Energia limpa no mapa do Brasil
14-12-2021

Produção de etanol. Foto: Divulgação
Produção de etanol. Foto: Divulgação

O Brasil é apontado como uma potência mundial na geração de energia a partir de fontes renováveis, com 84% de sua matriz elétrica oriunda de sistemas sustentáveis

Por Eduarda Barbosa

Grande território com enorme disponibilidade de recursos naturais, o Brasil é uma referência em energias renováveis. As fontes de energia são diversas, advindas do sol, vento, água e cana-de-açúcar, por exemplo. O cuidado com esses recursos é de extrema importância para o País crescer como um produtor, consumidor e exportador energético.

“Na área de sustentabilidade, o Brasil é uma potência mundial. A matriz de energia elétrica no Brasil é composta por 84% de fontes renováveis e limpas, enquanto a média mundial é de 25%. A principal fonte é a hidráulica, e também tem a biomassa que tem grande participação e é importantíssima, principalmente derivada da cana-de-açúcar, com participação muito efetiva”, disse Anísio Coelho, vice-presidente da Federação das Indústrias do Estado de Pernambuco (Fiepe) e presidente do conselho temático de Meio Ambiente da federação. 

Globalmente, o mundo vive um período de transição energética, em função das mudanças climáticas. Durante todo o século 19, a economia era praticamente toda movida a combustíveis fósseis, que contribuem para a elevação dos gases de efeito estufa na atmosfera. Na avaliação de Anísio, “estamos vivendo fenômenos climáticos cada vez mais graves e frequentes. Isso gera um custo econômico e social grande, por isso a humanidade vai ter que mudar sua matriz energética. Nessa transição, as nações estão procurando fontes de energia limpas e renováveis, e, nesse sentido, o Brasil é um exemplo para o mundo”. 

Crise hídrica  

Este ano, muito se ouviu falar no agravamento da crise hídrica. Os reservatórios das regiões Sudeste e Centro-Oeste, que são responsáveis por cerca de 70% da geração hídrica do Brasil, alcançaram níveis baixíssimos. Por isso, o País precisou acionar usinas térmicas, mais caras e mais poluentes, para a geração de energia. Com isso, o governo brasileiro criou bandeira tarifária Escassez Hídrica – que entrou em vigor no dia 1° de setembro deste ano –, no valor extra de R$ 14,20 a cada 100 kWh consumidos, encarecendo a conta dos consumidores brasileiros. 

“As regiões Sudeste e Centro-Oeste estão vivendo a maior estiagem dos últimos 91 anos. Por isso o Operador Nacional do Sistema Elétrico foi obrigado a liberar as termelétricas a gás natural, combustível fóssil, além de liberar as termelétricas a óleo diesel, fóssil e caro”, explicou o vice-presidente da Fiepe.

Sistema robusto 

“Nessa crise de 2021, a região Nordeste forneceu energia para o Sudeste de julho a novembro, predominantemente a hidráulica a partir das usinas do Rio São Francisco, a solar e a eólica. Isso mostra a robustez do sistema elétrico brasileiro, que é interligado, podendo ter transferência de energia para outra região”, contou o diretor de engenharia da Companhia Hidro Elétrica do São Francisco (Chesf), Reive Barros.  

O cenário mostrou como o Nordeste é importante na geração eólica e solar. Ele explica que essas fontes estão predominantemente no Nordeste, principalmente a eólica, levando impacto socioeconômico aos locais onde os projetos são instalados. “Elas elevam o Índice de Desenvolvimento Humano nas cidades por vários fatores, como o arrendamento das terras em que o proprietário recebe renda e as famílias ganham melhores condições”, ressaltou. 

A matriz elétrica

 Atualmente, o País tem uma capacidade instalada de 186 gigawatts, dividida entre as fontes de energia. Para daqui a 10 anos, a projeção é chegar a 236 gigawatts, sendo 80% composta por fontes renováveis. “O Brasil tem um planejamento decenal da matriz elétrica, feito pela equipe do Ministério de Minas e Energia. Esse plano faz uma análise macroeconômica do crescimento do País e estuda as condições desse crescimento. A projeção para os próximos 10 anos é de o Brasil crescer, em média, 2,9% ao ano no Produto Interno Bruto (PIB). Para isso vai ser preciso agregar 50 gigawatts na matriz elétrica brasileira”, explanou Reive Barros.

No Brasil, há atributos importantes que dão segurança para os interessados investirem no setor de energia. “O primeiro é que temos regras claras e transparentes de estabilidade regulatória e jurídica. O segundo é que temos contratos de longo prazo. O terceiro é que temos garantia de recebíveis, ou seja, se o agente gerador assina o contrato, ele tem garantia de receber o que tem no leilão. E, por último, o Brasil tem previsibilidade, pois os leilões são anunciados com três anos de antecedência”, disse Reive Barros. 

Na avaliação de Luiz Otávio Koblitz, presidente da empresa Koblitz, para o mercado da energia atuar de forma mais limpa, é preciso que o mundo busque fontes de energia renováveis, que não comprometam o meio ambiente. “O Brasil é um país muito sustentável, graças às hidrelétricas que são renováveis, somadas à eólica, solar e biomassa, que geram sua própria energia e para fora. É fundamental que o mundo busque sustentabilidade, sem produzir gases do efeito estufa”, disse. 

A empresa tem como objetivo a prestação de serviços, consultoria, prospecção e participação em outras sociedades com o foco na geração de energia elétrica a partir das fontes renováveis. 

Hidrogênio verde

 Na transição energética que o planeta está passando, o Brasil também vislumbra explorar, de maneira estruturante, o hidrogênio verde a partir de 2030. Há projetos que estão sendo estudados para o Complexo Industrial Portuário de Suape, em Pernambuco, e para o Complexo Industrial e Portuário do Pecém, no Ceará.

“O hidrogênio é como se fosse um vetor energético. Para gerar, ele precisa de uma fonte de energia para separar o hidrogênio (H2) do oxigênio (O2) que existem na água (H2O). O hidrogênio verde é chamado assim porque a fonte que vai ser utilizada para fazer essa eletrólise é uma fonte renovável, como a eólica e a solar”, explicou Anísio Coelho. 

“Está se estudando para daqui a alguns anos o Brasil exportar para a Europa o hidrogênio para fazer a transição energética eliminando o carvão, por exemplo. É o Brasil sendo vislumbrado para uma nova commodity”, destacou Reive Barros. 

E há ainda mais alternativas para esse novo ambiente do hidrogênio. “Enquanto muitos países buscam maneiras de desenvolver a produção de hidrogênio verde, a partir da eletrólise da água com energia elétrica renovável, em muitos casos eólica e fotovoltaica, que são energias intermitentes, outros países como o Brasil podem utilizar a extraordinária máquina biológica que é a cana-de-açúcar, que produz etanol e biometano fáceis e práticos de produzir, armazenar e distribuir de forma econômica, eficiente, e segura”, disse Plínio Nastari, presidente da Datagro. 

Fonte: Folha de Pernambuco