Energia precisa de medidas imediatas, dizem analistas
06-11-2014

Diante do cenário de seca e de baixo nível dos reservatórios das hidrelétricas, especialistas afirmam que são necessárias ações imediatas para reduzir o consumo de energia a fim de evitar medidas mais drásticas em 2015, como racionamento ou cortes seletivos no fornecimento.

Eles acreditam que a primeira medida a ser tomada seria um programa para promover o uso consciente da energia --uma racionalização do consumo--, nos moldes do que a Sabesp fez em São Paulo por causa da crise da água.

Para alguns, o governo não tem sido claro com a população sobre os riscos para o abastecimento de energia.

"Os reservatórios estão em nível inferior ao de 2013, que já era crítico. Para evitar especulações, o governo deveria ter maior clareza em suas ações", diz Claudio Sales, do Instituto Acende Brasil.

"A primeira atitude seria uma redução voluntária do consumo, incentivar financeiramente a redução", afirma Cristopher Vlavianos, da comercializadora Comerc.

Reginaldo Medeiros, presidente da Abraceel, associação dos comercializadores de energia, lembra que, em 2001, até regiões que não foram afetadas pelo racionamento baixaram o consumo voluntariamente, ajudando a manter o sistema. "O Sul reduziu o consumo em 8%, só por ter acesso à informação."

Nivalde de Castro, da UFRJ, por outro lado, diz que algumas decisões recentes devem aliviar a pressão financeira sobre as empresas do setor.

"A medida da Aneel de baixar o PLD [o preço da energia no mercado de curto prazo] ao menos vai diminuir a febre do setor", diz.

Está em audiência pública proposta da Aneel para reduzir o teto do PLD de R$ 822,83 para R$ 388,04 o MWh (megawatt-hora). A medida servirá para diminuir a especulação em torno do setor, situação em que geradores e indústrias passam a segurar parcela significativa da eletricidade disponível para vendê-la no mercado de curto prazo.

Luiz Fernando Vianna, presidente da Apine, associação que reúne os geradores privados, ainda alerta para o risco de desabastecimento, caso os níveis de consumo permaneçam durante o verão.

"Se mantivermos a geração nos níveis atuais, podem ocorrer falhas no sistema devido ao baixo nível dos reservatórios. Primeiramente, a frequência seria reduzida e, em uma situação mais grave, o sistema cairia", diz.


Prejuízos

Especialistas alertam para prejuízos que geradores e distribuidores poderiam enfrentar no caso de racionalização. Para eles, o melhor seria um racionamento --obrigar o consumidor a reduzir o consumo, sob risco de multa.

Com a queda do consumo voluntário, as receitas dessas empresas seriam impactadas. Isso poderia causar um descasamento entre custos operacionais, gastos com investimentos e faturamento.

"Quando um racionamento é decretado, geradores devem reduzir a geração na mesma proporção. Hoje, eles conseguem gerar só 90% do que deveriam. Um racionamento de 10% resolveria o problema, além de acelerar o enchimento dos reservatórios", diz Edvaldo Santana, ex-diretor da Aneel e atual diretor da geradora Renova.

Machado da Costa