Economista faz sítio quase falido virar negócio moderno, lucrativo e sustentável
21-01-2020

Após 20 anos como executiva do setor financeiro, Adriana realizou seu sonho de voltar para o campo
Após 20 anos como executiva do setor financeiro, Adriana realizou seu sonho de voltar para o campo

Adriana Castilho Suguimoto, que apostou na agricultura orgânica para reerguer o Sítio Bela Vista, será debatedora do IX Encontro Cana Substantivo Feminino

Texto: Leonardo Ruiz

Fotos: Arquivo Adriana Suguimoto

Há 40 anos, os negócios não iam nada bem para o agricultor João Castilho de Paula, proprietário do Sítio Nossa Senhora Aparecida, localizado em Juritis, um distrito situado às margens do Rio Tietê e pertencente ao município paulista de Glicério. A única fonte de renda da propriedade provinha da produção de leite. Nos anos 80, a agricultura familiar passava por momentos difíceis em decorrência de uma economia nacional estagnada, que “enterrou” toda a expansão vivida pelo Brasil na década anterior.

O patriarca não viu outra solução a não ser vender sua propriedade e migrar para a “cidade grande” em busca de melhores condições de vida, tornando-se naquele momento parte das estatísticas do triste fenômeno conhecido como “êxodo rural”. O produtor de leite arranjou um emprego como porteiro e seus filhos, ainda jovens, tiveram que trabalhar durante o dia e estudar a noite para ajudar nas contas de casa. A família nunca mais voltou para o campo.

Mandioca amarela orgânica é dos grandes sucessos no Sítio Bela Vista

Um dos filhos do Sr. João era Adriana Aparecida Castilho, que sempre manteve aceso o sonho de retornar para o cenário rural. Talvez por esse motivo tenha realizado – mesmo sem pretensões imediatas - um curso de administração rural após terminar suas faculdades de economia e análise de sistemas.

Por 20 anos, atuou em cargos ligados ao setor financeiro. Mas seu destino já estava traçado. Casou-se com Nivaldo Suguimoto, um agricultor da região paulista de Coroados, que ajudava sua família na gestão de uma propriedade rural.

Em 2001, com o falecimento do pai de Nivaldo, o sítio ficou “desamparado”. A família remanescente se mudou e a decisão de continuar ou não a produção de alimentos ficou a cargo do casal. A situação da propriedade não era das melhores. Dívidas se acumulavam e o solo estava deteriorado após anos e anos de atividades ininterruptas. “Com o dinheiro do meu acerto trabalhista, quitamos as contas e resolvemos tomar para nós o desafio de reerguer aquele sítio. Era hora de voltar para o campo”, relata Adriana.

Desde 2016, 100% da produção do Sítio Bela Vista é orgânica

Outrora uma propriedade degradada, sem vida e com uma produção quase morrendo, o Sítio Bela Vista hoje é sinônimo de negócio moderno, lucrativo e altamente sustentável. Tudo isso graças a agricultura orgânica. Desde 10 de fevereiro de 2016, nem uma gota de agroquímico chega as plantações de banana nanica, mandioca amarela, manga, caqui, abacate, jaca e coco verde.

Além de banana nanica, Sítio Bela Vista produz mandioca amarela, manga, caqui, abacate, jaca, coco verde...

“Nós produzimos alimentos para consumo humano. Por conta disso, entregamos à população o que a nossa família pode comer”, ressalta Adriana, que iniciou a transição do modelo convencional de produção para o orgânico em 2001.

Além da utilização de adubação verde e produtos à base de babosa, duas técnicas se destacam na produção orgânica do Sítio Bela Vista: pó de rocha e homeopatia rural. O primeiro é um condicionador de solo que substitui a adubação química. Com ele, os fungos e as bactérias se tornam as responsáveis pelo tratamento das plantas. É um processo fisiológico que envolve mais de 68 minerais. A planta vai se abastecendo de acordo com a sua necessidade do próprio solo.

Já a homeopatia rural atua como estimulante dos mecanismos de defesa a insetos e doenças. O tratamento tem o foco na causa e repara o desequilíbrio metabólico que prejudica o aproveitamento dos nutrientes - da água e do sol -, recuperando a defesa das plantas.

Na agricultura orgânica do Sítio Bela Vista, duas técnicas se destacam: pó de rocha e homeopatia rural

Adriana conta que a aposta nos orgânicos se deu em função de uma ideologia própria. “O cultivo convencional instituiu na cabeça do agricultor uma relação de troca com o solo. Hoje, o produtor rural não acredita mais na capacidade da terra, apenas na força do que ele coloca. É uma produção burra.” Segundo ela, o caminho é acreditar na agricultura de revitalização. “Não podemos apenas tirar do solo, mas devolver para ele também. Deixar com que a própria terra forneça segundo a sua capacidade.”

Para a produtora, a conscientização da população tem expandido muito, o que deve impulsionar o mercado de orgânicos no futuro próximo. “Participo ativamente de eventos voltados à agricultura orgânica. Além disso, faço parte do grupo paulista de agricultura sustentável. Nosso intuito é levar para o maior número de pessoas a importância deste tipo de cultivo.”

Atualmente, o Sítio Bela Vista possui, também, quatro hectares de árvores plantadas e uma diversificada fauna, que inclui aves, tatus, veados e sucuris. “Acredito ter cumprido a missão de retribuir o que Deus me deu.”

PARTICIPAÇÃO NO IX ENCONTRO CANA SUBSTANTIVO FEMININO

Adriana participará como debatedora no IX Encontro Cana Substantivo Feminino. Será no painel - Mulheres Rurais e o desenvolvimento sustentável - Exemplos de mulheres que produzem alimentos, geram renda e inovam na aplicação de boas práticas no campo

SERVIÇO

IX ENCONTRO CANA SUBSTANTIVO FEMININO

Quando: 19 de março de 2020

Onde:  No Centro de Cana do IAC em Ribeirão Preto, SP

Inscrições grátis, mas limitadas. Credenciamento: http://www.canaonline.com.br/conteudos/cana-substantivo-feminino.html