Especialistas discutem pulverização aérea na cana-de-açúcar
29-08-2018

Na primeira quinzena de agosto (15/08), com o objetivo de debater os impactos à saúde humana e ambiental do uso de defensivos agrícolas nas lavouras de cana-de-açúcar, a prefeitura de Descalvado, município localizado no Centro-Leste do Estado de São Paulo, realizou o I Fórum sobre Pulverização Aérea de Agrotóxicos.

Durante o evento, pesquisadores, fiscais, representantes do segmento produtivo diretores e coordenadores de órgãos e secretarias estaduais ligadas à agricultura paulista debateram a influência dos produtos fitossanitários na contaminação de corpos hídricos. E uma boa notícia vem de estudo recente da Unicamp: amostras coletadas em rios do Estado registraram a presença de ingredientes ativos em valores muito inferiores ao permitido pelo Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA).

Segundo o pesquisador da Unicamp, Raphael D’Anna Acayaba, autor do trabalho “Ocorrência de agrotóxicos usados na cana-de-açúcar em corpos d’água do estado de São Paulo", são registrados 381 ingredientes ativos para uso na agricultura brasileira, sendo que 85 deles estão registrados para cultura da cana-de-açúcar.

“Dos que são legislados pelo CONAMA, foquei na atrazina e na simazina. Para esses compostos, as concentrações quantificadas estavam abaixo do valor máximo estabelecido. Ou seja, considerando apenas o que analisei, as águas são seguras para consumo humano”, explica o doutorando em Tecnologia do Ambiente pela Faculdade de Tecnologia da Unicamp.

Segundo Raphael, a presença desses princípios ativos nos corpos d'água ocorre de maneira difusa, ou seja, sem uma análise aprofundada não é possível determinar uma relação de causalidade com as técnicas de manejo utilizadas na agricultura, como é o caso pulverização da aérea, por exemplo.

Perguntado sobre as datas de coleta das amostras e se a incidência maior de chuvas poderia alterar os resultados obtidos em sua pesquisa, o cientista esclarece: “As minhas amostragens contemplam períodos de estiagem e de chuvas. No meu trabalho eu não pude constatar nenhuma alteração nas concentrações dos pesticidas durante o período de chuvas, mas, para avaliar de maneira mais conclusiva, eu acredito que novos estudos devem ser realizados”.

Sobre o estudo, a Assessora Jurídica e de Sustentabilidade da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (UNICA), Renata Camargo, que marcou presença no evento em Descalvado, destaca que os resultados evidenciam que existe uma grande diferença entre presença ou ocorrência desses princípios ativos nos corpos d’água do Estado de São Paulo e a sua contaminação efetiva. "A contaminação é verificada quando a presença das substâncias está acima do valor de referência definido pelo CONAMA, o que não ocorreu nas amostras analisadas”, afirma.

O executiva da UNICA ressalta que os ingredientes analisados são registrados para outras culturas. A simazina, por exemplo, é um herbicida usado nos cultivos de abacaxi, banana, cacau, café, citros, maçã, milho, pinus, seringueira, sisal, sorgo e uva. Já a atrazina está presente no abacaxi, milho, pinus, seringueira e sisal e sorgo. Desta forma, a simples presença desses príncipios ativos nos corpos hídricos não pode ser relacionada direta ou exclusivamente com a cana-de-açúcar.

Ainda durante o “I Fórum sobre Pulverização Aérea de Agrotóxicos”, Renata Camargo exaltou a necessidade de se chegar a uma convivência pacífica entre as diferentes atividades econômicas. Também falou sobre a importância do Etanol Mais Verde no Estado de São Paulo, protocolo celebrado entre o segmento canavieiro e o governo estadual, que entre suas diretivas prevê a implementação das melhores práticas de sustentabilidade na cultura da cana, incluindo uma instrução específica para o manejo adequado de defensivos agrícolas.