Energia e pujança marcam geração e transferência de tecnologias canavieiras pelo Programa Cana IAC
24-06-2014

Comemoração dos 20 anos do Programa será realizada nesta terça, 24, às 9h, em Ribeirão Preto, interior paulista

 Tudo começou com uma rede virtual de trabalho, há duas décadas. O conceito, ainda pouco difundido à época, veio do fato de haver alguns pesquisadores científicos em Campinas, outros em Ribeirão Preto e nenhum quartel-general que pudesse ser chamado de “seu” pela equipe que se propunha a pesquisar cana-de-açúcar. Naquele momento, a cultura não despertava atenção nem credibilidade. Pelo contrário. Agora, tudo mudou. O Produto Interno Bruto (PIB) do setor sucroenergético cresceu 44%, nos últimos cinco anos. Já no Programa Cana IAC, passados 20 anos, a rede de trabalho, além de real é de excelência, com experimentos em 750 pontos e resultados que alcançam 11 Estados brasileiros, além de outros países. Tudo graças à capacitada equipe e uma estrutura física que inclui unidades inéditas no Brasil. Este é o Programa Cana IAC, do Instituto Agronômico, de Campinas, referência nacional e exemplo para os países interessados na produção de etanol a partir da cana, que comemora 20 anos nesta terça-feira, 24, às 9h, no Centro de Cana do Instituto, em Ribeirão Preto, interior paulista. O evento faz parte das comemorações do 127.º aniversário do IAC, que será realizado em 26 de junho, em Campinas.

O evento de comemoração dos 20 anos do Programa Cana IAC contará com apresentação de palestras e homenagens. O Diretor do IAC, Sérgio Augusto Morais Carbonell, vai proferir a palestra “IAC: 127 anos de inovação” e o pesquisador e líder do Programa Cana, Marcos Guimarães de Andrade Landell, vai falar sobre a “História e resultados do Programa Cana IAC”. Os pesquisadores Leila Luci Dinarnado-Miranda e Mauro Alexandre Xavier vão ministrar as palestras “Estado da Arte – Programa Cana IAC” e “Programa Cana e a interação com o setor sucroenergético”, respectivamente.

O crescimento do PIB sucroenergético, levantado pelo estudo do Markestrat, foi acompanhado por aumentos de custos de produção. Mas estes poderiam ter sido maiores, caso o segmento não tivesse à disposição todos os pacotes tecnológicos gerados pelas instituições de pesquisa. Só o IAC é responsável por 23% dos materiais lançados no Brasil na última década, segundo Marcos Guimarães de Andrade Landell, pesquisador do IAC, da Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (APTA).

Em 2014, o Programa Cana IAC completa 20 anos. Jovem e já com um currículo pra lá de robusto. São 22 variedades desenvolvidas, além de pacotes tecnológicos que têm viabilizado o sucesso da canavicultura paulista em outras regiões brasileiras, além de viabilizar o dobro da produtividade no México, que tem adotado soluções IAC.

Focado na prospecção de demandas e na realização de pesquisa para atender às necessidades levantadas, o universo de atuação do Programa Cana IAC envolve o desenvolvimento de variedades — o principal insumo tecnológico — e de tecnologias de produção para diversas regiões do Brasil, não apenas as que já produzem cana, como também aquelas que têm potencial para tal.

Décadas atrás, os estudos focavam somente produtividade, mas outros fatores, como sustentabilidade, passaram a integrar o cenário de produção. Essa mudança levou a equipe do Programa Cana IAC a identificar, em cada estudo, as oportunidades para gerar benefícios. O desenvolvimento de variedades para regiões restritivas, com déficit hídrico, gerou um perfil de cana mais eficiente no aproveitamento da água disponível no solo. “Assim estamos viabilizando a canavicultura de sequeiro, reduzindo a irrigação e, portanto, tornando a atividade mais sustentável”, explica Landell, líder do Programa Cana IAC.

Essa mesma sustentabilidade permeia os materiais IAC também sob o ponto de vista fitossanitário. “Ao desenvolver variedades resistentes, contribuímos para dispensar o uso de bactericidas e fungicidas para o controle de doenças”, diz.

As tecnologias geradas têm contribuído para que a canavicultura possa ser estendida para regiões com características restritivas, áreas que foram desprezadas no primeiro momento de expansão da cultura. “Naquele momento, ocupar alguns espaços era um verdadeiro desafio, esses obstáculos vem sendo superados graças aos pacotes tecnológicos que envolvem variedades regionais associadas ao manejo”, explica Landell. Esse manejo inclui desde a nutrição, controle de pragas, adubação até a adequação de períodos de plantio, número de cortes e colheita.

