Em carta, empresários pedem a Mourão política de proteção à Amazônia
08-07-2020

Depois de um grupo de investidores estrangeiros apontar problemas na política do governo em relação à Amazônia, chegou a vez da comunidade empresarial. Um grupo de presidentes de grandes empresas nacionais e estrangeiras e entidades setoriais protocolou na segunda-feira, 6, na vice-Presidência da República e ao Conselho Nacional da Amazônia Legal, presidido por Hamilton Mourão, um comunicado em defesa da agenda do desenvolvimento sustentável e combate ao desmatamento na Amazônia.

O documento, que foi antecipado pelo jornal Valor Econômico, traz a assinaturas de cerca de 40 companhias, grupos empresariais e entidades, que dizem estar preocupados com a repercussão negativa da imagem do Brasil no exterior. Eles pedem a "atenção e preocupação com o impacto nos negócios da atual percepção negativa da imagem do Brasil no exterior em relação às questões socioambientais na Amazônia". "Essa percepção negativa tem um enorme potencial de prejuízo para o Brasil, não apenas do ponto de vista reputacional, mas de forma efetiva para o desenvolvimento de negócios e projetos fundamentais para o País", diz.

A iniciativa partiu do Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS), presidido por Marina Grossi. "A principal mensagem a Mourão é que as empresas e lideranças empresariais se colocam à disposição para o combate ao desmatamento ilegal. Precisamos disso o mais rapidamente possível. Além disso, queremos mostrar que a produtividade está ligada ao bom uso dos recursos naturais. O setor empresarial se preocupa e se coloca ao lado para combater o desmatamento no Brasil", afirmou.

"As empresas que estão na Amazônia cumprem a lei. É preciso combater a ilegalidade, de forma que realmente zere. Se não fizer isso, você dá sinal errado ao mundo, porque não tem segurança jurídica", disse Marina. "Manter a biodiversidade é uma forma de garantir que não tenha outras pandemias."

Para o presidente da Vedacit, Marcos Bicudo, a reação dos investidores estrangeiros pode ser uma oportunidade para o País mostrar que tem capacidade de combater o desmatamento. "A gente ainda não tem perdas contundentes, mas existem vários comunicados de grandes investidores com preocupação nesse sentido. Não se materializou, mas a gente quer evitar que chegue a esse ponto."

O grupo se coloca à disposição do governo para contribuir no combate ao desmatamento ilegal na Amazônia e demais biomas brasileiros; na inclusão social e econômica de comunidades locais para garantir a preservação das florestas; a minimização do impacto ambiental no uso dos recursos naturais, buscando eficiência e produtividade nas atividades econômicas daí derivadas; e na valorização e preservação da biodiversidade como parte integral das estratégias empresariais.

Além disso, os executivos pedem a adoção de mecanismos de negociação de créditos de carbono; no direcionamento de financiamentos e investimentos para uma economia circular e de baixo carbono; e no pacotes de incentivos para a recuperação econômica dos efeitos da pandemia da covid-19 condicionada a uma economia circular e de baixo carbono.

"A retomada verde, pós-pandemia, é algo que temos visto com consenso no mundo e é algo não cristalizado no Brasil, nas políticas públicas. Vimos a necessidade de explicitar isso em carta", disse Tiago Alves, presidente da Sunew, uma das empresas que assinam o documento.

Na mensagem, que também será entregue ao Supremo Tribunal Federal, Senado Federal, Câmara dos Deputados e na Procuradoria Geral da República (PGR), os signatários dizem que é necessário "fazer as escolhas certas agora e começar a redirecionar os investimentos para enfrentamento e recuperação da economia brasileira em um modelo de economia circular, de baixo carbono, e inclusiva, em que não há controvérsias entre produzir e preservar".

Leia a íntegra do comunicado

Neste momento, em que enfrentamos uma situação extrema, extraordinária e excepcional, é muito importante manter a serenidade e o equilíbrio para que possamos superar e sair fortalecidos dos desafios que se apresentam. Em nenhum momento da história o futuro da humanidade e do planeta dependeu tanto da nossa capacidade de entendimento de que vivemos em um único planeta e de que a nossa sobrevivência está diretamente ligada à preservação e valorização dos seus recursos naturais.

