Conheça projeto da UFSCar que estuda o consórcio da cana com o dendê
26-05-2015

O objetivo é estudar alternativa para ocupar áreas não mecanizáveis e substituir o diesel usado nas usinas por biodiesel

Mecanizar a colheita de cana-de-açúcar é uma tendência não apenas no estado de São Paulo, mas em todo o país. No entanto, nem todas as área hoje ocupadas por canaviais podem ser colhidas por máquinas pela alta declividade.

A princípio, pela própria dificuldade em se desenvolver tecnologias para a colheita mecanizada em áreas declivosas, estas áreas devem ser colhidas manualmente, mas considerando a pressão ambiental e da legislação pelo fim do corte com queima, os custos cada vez mais elevados em manter frentes de colheita manual e o déficit de mão de obra em várias regiões para realizar este trabalho, a tendência é de as propriedades canavieiras abandonarem estas áreas para o plantio de cana-de-açúcar e buscarem culturas alternativas.

A Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) e a Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) estão implantando um projeto que visa estudar a viabilidade do consórcio entre a cana e o dendê, o que pode ajudar o setor sucroenergético a encontrar alternativa para ocupar áreas com declividade.

No Campus da UFSCar de Araras, onde funciona o departamento de Ciências Agrárias da instituição, serão plantados alguns hectares de dendê já no segundo semestre de 2015, com a finalidade de se estudar a adaptação da planta às condições edafoclimáticas da região. Este tipo de planta precisa de alta concentração pluviométrica e concentração solar. Por isso, é uma palmácea que se desenvolve em qualquer região do globo próxima à linha do Equador – como Amazônia brasileira, Colômbia e Sudeste asiático. No entanto, a Embrapa já tem realizado pesquisa de adaptação do dendê irrigado em sua unidade Cerrados, em Planaltina, DF, com resultados muito satisfatórios.

“Em Planaltina, tem ocorrido uma quebra de paradigmas para esta cultura pela distância entre o Distrito Federal e a linha do Equador. Agora o nosso objetivo é continuar quebrando paradigmas, ao tentar implantar o dendê mais longe ainda da linha equatorial, em Araras, SP. Pretendemos obter os mesmos resultados que o pessoal da Embrapa está conseguindo em Planaltina”, explica o professor Márcio Ávila, da UFSCar. Segundo ele, a plantação no interior paulista será totalmente irrigada.

Segundo ele, a ideia é ter um vegetal que produza muito óleo por hectare, com alta produtividade, assim como a cana produz muita sacarose por hectare. Desta forma, uma unidade sucroenergética pode, produzindo tanto cana como óleo de dendê, ter dois combustíveis renováveis: etanol e biodiesel.

“A ideia é aproximar os dois cultivos, já que a mecanização agrícola está inviabilizando a cana nas regiões de declividade acentuada, onde a colhedora não pode entrar. Produzindo estas duas culturas, a usina terá matéria-prima suficiente para gerar dois produtos importantes para substituir os combustíveis fósseis – etanol da cana e óleo vegetal para a produção de biodiesel, inclusive em quantidade suficiente para substituir o diesel que a própria usina utiliza em sua frota.”
De acordo com ele, uma usina poderia instalar uma unidade para a produção deste biodiesel utilizando do óleo advindo do dendê. Inclusive usando do próprio etanol no processo de transesterificação do biodiesel (rota etílica).
Outra vantagem do consórcio entre cana e dendê estaria na possibilidade de utilizar a vinhaça para a fertirrigação das palmáceas. “Desta forma, se pode fertirrigar a plantação de dendê. E a vinhaça tem grande concentração de potássio, que é o principal macronutriente demandado por esta cultura.”

Porém, um dos questionamentos que fica é se seria viável para as usinas deslocarem sua vinhaça para as áreas de dendê, uma vez que já utilizam desse subproduto da indústria nos canaviais. Além disso, será que apenas a fertirrigação seria suficiente para suprir a demanda por água desta palmácea? É necessário estudar a viabilidade de se irrigar esta cultura com sistemas próprios de irrigação com água, lembrando que a própria atividade canavieira tem tido problema de obter outorga de captação de água no estado de São Paulo.

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