Consumidor de chá enfrenta escassez de açúcar no Egito
25-10-2016

Laila El-Sayed passou a tarde percorrendo as mercearias do movimentado bairro de Dokki, no Cairo, à margem do Rio Nilo, em busca de açúcar.

Ela conseguiu encontrar dois pacotes em uma loja estatal por 10 libras egípcias (US$ 1,13) cada saco de um quilo, o dobro do que pagou em agosto. Em outras partes do Cairo, os consumidores esperam em longas filas e os supermercados limitam a compra a um ou dois pacotes por cliente.

"Eu bebo chá em média cinco vezes ao dia com duas colheres de açúcar. Meu marido bebe com três colheres", disse ela. "Agora temos que cortar até o chá que tomamos?".

Após seis anos de distúrbios, ataques terroristas e de um colapso do setor do turismo, a economia do Egito tem sido prejudicada por uma inflação galopante e pela escassez de moeda estrangeira, o que dificulta a importação de commodities básicas. Ao mesmo tempo, os preços do açúcar estão subindo em todo o mundo devido a problemas de oferta na Ásia e a uma safra menor que a esperada no Brasil, o maior produtor mundial.

A escassez está sendo sentida de forma especial no Egito, onde o chá bastante açucarado é uma das bebidas mais populares das cafeterias. Em um estabelecimento de Dokki, o preço da xícara de chá subiu 14 por cento, para 4 libras, disse Ahmed Ali, que trabalha no lugar.

O Egito consome cerca de 3 milhões de toneladas de açúcar por ano, mas produz pouco mais de 2 milhões de toneladas, segundo dados do Departamento de Agricultura dos EUA (USDA, na sigla em inglês). O órgão estima que o país importará 830.000 toneladas na safra 2016-2017.


Duas opções

"Os importadores são forçados a comprar dólares no mercado negro, por isso os traders têm duas opções -- incluir o dólar no preço final ou desistir da commodity de uma vez", disse Mohamed Hamza, pesquisador sênior do escritório do Usda no Cairo.

"Isso se aplica a todas as importações e não apenas ao açúcar, mas como o açúcar é uma commodity muito sensível, as pessoas agora sentem isso", disse ele.

Um índice global da Organização das Nações Unidas (ONU) de preços do açúcar no varejo subiu 47 por cento neste ano e caminha para o maior aumento anual desde 2009. No Bloomberg Commodity Index, os futuros do açúcar subiram mais do que qualquer outra matéria-prima neste ano.

Para aliviar a crise, o braço estatal de trading do Egito anunciou planos para comprar açúcar e o governo prometeu criar estoques que durariam seis meses. A Autoridade Geral para Abastecimento de Commodities comprou 134.000 toneladas de açúcar em uma licitação em 15 de outubro e o país tem contratos para importar 450.000 toneladas. O Ministério do Abastecimento informou no domingo que o governo planeja injetar 50.000 toneladas de açúcar no mercado a 5 libras egípcias o quilo para quem possui cartões de subsídios e a 7 libras por quilo para a indústria.

Salma El Wardany