Crise abala fama de elétricas de boas pagadoras de dividendos
08-12-2014

As ações das companhias do setor elétrico, favoritas dos investidores que têm foco em bons pagamentos de dividendos, passam por um momento difícil, mas ainda inspiram expectativas positivas.

A queda na distribuição de dividendos por parte das empresas do setor beira os 20% nos últimos dois anos, segundo cálculos do economista Clodoir Vieira, da consultoria Compliance.

"De setembro de 2010 a setembro de 2012, as elétricas pagaram R$ 34,64 bilhões em dividendos. Esse número caiu para R$ 27,94 bilhões no período seguinte, de setembro de 2012 a setembro de 2014."

A partir da lei nº 12.783, de janeiro de 2013, que visava reduzir a conta de luz, as mudanças nas regras de concessão afetaram os ganhos de algumas dessas empresas.

Às voltas com a ameaça de racionamento causado pela recente escassez de chuvas, geradoras tiveram de recorrer a fontes mais caras, como as termelétricas, endividando-se e achatando ainda mais a rentabilidade.

"De dois anos para cá, quando a presidente resolveu, com uma penada, baixar o preço da energia, todo o setor se desestruturou, daí a necessidade de o governo ajudar as empresas com empréstimos. Essa confusão generalizada atingiu o ápice neste ano, com a falta de chuvas", afirma Fernando Leitão, diretor da Hoya Corretora.

Mas o atual cenário de diminuição da margem líquida do setor, que vem abalando a distribuição de dividendos, não significa que, necessariamente, as companhias continuarão pagando menos no futuro, segundo Fabiano Guasti Lima, pesquisador do Instituto Assaf.

É que, historicamente, as elétricas estão entre as melhores pagadoras. Isso ocorre porque elas já possuem infraestrutura montada --não precisam manter novos e altos investimentos-- e têm geração de caixa constante.


Momento

O baque atual nos dividendos é circunstancial, na opinião de Mário Amigo, professor de finanças da Fipecafi.

"Há uma série de circunstâncias que não necessariamente vão se propagar", diz Amigo, citando o baixo nível de chuvas, que reduziu a capacidade de distribuição de energia, e a obrigatoriedade de ajustar a oferta em leilões de custo mais alto.

Para Bruno Piagentini, analista da Coinvalores, as elétricas continuam sendo um setor atrativo para a distribuição de proventos.

"É importante para o investidor que busca dividendo ter atitude mais seletiva. Mas é um setor em que a demanda tende a ser constante", diz.

Ele cita companhias que, apesar de terem perdido parte da previsibilidade do fluxo de caixa, conseguiram conservar os dividendos, como a Light e a Copel.

Em 2014, os proventos (dividendos e juros sobre o capital próprio) oferecidos por companhias abertas brasileiras ficaram em R$ 0,63 por distribuição até o início deste mês, segundo estudo do Instituto Assaf com base em dados da BM&FBovespa.

Já o setor de energia distribuiu em média R$ 0,64 por evento de distribuição de proventos em 2014 até dezembro.

Como base de comparação dos patamares superiores das companhias elétricas no passado, em 2008, enquanto a média dos proventos por ação ficou em R$ 0,81, o setor de energia registrava R$ 1,81.

Joana Cunha