Estudo sobre fungo entomatopatogênico pode melhorar defesas da cana-de-açúcar
07-07-2025

Para evidenciar a complexidade das interações fungos, plantas e insetos, Marvin Mateo Pec Hernández, engenheiro agrônomo formado pela Universidad de San Carlos de Guatemala e doutorando em Entomologia, pela Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq/USP), se debruçou na ideia de que certos fungos entomapatogênicos, além de combater pragas, também poderiam atuar como indutores de defesas como se fosse uma verdadeira vacina para as plantas.
Por Alicia Nascimento Aguiar | MTb 32531
“Na cana-de-açúcar, ainda se compreende pouco o impacto desses fungos sobre as defesas químicas e sobre as interações com herbívoros e inimigos naturais”, explicou o pesquisador. Foi justamente essa lacuna que motivou o engenheiro agrônomo a realizar o projeto que busca avaliar o potencial do fungo endofítico entomopatogênico Metarhizium robertsii, para melhorar as defesas da cana-de-açúcar, medindo níveis de fitormônios, emissões de compostos orgânicos voláteis e atração olfativa dos inimigos naturais como a vespa Cotesia flavipes e à tesourinha Doru luteipes em condições com e sem infestação da broca-da-cana-de-açúcar, principal praga da cultura.
O trabalho com o fungo Metarhizium robertsii envolveu uma abordagem multidisciplinar que incluiu o cultivo do fungo e sua inoculação em plantas, seguido da infestação com pragas. Foram utilizadas análises químicas para quantificar os níveis de fitormônios e compostos orgânicos voláteis, além de bioensaios comportamentais para avaliar a preferência de ovoposição das pragas. Também foram conduzidos bioensaios para investigar a atratividade olfativa do parasitóide C. flavipes e do predador noturno D. luteipes, ambos inimigos naturais da broca-da-cana.
Para Pec, os resultados apontaram para uma estratégia ecologicamente correta, que pode reduzir a dependência do uso de inseticidas químicos, ao melhorar as defesas naturais da planta, tornando o controle biológico mais eficiente, potencializando a atratividade de inimigos naturais como a mosca C. flavipes para controlar a broca-da-cana; e contribuir para a sustentabilidade da cultura da cana-de-açúcar, ao oferecer uma abordagem de manejo de pragas de baixo impacto ambiental.
“Plantas inoculadas com o fungo apresentaram alterações significativas nos níveis de compostos secundários responsáveis pela defesa da planta contra pragas, como os ácidos jasmônico e salicílico, além de mudanças nas emissões de compostos voláteis tanto durante o dia quanto à noite”, explica o pesquisador. Nas plantas ainda não infestadas pela broca-da-cana, observamos uma redução na ovoposição da praga. Já nas infestadas, houve maior atração do parasitóide C. flavipes, indicando que o inimigo natural pode estar atuando de forma mais eficaz no controle da praga. Por outro lado, o predador noturno Doru luteipes – a tesourinha – não apresentou aumento de atração, mesmo com as alterações nos voláteis emitidos à noite.
O trabalho foi conduzido no Laboratório de Ecologia Química e Comportamento de Insetos, da Esalq/USP (Piracicaba, SP), sob coordenação do Prof. José Maurício Simões Bento, com o envolvimento do doutorando Marvin Mateo Pec Hernández e dos Drs. Paolo Salazar Mendoza, Diego Martins Magalhães e Kamila E. Xavier de Azevedo.
Esta é a primeira pesquisa sob nova nomenclatura do Projeto Construindo Ciência, antigo Projeto Tese Destaque. O trabalho é realizado em parceria com a Comissão de Pesquisa da Esalq.
Fonte: Esalq/USP