Endividamento rural é preocupação diante de baixos preços da soja
27-10-2014

Com a baixa cotação esperada para as principais commodities produzidas por Mato Grosso, os produtores apostam na produtividade para ter melhor rentabilidade e conseguir honrar com os compromissos já firmados para fugir do endividamento rural. O cenário nada animador de baixos preços no mercado pode comprometer os planos de que quem está no campo e, principalmente, de quem fez investimentos.

O produtor José Afonso Gonçalves, que vai cultivar quase 4 mil hectares de soja em duas propriedades em Deciolândia e Tangará da Serra, na região Centro-sul do estado, fez investimentos de R$ 7 milhões nas duas fazendas este ano em maquinários e no sistema de armazenamento de grãos. Para isso, ele deu entrada em dinheiro e fez um financiamento bancário.

Ele busca produtividade, o que requer investimentos. "Viemos fazendo um trabalho, já são anos investindo nas nossas terras pra que alcancemos altas produtividades. Assim você imagina se tiver um ano ruim de preço e não tiver produtividade, são dois fatores negativos ao mesmo tempo e aí a situação realmente fica muito difícil", analisa.

Dentre os investimentos, o produtor melhorou também a estrutura das propriedades, construindo mais uma unidade de armazenagem para agregar mais valor aos produtos, pagar menos frete e ter o produto guardado com segurança dentro das propriedades. "E também um investimento pesado em máquinas maiores, mais eficientes pra que que possamos assim ter uma janela de plantio e de colheita bem menor, buscando a melhor época pra ter uma melhor produtividade", afirma.

A preocupação do produtor é com o comprometimento das finanças. É preciso produzir bem para não ter dificuldades para pagar as contas. Segundo ele, para produzir, o endividamento torna-se necessário para o produtor rural. "É uma faca de dois gumes. Se você não investe, fica pra trás. Se você investe, de repente as coisas mudam o rumo e você fica com dívidas e não sabe como pagar", diz.

A apreensão de Gonçalves retrata a realidade de muitos agricultores no estado. Para a Associação dos Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso (Aprosoja-MT), o momento é de cautela, hora de analisar, principalmente os investimentos de curto e médio prazos para que o setor não tenha de passar pelo mesmo problema enfrentado há quase uma década.

O endividamento veio em função da crise do passado, de 2004, 2005, segundo o vice-presidente da Aprosoja-MT, Vanderley Reck Junior, mas grande parte dos produtores já fizeram a renegociação.

"O produtor está muito mais capitalizado nesse momento. Nós temos por volta de 35% a 40% dos produtores que hoje plantam com recurso próprio. Então isso é muito positivo para entrarmos em um cenário positivo que estamos entrando agora, com a receita muito baixa, porém o produtor capitalizado, estando com o pé no chão e consciente do cenário pela frente. Isso ajuda muito no equilíbrio nas tomadas de decisões dentro da propriedade", afirma.

Os anos de 2004 a 2007 ficaram marcados na memória de José Afonso como anos extremamente difíceis e ele acredita que, para o próximo ano, vai ser um ano mais difícil, no entanto, não como no passado. "O setor rural, de uma maneira geral, investiu bastante, tem bastante coisa para pagar, mas acreditamos ainda que, na atual conjuntura, conseguiremos pelo menos cobrir os custos de produção para sobrevivermos. Essa é a minha expectativa", comenta o produtor.

Para assistir a matéria completa divulgada pelo Portal G1, sábado (25), clique aqui: http://g1.globo.com/mato-grosso/agrodebate/noticia/2014/10/endividamento-rural-e-preocupacao-diante-de-baixos-precos-da-soja.html