Em entrevista, Marina evita responder se vai aumentar preço da gasolina
02-09-2014

Em entrevista ao "Jornal da Globo" na madrugada desta terça-feira (2), a candidata do PSB à Presidência, Marina Silva, evitou responder se vai aumentar o preço da gasolina caso venha a ser eleita presidente, mas sugeriu que esperava que o atual governo adotasse tal medida.

"Essa política desastrosa do governo, que está subsidiando gasolina, inclusive fazendo a importação desse combustível com um preço elevado, acabou destruindo a indústria do etanol. O que eu espero é que os preços administrados pelo governo possam ser corrigidos pelo próprio governo", disse Marina.

Questionada se ela queria que o governo desarmasse essa bomba para ela, respondeu: "Não, eu quero é que se tenha uma visão de país e não uma visão apenas das eleições. Essa visão tacanha de se pensar apenas em como vai ganhar o voto do cidadão e deixando a conta para depois, a conta da energia, a conta de todos os preços administrados, que senão a inflação estaria pior, isso não é a melhor governança". Ela evitou dizer se elevaria os preços caso isso não acontecesse.

Questionada se tomava decisões pelo processo denominado "roleta bíblica", Marina afirmou que "a Bíblia é sem sombra de dúvida uma fonte de inspiração" para qualquer cristão, mas que suas "decisões são tomadas com base racional". Mas, segundo ela, "uma pessoa que crê, obviamente, tem na Bíblia uma referência".

"Mas a senhora toma decisões lendo a Bíblia aleatoriamente?", perguntou a jornalista Christiane Pelajo. "Isso é uma forma que as pessoas foram construindo ou estão construindo para tentar passar uma imagem de que eu sou uma pessoa que é fundamentalista, essas coisas que muita gente de má-fé acaba fazendo", disse Marina, que observou, contudo, que "a Bíblia é sem sombra de dúvida uma fonte de inspiração para qualquer pessoa que é cristã".

No que diz respeito ao casamento gay, Marina declarou que ocorreu um erro na divulgação de seu programa de governo: "O que aconteceu foi que houve um erro de processo. A equipe do programa de governo foi quem fez a correção. Eu nem interferi nesse processo".

Segundo ela, "o documento que foi encaminhado como contribuição pelo movimento LGBT não foi considerado documento da mediação do debate, foi um documento tal qual eles enviaram. Vários setores mandaram contribuições e obviamente que nenhum setor colocou 100% das propostas que colocou. Eu mesma que sou ambientalista não iria ter a pretensão de que todas as propostas que eu apresentei iriam ficar ipsis litteris. Então o que aconteceu foi uma correção, porque houve uma mediação no debate. Mas os direitos civis da comunidade LGBT, o respeito à sua liberdade individual, o combate ao preconceito, isso está muito bem escrito no nosso programa".

Perguntada se ela era "contra ou a favor do casamento gay", respondeu: "A Constituição brasileira, ela tem uma diferenciação em relação ao casamento. O casamento é utilizado para pessoas de sexo diferente. Para pessoas do mesmo sexo, o que a lei assegura, o que o Supremo já deu ganho de causa com os mesmos direitos, equivalentes ao do casamento, é a união civil".

O jornalista William Waack perguntou então: "Se eu fizer uma manchete dizendo: a candidata Marina Silva é a favor do casamento gay, eu estou errado?" Ela respondeu: "Em termos da palavra casamento você está errado, porque o que nós defendemos é a união civil entre pessoas do mesmo sexo". Ele retrucou: "A manchete correta então seria: Marina Silva é contra o casamento gay?" Marina afirmou então: "A manchete seria: Marina Silva é a favor da união civil entre pessoas do mesmo sexo".

Sobre a questão da homofobia, Marina disse que a lei em tramitação "ainda não faz a diferenciação adequada em vários aspectos. Por exemplo, ninguém pode defender homofobia, qualquer forma de preconceito, discriminação. Por outro lado, você tem os aspectos ligados à convicção ou à manifestação de uma opinião. Você tem que separar isso. E na lei isso não está adequadamente claro".

Em relação ao que denomina crise da democracia brasileira, Marina declarou que é preciso "aprofundar sim a nossa democracia". Questionada se ela defendia a democracia direta por meio de conselhos populares, afirmou: "Não, é uma combinação das duas coisas. Ampliar a participação das pessoas, ao mesmo tempo melhorar a qualidade da representação e das nossas instituições... O que eu busco é aperfeiçoar a nossa democracia, democratizar a nossa democracia, combinando a participação correta e legítima, pelo o que é assegurado na Constituição, dos cidadãos. Nós somos eleitos para representar, não é para substituir o representado". Segundo ela, "isso não tem nada a ver com bolivarianismo".

Sobre a política econômica, Marina declarou que vai recuperar o tripé macroeconômico: "Nós estamos vivendo diante de uma situação em que essa conquista da sociedade brasileira está sendo completamente desconstituída. A presidente Dilma ganhou o governo dizendo que ia fazer a baixa dos juros, que iria reduzir a inflação e que iria fazer o nosso país crescer. O nosso país não está crescendo, a inflação está aumentando e os juros estão subindo. É fundamental que o país tenha estabilidade econômica para que a gente não perca as conquistas que já alcançamos, inclusive as conquistas sociais, e que a gente possa aumentar o investimento".

Ele negou que pretenda aumentar impostos -"o nosso compromisso é de não aumentar impostos"- e disse que vai "dar eficiência ao gasto público. Tem muitos desperdícios, inclusive o desperdício da corrupção, e quando o país volta a crescer, a gente vai conseguindo o espaço fiscal para poder fazer os investimentos sociais".