Dedini tem tecnologia para reduzir e até eliminar uso de água na produção sucroalcooleira
25-03-2022

Crédito da foto: Igor Serra
Crédito da foto: Igor Serra

Imagine uma usina de açúcar e etanol que, além de não usar a água dos mananciais em sua produção, ainda produz água. Pois essa usina existe, tem patente mundial e foi desenvolvida pela Dedini S/A Indústrias de Base. Tecnologias dessa natureza são cada vez mais importantes diante dos riscos constantes de crises hídricas, e ganham visibilidade nesse Dia Mundial da Água.

"Além de não precisar de captação externa para limpeza da cana e para os processos de conversão em etanol, cada tonelada de cana processada pode gerar um excedente utilizável de até 290 litros de água", destaca o engenheiro mecânico de produção e consultor sênior da Dedini Indústrias de Base, José Luiz Olivério.

A usina da Dedini que produz excedente de água, ou seja, que recicla a água contida na cana, se insere em um contexto maior. Faz parte da USD (Usina Sustentável Dedini), uma usina completa que engloba tecnologias já existentes com novas tecnologias e que produz um etanol que maximiza a mitigação de gases de efeito estufa.

Segundo Olivério, nos anos 1970 as usinas chegavam a utilizar um total de 15 mil litros de água de mananciais por tonelada de cana. Hoje, nas melhores usinas, esse consumo caiu para menos de mil litros.

"A cana é composta por 70% de água e a tecnologia Dedini permite que parte dessa água seja extraída, reciclada e disponibilizada para uso na própria usina ou em sistemas de fertirrigação. Trata-se de um sistema modular que pode ser implantado em quatro fases, sendo que cada uma possibilita um determinado nível de redução da captação externa de água", explica.

De acordo com o consultor, a primeira fase consiste na recuperação e condensação de parte dos vapores, evitando perdas e fugas, que podem ser reutilizados nos processos internos da usina. Na segunda fase, ocorre a substituição do sistema de lavagem da cana pela limpeza a seco por fluxo de ar, composto por uma série de esteiras que permitem a completa limpeza das impurezas.

A terceira realiza a concentração parcial da vinhaça (até 30% de teor de sólidos) e capta a água dessa evaporação. Essa fase utiliza ainda um sistema de resfriamento (chiller de absorção) para uso no controle da temperatura de fermentação do mosto da cana. Por fim, na quarta fase é realizada a concentração final da vinhaça.

"Na terceira fase, a usina atinge a autossuficiência e na quarta, produz o excedente de água, a bioágua, proveniente da própria cana. O processo de concentração da vinhaça faz com que o produto resultante tenha entre 60% e 65% de sólidos em seu teor, o que facilita seu uso como fertilizante", relata.

O engenheiro explica que concentrar a vinhaça possibilita a redução do número de viagens desse tipo de adubação e isso contribui para reduzir os custos de transportes e a pegada de carbono das usinas. No caso das usinas certificadas pelo RenovaBio, pode até contribuir para gerar mais créditos de carbono (CBios), a serem vendidos na Bolsa de Valores.

"Se a crise hídrica se aprofundar e ocorrer a ampliação do mercado de créditos de carbono, talvez essas unidades optem pela autossuficiência e até pela produção de excedentes de água. O certo é que esse será um caminho obrigatório para as usinas nos próximos anos", destaca.

DISPONÍVEL - Apesar de a tecnologia já estar disponível, o engenheiro Fernando Boscariol, Superintendente de Engenharia da Dedini, diz que até o momento nenhuma usina no Brasil avançou até a quarta fase. E complementa dizendo que algumas dessas usinas já foram parcialmente até a terceira fase e estão próximas de atingir a autossuficiência no uso da água nos processos de produção de açúcar e etanol.

"A Dedini tem fornecido vários equipamentos e instalações com esse objetivo, eliminando perdas de vapor nos processos e recuperando condensados, que são reutilizados na usina. Já forneceu, também, sistemas SLC (Separação e Limpeza a Seco da Cana e da Palha), sendo que a planta mais avançada está em início de operação, em uma usina na Flórida, nos Estados Unidos", diz.

Outra informação de Boscariol dá conta da existência de várias plantas de DCV (Dedini Concentração de Vinhaça), em usinas brasileiras, e de vários orçamentos de instalações de concentração final de vinhaça.

"Graças a essa tecnologia, pode-se produzir o Biofom (Biofertilizante Organo Mineral), também com tecnologia patenteada pela Dedini, em que se integram todos os resíduos e efluentes da usina: a vinhaça concentrada, a torta de filtro, as cinzas, a fuligem das caldeiras. Esse biofertilizante pode substituir de 60% a 80 % de todo o volume de fertilizantes que a cana necessita, dependendo das condições do solo e estágio da cultura", informa.

Como o Brasil é importador de fertilizantes, o uso de Biofom também beneficia a balança comercial do país, e dá maior segurança estratégica ao agronegócio, ao reduzir a dependência externa que, inclusive, está sujeita a entraves, como o que se verifica atualmente na possível crise de fornecimento de fertilizantes provenientes da Rússia.  

Flávia Paschoal

Marisa Massiarelli Setto

Toda Mídia Comunicação