 

Primeira década do Programa Cana IAC

 

No Estado de São Paulo, graças ao trabalho do IAC, as pesquisas com cana iniciaram-se bem antes de o setor chegar aos holofotes. Os primeiros experimentos datam de 1892 e envolviam 42 variedades cultivadas em duas condições distintas. Entretanto, foi em decorrência do mosaico – doença que quase exterminou os canaviais paulistas – e da necessidade iminente de conter a propagação desse mal que foram criados, em 1933, a seção de cana do Instituto e o trabalho de melhoramento genético, com o objetivo de, naquele primeiro momento, barrar a expansão da praga.

Durante as décadas de 40 e 50, o IAC obteve as primeiras variedades brasileiras melhoradas: IAC48-65, IAC50-134, IAC51-205 e IAC52-150, desenvolvidas em um momento de expansão da cultura canavieira. Essa fase se consolidou mais tarde, com o Pró-Alcool, implementado nos anos 70. Naquele período, foram criadas importantes instituições de pesquisa – como a Planalsucar e a Copersucar – que dinamizaram a pesquisa canavieira no País. Entretanto, no IAC, a programação científica não contemplava a cana-de-açúcar.

Em meados dos anos 80, quando a Planalsucar e a Copersucar recuaram em suas atividades, o IAC deu uma guinada e retomou as pesquisas a partir de uma motivação da própria Instituição, impulsionada pelo apoio do setor sucroenergético, preocupado com a estagnação nas pesquisas. Reorganizada a estrutura administrativa da seção de cana, a atuação passou a ser de forma virtual, com atividades descentralizadas – em polos localizados em Piracicaba, Jaú, Ribeirão Preto, Mococa, Pindorama e Assis. Surgia então, entre 1991 e 1992, o Programa Cana IAC – que seria efetivamente estabelecido em outubro de 1994, com o apoio de empresas de açúcar e álcool e da Fundação de Apoio à Pesquisa Agrícola (Fundag), por meio do ProCana, projeto na área de melhoramento.

A iniciativa foi idealizada pelos pesquisadores Pery Figueiredo, Marcos Guimarães de Andrade Landell e Mário Pércio Campana. Reuniram-se todos os pesquisadores e especialistas em cana-de-açúcar, sediados nas seis regiões onde as pesquisas passaram a ser conduzidas.

Em 1994, novos pesquisadores foram contratados e os primeiros resultados chegaram três anos depois, com o lançamento de quatro variedades de cana: IAC82-2045, IAC82-3092, IAC86-2210, IAC87-3396. Em 2002, foi lançada a IAC86-2480 – primeira variedade de cana forrageira no Brasil. Destinada à alimentação animal, oferecia aos rebanhos ganho de peso de até 18%. Em 2004 e 2005, outros oito novos materiais foram lançados: IAC91-2195, IAC91-2218, IAC91-5155, IACSP93-6006, IACSP93-3046, IACSP94-2101, IACSP94-2094, IACSP94-4004.

Em 2007, o Programa Cana IAC lançou outras quatro variedades de cana-de-açúcar, feito que se repetiu em 2010, com outros quatro materiais, e em 2013, com mais dois. Em 2008, o Governo do Estado de São Paulo e o do Estado de Veracruz, no México, com o apoio do Grupo Piasa, firmaram um acordo de cooperação. Desde então, as tecnologias IAC têm proporcionado, em áreas experimentais, produtividade 50% superior à obtida com os materiais mais cultivados no México. Em 2013, o Instituto Agronômico disponibilizou cinco variedades de cana já usadas no Brasil, para os Estados de Varacruz e Oaxaca, no México.

O Programa Cana IAC implantou ainda Estação de Hibridação na Bahia, em 2009, referência no Brasil e no mundo, destinada à campanha de hibridação. Em 2010, foi inaugurada a primeira Câmara de Fotoperíodo do Brasil, no Centro de Cana, em Ribeirão Preto, que permite antecipar em 90 dias o florescimento da espécie.

O Programa Cana IAC abriga ainda uma biofábrica, com capacidade para produzir cerca de quatro milhões de mudas de cana, por ano, inaugurada em 2013, juntamente com o Núcleo de Produção de Mudas.

