Efeitos da covid-19 no setor de etanol no Brasil e nos Estados Unidos, por Pietro Mendes
28-04-2020

Brasil e Estados Unidos são os dois maiores produtores de etanol do mundo com a produção de 32,8 e 59,8 bilhões de litros em 2019, respectivamente [1]. A COVID-19 gerou uma forte redução da demanda por combustíveis, notadamente do ciclo Otto e de aviação, e tem gerado repercussões nos preços do etanol, na estocagem e nos volumes de produção.

O início da safra no Brasil, segundo levantamento da Platts, demonstra que no principal hub do País, em Ribeirão Preto, o hidratado está sendo comercializado livre de impostos (ICMS e PIS/Cofins) a R$ 1,316/litro, abaixo do custo de produção estimado em R$ 1,377/litro [2].

Nos Estados Unidos, das 200 plantas de etanol dos EUA, 73 estão paradas e 71 reduziram o fator de utilização. Atualmente, os produtores de etanol de milho nos EUA estão operando 3 centavos de dólar/galão acima do ponto de equilíbrio no cinturão do milho (Corn Belt ETH-CB-REF). Diferente, portanto, do caso brasileiro em que operam no prejuízo [3].

No Brasil, houve pedido de suspensão das metas do RenovaBio ao Ministério de Minas e Energia pelas distribuidoras de combustíveis (parte obrigada a comprar os CBIOs) [4] e, nos Estados Unidos, os governadores de cinco Estados produtores de petróleo (Texas, Oklahoma, Wyoming, Utah e Louisiana) solicitaram a suspensão das obrigações de adição de biocombustíveis aos combustíveis fósseis no âmbito do Renewable Fuel Standard (RFS) com argumento nos impactos macroeconômicos da COVID-19.

Os produtores de biocombustíveis se opõem a esta solicitação, pois as obrigações de adição de renováveis (Renewable Volume Obligations -RVOs) possuem base percentual e não são volumes constantes [5].

O programa Low Carbon Fuel Standard (LCFS) da Califórnia, que serviu como inspiração para o RenovaBio, segue funcionando normalmente, e teve créditos de descarbonização negociados na última semana em torno de US$ 200,00/tonelada de CO2eq na semana de 13 a 19 de abril de 2020 [6].

Os dados divulgados pela Energy Information Administration (EIA) dos Estados Unidos mostram que os estoques de etanol possuem 5 milhões de barris a mais do que no ano passado (indo de 22,7 milhões para 27,7 milhões de barris). Já os estoques de gasolina são suficientes para 47,6 dias e, no mesmo período do ano passado, eram de 23,9 dias [7].

Dessa forma, os principais efeitos da COVID-19 no setor de etanol são a destruição da demanda por combustíveis; redução no preço do etanol, causando nos EUA interrupções na produção; e pressão das partes obrigadas (refinarias e distribuidoras) para suspender programas governamentais de estímulo da utilização de etanol como o RFS no caso norte-americano e o RenovaBio no caso brasileiro.

Pietro Mendes
Especialista em Regulação e assessor da Diretoria-Geral da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP). Este art
Fonte: Epbr