Como evitar a resistência de pragas na cultura da cana
26-11-2020

 Broca-da-cana causa impactos sobre a produtividade (t cana/ha) e também sobre a qualidade da matéria-prima. Foto: Arquivo CanaOnline
Broca-da-cana causa impactos sobre a produtividade (t cana/ha) e também sobre a qualidade da matéria-prima. Foto: Arquivo CanaOnline

Pesquisadora do IAC, Leila Luci Dinardo-Miranda alerta para os perigos da prática. Segundo ela, produtores e usinas devem rotacionar produtos e modos de ação para não selecionar indivíduos resistentes

Leonardo Ruiz

Um levantamento do instituto de pesquisa Spark, de 2019, afirmou que o manejo químico da broca-da-cana (Diatraea saccharalis) no Brasil é realizado com apenas dois modos de ação. 68,7% da área é tratada com os Diamidas, com destaque para as moléculas Chlorantraniliprole e a Flubendiamida. O restante – 31,3% - recebe aplicação de fisiológicos, majoritariamente do grupo das Benzoilureias.

No entanto, a pesquisadora do Instituto Agrônomico (IAC), da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, Leila Luci Dinardo-Miranda, alerta para os perigos dessa prática. Segundo ela, embora eficiente no controle da broca, esse tipo de manejo pode levar a evolução da resistência da praga aos inseticidas aplicados.

Leila Luci Dinardo-Miranda: “A preocupação com a broca é ainda maior, uma vez que ela possui características reprodutivas que facilitam o crescimento de populações resistentes”

Foto: Leonardo Ruiz

“De fato, as diamidas e os fisiológicos disponíveis no mercado brasileiro são muito eficientes no controle da broca. Por isso, são tão utilizados. Mas, por serem inseticidas de alta performance, eles exercem uma pressão de seleção muito grande sobre as populações. Essa é a preocupação, pois seu uso constante poderá selecionar indivíduos resistentes, que irão se multiplicar entre si e, num determinado momento, poderão suplantar os suscetíveis e se tornarem predominantes. Nesse momento, os produtos deixarão de funcionar.”

Evolução de indivíduos resistentes após o uso contínuo do mesmo inseticida

Fonte: Leila Luci Dinardo-Miranda

A pesquisadora do IAC salienta que a broca possui características reprodutivas que facilitam o crescimento de populações resistentes, como várias gerações durante o ano e alta oviposição. Para Leila, esses fatores, aliado ao alto desempenho dos inseticidas registrados para a praga, interferem na velocidade com que a resistência se instale dentro de uma população.

Rotação de moléculas e modos de ação é vital para o manejo da resistência

Para evitar que a broca desenvolva resistência aos inseticidas, é necessária uma mudança de ideologia. O primeiro passo é parar de usar o mesmo produto de modo contínuo no mesmo ciclo e/ou na mesma área, uma vez que esse ato remove seletivamente apenas os indivíduos suscetíveis, mantendo na população os resistentes, que sobrevivem à aplicação.

“Temos que usar inseticidas de grupos e modos diferentes a cada aplicação. Uma usina não pode comprar 100% de um determinado produto e usá-lo a vida inteira. Tem que haver rotação”, alerta a pesquisadora do IAC.

Recentemente, a Corteva Agriscience, companhia formada a partir das heranças da Dow, DuPont e Pioneer, lançou no mercado nacional um novo inseticida para a broca-da-cana. O Revolux alia em sua formulação duas moléculas inéditas para cana-de-açúcar: Espinetoram e Metoxifenozida, sendo ideal para rotação de ativos, pois seu modo de ação também difere das Diamidas e fisiológicos presentes no mercado nacional.

Novos entrenós com ausência de danos são vistos após aplicação de Revolux

Foto: Divulgação Corteva

O novo inseticida da Corteva possui rápida velocidade de ação sobre as lagartas; é adequado para manejo integrado com inimigos naturais; entrega alta performance mesmo em condições de alta pressão da praga e possui excelente período de controle. Indicado para aplicações desde as primeiras infestações, Revolux pode ser aplicado até duas vezes por ciclo da cultura.

“Já trabalhei com esse novo produto e afirmo que ele é bastante interessante. São moléculas diferentes e que não estavam disponíveis para a cultura de cana-de-açúcar até então. Definitivamente, é um inseticida muito bom e que veio contribuir para o manejo, não apenas da resistência, mas da broca de forma geral”, conclui Leila.

Fonte: CanaOnline