Como nasce uma variedade RB
21-07-2015

O Programa de Melhoramento Genético da Cana-de-açúcar (PMGCA) da UFSCar, parte integrante da Rede Interuniversitária para o Desenvolvimento do Setor Sucroenergético (RIDESA), reconhecido nacional e internacionalmente como líder no desenvolvimento de novas variedades de cana-de-açúcar participa do evento, é caracterizado como grupo de ensino, pesquisa e extensão. Está sediado no Centro de Ciências Agrárias (CCA), em Araras, SP, e tem como objetivo a obtenção de variedades de cana-de-açúcar melhoradas e adaptadas às diferentes condições edafoclimáticas, ou seja, superiores às variedades cultivadas comercialmente. Além da UFSCar, outras nove universidades federais fazem parte da RIDESA, sendo que as variedades liberadas possuem a sigla RB (República Federativa do Brasil). 

Segundo os pesquisadores Thiago Balsalobre, Roberto Chapola e Igor Nunes, do PMGCA UFSCar, a área cultivada com cana-de-açúcar no Brasil já é superior a nove milhões de hectares e a participação das RB’s é seguramente maior que 65% desse total. Entre as dez variedades com maior participação no Centro-Sul, seis são variedades RB. A variedade RB867515 é a mais cultivada no país; de acordo com levantamento feito pelo PMGCA da UFSCar em 121 unidades produtoras dos estados de São Paulo e Mato Grosso do Sul em 2014, a representatividade da RB867515 foi de 27,3%, ou seja, mais de um milhão de hectares cultivados. “Em 2015, quatro novas variedades RB (RB975952, RB985476, RB975201 e RB975242) serão liberadas pelo PMGCA da UFSCar”, destacam os pesquisadores.
O melhoramento genético da cana-de-açúcar é realizado a partir de cruzamentos entre genótipos de interesse que congregam características desejáveis para o setor e sucessivas avaliações com seleção dos melhores genótipos. Os cruzamentos que irão gerar as populações a serem avaliadas são realizados pela RIDESA em suas Estações de Cruzamentos, localizadas nos Estados de Alagoas e Pernambuco, que reúnem condições climáticas favoráveis ao florescimento e à obtenção de sementes viáveis de cana-de-açúcar.
Balsalobre, Chapola e Nunes explicam que, para que seja possível alcançar grande variabilidade genética nas populações que serão avaliadas, são mantidos nas Estações de Cruzamentos Bancos de Germoplasma com grande número de acessos. Após a realização dos cruzamentos, cada universidade integrante da RIDESA recebe as suas sementes para iniciar o processo de seleção. Este processo é constituído por diversas fases de seleção, durante vários anos e em diferentes condições edafoclimáticas. Todo este processo, desde a realização do cruzamento até a liberação de uma nova variedade de cana-de-açúcar, pode levar de 12 a 15 anos de pesquisa.

UFSCar

A pesquisa para o lançamento de variedades de cana-de-açúcar com alta produtividade e resistência a doenças tem norteado os trabalhos do PMGCA da UFSCar que conta, desde 2014, com uma nova sede construída com recursos próprios e que abriga o corpo técnico do melhoramento genético convencional e o Laboratório de Biotecnologia de Plantas para pesquisas com biologia molecular e engenharia genética. Os pesquisadores relatam que a infraestrutura criada possui área construída de 1.306 m2 e conta com 30 postos para pesquisadores do melhoramento convencional, 25 postos para pesquisadores da biotecnologia, sala de reuniões com vídeo conferência, auditório, biblioteca, área de descanso, estacionamento próprio, entre outros. O valor total do investimento ultrapassa R$ 6 milhões, sendo o recurso oriundo das empresas conveniadas do setor sucroenergético com a Fundação de Apoio Institucional (FAI) da UFSCar e órgãos de fomento governamental (BIOEN-FAPESP, FINEP, PETROBRÁS, CNPq, INCT-BIOETANOL). Atualmente são 172 empresas parceiras, entre associações de produtores e usinas de açúcar e etanol dos Estados de São Paulo e Mato Grosso do Sul.
“O PMGCA da UFSCar se consolidou ao longo dos anos de existência cumprindo plenamente o tripé de ensino, pesquisa e extensão com o apoio de instituições públicas e privadas e hoje possui um arcabouço de variedades reconhecidas pelos produtores”, afirmam. O PMGCA mantém continuamente estagiários dos cursos de graduação do CCA. Anualmente abrem-se inscrições para o estágio e, neste momento, estão vinculados ao PMGCA 24 estagiários, sendo 10 do curso de Engenharia Agronômica, 10 do curso de Biotecnologia, três do curso de Biologia e um do curso de Agroecologia. Além dos alunos de graduação, quatro estudantes de mestrado do Programa de Pós-Graduação em Produção Vegetal e Bioprocessos Associados desenvolvem os trabalhos de pesquisa em colaboração com o PMGCA. Os pesquisadores vinculados ao PMGCA são, em sua maioria, ex-alunos da UFSCar e ex-estagiários do PMGCA. “Todo este cenário favorece a continuidade e a inserção de novas tecnologias que promovam melhorias nos processos que envolvem a liberação de variedades de cana-de-açúcar mais produtivas”, finalizam Balsalobre, Chapola e Nunes.

Veja mais notícias na Revista CanaOnline, visualize no site ou baixe grátis o aplicativo para tablets e smartphones – www.canaonline.com.br.