água, assim como de redução de emissão de gases de efeito estuda na cultura. Segundo a Bonsuco, as operadoras certificadas conseguiram reduzir seu uso de água pela metade após seis anos de certificação. Da mesma forma, propriedades certificadas também reduziram as emissões de gás carbônico equivalente em 18% após cinco anos de certificação, e 55% após oito anos de certificação.

A plataforma deve selecionar projetos dos países considerados prioritários: Brasil, México, Guatemala, Costa Rica, Honduras, Colômbia, Argentina, República Dominicana, África: África do Sul, Camarões, Eswatini, Maurício, Quênia, Índia, Tailândia, Paquistão e China. Para a chamada de projetos de pequenos produtores, também podem ser inscritas propostas de Belize.

Os valores aportados pelo fundo de impacto foram levantados pela Bonsucro através de sua plataforma de créditos de certificados de sustentabilidade de produção de canaetanolaçúcar ou melaço, e que é negociada entre produtores certificados e compradores que têm metas de sustentabilidade para alcançar. A Bonsuro cobra um valor de 50% sobre as transações, que compõe hoje o BIF.

A ideia é que as propostas sejam apresentadas de forma colaborativa, e deem um horizonte de ganho de escala para as práticas propostas. Ao menos um dos proponentes já terá que ser associado à Bonsucro. As propostas deverão ser apresentadas até 25 de maio, e a seleção final será anunciada em setembro.

Fonte: Valor Econômico
Texto extraído do boletim SCA