Os impactos sociais e econômicos causados em escala global e de forma inédita pela pandemia da COVID-19 nos advertem que a consumação de riscos associados à quebra do equilíbrio ecossistêmico traz consequências devastadoras quando negligenciados, tal como vem ocorrendo com o risco climático apontado pelo Fórum Econômico Mundial ano após ano, desde 2012.

Cientes disso, o setor empresarial brasileiro, por meio de instituições e empresas dos setores industrial, agrícola e de serviços, vêm hoje reafirmar seu compromisso público com a agenda do desenvolvimento sustentável.

Particularmente, esse grupo acompanha com maior atenção e preocupação o impacto nos negócios da atual percepção negativa da imagem do Brasil no exterior em relação às questões socioambientais na Amazônia. Essa percepção negativa tem um enorme potencial de prejuízo para o Brasil, não apenas do ponto de vista reputacional, mas de forma efetiva para o desenvolvimento de negócios e projetos fundamentais para o país.

Nesse contexto, esse grupo coloca-se à disposição do Conselho da Amazônia para contribuir com soluções que tenham foco nos seguintes eixos:

* Combate inflexível e abrangente ao desmatamento ilegal na Amazônia e demais biomas brasileiros;

* Inclusão social e econômica de comunidades locais para garantir a preservação das florestas;

* Minimização do impacto ambiental no uso dos recursos naturais, buscando eficiência e produtividade nas atividades econômicas daí derivadas;

* Valorização e preservação da biodiversidade como parte integral das estratégias empresariais;

* Adoção de mecanismos de negociação de créditos de carbono;

* Direcionamento de financiamentos e investimentos para uma economia circular e de baixo carbono; e

* Pacotes de incentivos para a recuperação econômica dos efeitos da pandemia da COVID-19 condicionada a uma economia circular e de baixo carbono.

Algumas das empresas signatárias já desenvolvem soluções de negócios que partem da bioeconomia, com valor agregado e rastreabilidade dos produtos, inclusive, na Amazônia. De um lado, entendemos que é possível dar escala às boas práticas a partir de políticas consistentes de fomento à agenda ambiental, social e de governança. De outro, é necessário adotar rigorosa fiscalização de irregularidades e crimes ambientais na Amazônia e demais biomas brasileiros.

Temos a oportunidade única, os recursos e o conhecimento para dar escala às boas práticas e, mais do que isso, planejar estrategicamente o futuro sustentável do Brasil. Precisamos fazer as escolhas certas agora e começar a redirecionar os investimentos para enfrentamento e recuperação da economia brasileira em um modelo de economia circular, de baixo carbono, e inclusiva, em que não há controvérsias entre produzir e preservar. Em nosso entendimento, esse é o melhor caminho para fincarmos os alicerces do país para as próximas gerações. Caso contrário, corremos o risco de ficarmos à margem da nossa própria história.

Veja abaixo a lista de empresas e entidades signatárias do comunicado ao setor empresarial brasileiro


Empresas

- Agropalma

- Alcoa

- Amaggi

- Ambev

- Bayer

- Bradesco

- BrasilAgro

- Cargill

- Cosan

- DSM

- Ecolab

- Eletrobras

- ERM

- Grupo Vamos

- Iguá

- Itaú

- Jacto

- JSL

- Klabin

- LVMH

- Marfrig

- Mauá Capital

- Michelin

- Microsoft

- Movida

- Natura

- Rabobank

- Santander

- Schneider Eletric

- Shell

- Siemens Energy

- Sitawi

- Stefanini

- Suzano

- Ticket Log

- TozziniFreire

- Vale

- Vedacit

- WeWork


Entidades

- Cebds

- Abag

- Abiove

- Iba

André Vieira e Felipe Siqueira
Fonte: O Estado de S. Paulo