Desde que a RIDESA surgiu, há 26 anos, a participação das RB nas áreas com cana subiu de 5% para 68%
18-11-2016

Conheça melhor a história do surgimento e as premissas que balizam o trabalho da Rede

Até 1988, a produção de açúcar e etanol no Brasil era fortemente regulamentada e subsidiada pelo Governo Federal. Com a promulgação da nova constituição federal em 1988, foi estabelecido um novo cenário para a política econômica, encerrando-se os programas de subsídios, dentre eles o PROÁLCOOL. Logo, todo o incentivo que havia para desenvolvimento de pesquisa com cana-de-açúcar, inclusive para o melhoramento genético, foi interrompido com a extinção do IAA (Instituto do Açúcar e do Álcool) em 1990 e, consequentemente, houve o encerramento do órgão PLANALSUCAR.

Nesse mesmo ano, a incorporação de unidades do extinto PLANALSUCAR por Universidades Federais abriu novas perspectivas, tanto para os pesquisadores, como para o setor canavieiro. Ocorreu uma medida acertada, com a transferência dos recursos humanos, das estruturas físicas e tecnológicas do PLANALSUCAR para as
Universidades Federais de Alagoas (UFAL), Rural de Pernambuco (UFRPE), Viçosa-MG (UFV), São Carlos-SP (UFSCar), Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), Paraná (UFPR) e Sergipe (UFS). A Nota Técnica da Secretaria do Desenvolvimento Regional da Presidência da República do Brasil, de 16/08/1990, definiu o modelo institucional para o programa de melhoramento da cultura da cana-de-açúcar, transferindo a responsabilidade dos trabalhos de pesquisa, antes afeto às antigas Coordenadorias Regionais do PLANALSUCAR, para essa rede de Universidades Federais, que a partir de então criaram a RIDESA (Rede Interuniversitária para o Desenvolvimento do Setor Sucroenergético).

Atualmente a RIDESA conta também com as Universidades Federais de Goiás
(UFG), Mato Grosso (UFMT) e Piauí (UFPI), e atuam conjuntamente através de um Acordo de Parceria. Entretanto, o mérito dessa transferência foi prejudicado pela falta de aporte de recursos do Governo Federal para a continuidade das pesquisas no desenvolvimento de cultivares RB. Os pesquisadores em melhoramento genético da cana-de-açúcar que permaneceram nas Universidades da RIDESA se organizaram e iniciaram a formatação dos primeiros projetos para captação de recursos financeiros, especialmente junto às usinas e destilarias produtoras de açúcar e etanol das diversas regiões do Brasil. Para tanto, houve a necessidade de divisão em áreas de atuação, de modo que os recursos financeiros da iniciativa privada fossem distribuídos e investidos nas Universidades visando fomentar as pesquisas e dar continuidade ao programa, especialmente o de melhoramento genético para o desenvolvimento de cultivares RB.

Mas essa transição não foi muito fácil, uma vez que sem recursos financeiros algumas Universidades tiveram muita dificuldade para viabilizar seus programas de melhoramento. Isso ocorreu, sobretudo, naqueles Estados com o menor número de usinas produtoras de açúcar e etanol.

Com isso foi estabelecido um modelo de pesquisa em rede, o qual tem sido consolidado na RIDESA nos últimos anos. As seguintes premissas para esse trabalho de pesquisa em rede são definidas no convênio de cooperação técnica firmado entre as Universidades:

I. O financiamento deve ser prioritariamente privado, fato esse que tem garantido fluxo contínuo de recurso financeiro no longo prazo para o desenvolvimento do programa.

II. Cada Universidade deve desenvolver o seu próprio PMGCA (Programa de Melhoramento Genético de Cana-de-açúcar) em parceria com as usinas, destilarias e fornecedores de cana do Estado ao qual está inserida, captando os recursos privados para tal;

III. Todas as Universidades devem auxiliar na manutenção do Banco de Germoplasma e das Estações Experimentais de Cruzamento, sendo este custo anual distribuído entre as Universidades e de modo proporcional à receita proveniente das parcerias com as empresas produtoras de cana;

IV. A Universidade deve registrar e proteger as suas variedades no Serviço Nacional de Proteção de Cultivares (SNPC), do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), sendo essas variedades licenciadas para as demais
Universidades integrantes da RIDESA;

V. O modelo de parceria com as usinas e destilarias deve envolver introdução, avaliação e seleção de clones RB com base em experimentos nas empresas. Ao mesmo tempo, as Universidades devem conceder, por meio de contrato, uma licença não exclusiva para uso de variedades RB;

VI. Entre as Universidades da RIDESA, deve-se realizar anualmente o intercâmbio de clones RB promissores, de modo que aqueles clones RB desenvolvidos em um Estado sejam avaliados em experimentos nas usinas e destilarias dos demais Estados.

Assim, as atividades de pesquisa da RIDESA são desenvolvidas e partilhadas entre todas as Universidades, estimulando-se o intercâmbio de informações, de conhecimento e de resultados. Isso aumenta muito a capacidade e a abrangência nacional dos resultados da pesquisa e inovação. A RIDESA não possui personalidade jurídica, pois foi constituída por meio de um convênio de cooperação técnica entre as Universidades. A administração superior tem sido feita pelos reitores das Universidades, que constituem uma coordenação e dentre eles é escolhido um Coordenador Geral. Entre os professores e pesquisadores envolvidos nas atividades do PMGCA das Universidades forma-se um conselho, sendo eleito um Coordenador Técnico Geral, com mandato de dois anos.

O modelo proposto pela RIDESA deu certo. Tanto que, na safra 1990/1991, as variedades RB representavam apenas 5% da área cultivada com cana-de-açúcar no Brasil, atingindo 68% no ciclo 2014/15. A evolução de cultivo das variedades RB nas empresas agroindustriais do Brasil comprova o êxito do programa de melhoramento da RIDESA.

Estas informações constam do livro “45 anos de Variedades RB de cana-de-açúcar – 25 anos de Ridesa”, lançado em 2015 e que foi organizado pelos pesquisadores Geraldo Veríssimo, Edelclaiton Daros e Ricardo de Oliveira.


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