Estudo aponta risco de fiasco na ´revolução do gás de xisto´ nos EUA
04-12-2014

 A revolução energética com a produção do gás de xisto, tão propagada pelo governo dos EUA nos últimos anos, pode se transformar em um grande fiasco, de acordo com um estudo apresentado pela revista científica "Nature" nesta quarta-feira (3).

A publicação comparou dados da EIA (a agência de informações energéticas do governo, na sigla em inglês) obtidos com exclusividade com uma recente pesquisa da Universidade do Texas e chegou à conclusão de que o governo americano pode estar superestimando significativamente as reservas do gás que podem ser extraídas no país.

O gás de xisto é obtido por meio de um processo de extração conhecimento como "fracking", em que as rochas são fraturadas usando-se água e produtos químicos.

Hoje, ele corresponde a 40% da produção total de gás natural dos EUA. Em meados da década passada, esse número não passava dos 5%. Por causa desse aumento, o país produz hoje um volume recorde de gás.

Os números da "Nature" analisam as quatro maiores formações de xisto dos EUA. Para a EIA, o volume de produção nestes locais continuaria crescendo até 2020, quando se estabilizaria em níveis recordes pelo menos até 2040.

Na previsão da Universidade do Texas, a produção nas quatro maiores jazidas atingiria seu pico em 2020 e começaria então a declinar. Em 2030, esses locais estariam produzindo apenas metade do que a EIA prevê.

Os pesquisadores apresentaram uma análise 20 vezes mais rigorosa que as estimativas do governo dos EUA.

A "revolução do xisto", como é chamada, mudou o cenário energético nos EUA. Como o gás é produzido a custos menores, analistas preveem que o PIB norte-americano poderia ser impulsionado pela energia mais barata. Outros preveem também um forte declínio nos preços do petróleo nos próximos anos.

"O gás natural barato se mostrou fator imensamente importante para que os EUA saíssem da recessão", disse Tad Patzek, membro da equipe de pesquisadores da Universidade do Texas, à Folha.

Segundo ele, o preço menor do gás injetou, em quatro ou cinco anos, mais de US$ 800 bilhões na economia.

Uma produção menor também poderia gerar perdas multibilionárias para o governo e empresas dos EUA que têm investido em instalações alimentadas por gás natural.

"Temos uma grande quantidade de gás, mas não vamos conseguir recuperá-la, economicamente, para sempre."

"Então precisamos ser muito cuidadosos com a forma como usamos o gás natural. Para mim, a primeira coisa a fazer é limitar as exportações de gás. E também precisamos pensar duas vezes antes de usar o gás natural para gerar eletricidade, porque há jeitos mais benéficos para usá-lo."

Giuliana Vallone
Fonte: Folha de S. Paulo