 

Identificação de demandas e pacotes tecnológicos IAC

 

As ações do Programa Cana IAC envolvem, além do melhoramento genético, o desenvolvimento e a transferência de pacotes tecnológicos responsáveis pelo bom desempenho da cultura no campo. Atualmente, 156 atividades estão em andamento, entre ensaios e projetos, visando benefícios para as diversas etapas da cadeia de produção. Na vasta gama de trabalho, destacam-se os seguintes projetos:

 

Previclimacana

Faz estimativa de produção da cana, atualizado mês a mês, gera previsão de produtividade e traz perspectiva de volume de matéria-prima para as usinas conveniadas, com levantamento de biomassa.

 

Ambicana

A partir de um diagnóstico das condições de determinado ambiente, oferece uma avaliação das potencialidades de implantação de um canavial em determinada região. O principal benefício é a orientação sobre a variedade mais adequada à localidade, melhorando ganhos de produção em até 25%. Faz a base da caracterização para implantação de novos plantios de cana ou para otimização de tecnologias. Com uma década de atuação, alcança 1.200 milhões de hectares nos Estados de São Paulo, Minas Gerais, Goiás, Bahia, Pernambuco, Tocantins, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Paraná.

 

Sanicana

Objetiva reduzir as perdas por pragas e doenças, por meio de um programa de manejo integrado, com orientações sobre as técnicas mais corretas, economicamente viáveis e seguras ao ambiente.

 

CanaLimpa

Oferece o diagnóstico de uma das principais doenças da cana-de-açúcar, o raquitismo-de-soqueira, antes de o material contaminado ir a campo na instalação ou na renovação de um canavial.

 

Rhizocana

Orienta as estratégias de preparo e manejo nas diferentes classes de solo, a fim de evitar a subsolagem de forma precipitada e desnecessária, o que demandaria gasto de energia e de dinheiro, além do risco de destruir a estrutura do solo.

 

Cana Forrageira

Focado no estudo de variedade voltada para a alimentação animal.

 

Canalimpa

Oferece serviços de diagnósticos para as principais doenças bacterianas, fúngicas e virais da cana-de-açúcar, por meio de técnicas de microbiologia, imunologia e biologia molecular. O diagnóstico de raquitismo-da-soqueira e escaldadura-das-folhas tem por objetivo avaliar a qualidade fitossanitária dos viveiros de mudas, assegurando ao produtor a utilização de mudas sadias e, consequentemente, retorno em produtividade.

 

Matologia

Preconiza de forma sustentável o manejo das plantas daninhas em canaviais. A recomendação de herbicidas é baseada no histórico das plantas daninhas, nas condições do clima no momento da aplicação e nos meses seguintes a ela, além de aspectos ligados à físico-química dos herbicidas e à textura do solo, com o ajuste da dose dos produtos.

O projeto Matologia, em conjunto com o projeto Sanicana, é credenciado junto ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) e oferece, em parceria com o setor privado, validação de moléculas novas de herbicidas emitindo laudos oficiais de aplicabilidade agronômica. Oferece treinamento de recursos humanos, desde a iniciação científica até trabalhos de conclusão de cursos, mestrado e doutorado.

 

 

 

 

Estrutura

Em 2005, quando foi criado o Centro de Cana do IAC, em Ribeirão Preto, o Programa Cana IAC contava com 55 profissionais. Hoje tem cerca de 120, atuando de forma interativa no Centro de Cana, na Estação de Hibridação, na Bahia, nas regiões brasileiras onde há experimentos do IAC, incluindo Goiás, Minas Gerais, Pernambuco, Tocantins, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Paraná. Cerca de 140 empresas são vinculadas à rede de experimentação do Programa Cana IAC.

Segundo Landell, a ampliação resulta das novas exigências da organização da pesquisa. O investimento em profissionais é fundamental para reforçar as captações externas de recursos do Programa junto às agências de fomento. “O Programa Cana IAC cresceu por inteiro, incluindo resultados gerados, captação de recursos, número de associados, eficiência da gestão, prospecção de demandas, visibilidade e credibilidade”, avalia.

 

SERVIÇO

20 anos do Programa Cana IAC

Data: 24 de junho de 2014

Horário: A partir das 9h

Local: Centro de Cana IAC

Endereço: Rodovia Antonio Duarte Nogueira, km 321 (Anel Viário Contorno Sul), Ribeirão Preto – SP