Etanol brasileiro perde espaço na Califórnia
31-10-2014

Estado mais "verde" dos Estados Unidos, a Califórnia dá sinais de que as vantagens econômicas concedidas ao etanol de cana-de-açúcar do Brasil podem ter vida curta. Esse mercado, que já pagou prêmios altos ao etanol brasileiro por valorizar seus benefícios ambientais, começa a criar condições para equiparar o etanol de milho aos mesmos níveis de baixa emissão de CO2 que eram exclusivos até então do biocombustível brasileiro.

As dúvidas sobre a condição brasileira de abastecer a demanda californiana nos próximos anos, somadas ao forte lobby da indústria de etanol de milho dos EUA, influenciaram o Conselho de Qualidade do Ar da Califórnia (CARB, na sigla em inglês) a propor a revisão de alguns critérios de medição dessa pontuação ambiental. A revisão tende a beneficiar em cerca de 5 pontos o etanol de milho a partir de 2016.

"Apesar de também melhorar a pontuação do produto brasileiro, o efeito prático disso é que tem sido possível cumprir o mandato na Califórnia com etanol de milho", diz o presidente da maior trading global de etanol, a Copersucar, Paulo Roberto de Souza.

A Califórnia estabeleceu a meta de reduzir em 10% as emissões de CO2 até 2020 (contados a partir de 2011). Mas, em vez de especificar o volume a ser misturado à gasolina ano a ano, como fazem outros Estados americanos, a Califórnia estabeleceu uma meta anual de redução de emissões, deixando para o mercado escolher como ela será cumprida - com etanol de cana, de milho ou biodiesel.

Para isso, criou uma metodologia própria de classificação ambiental para cada combustível, que gera uma espécie de pontuação, conhecida como CI (Carbon Intensity). Enquanto o CI da gasolina é de emissão de 99.18 gramas de CO2 equivalente por megajoule (MJ), o do etanol de milho americano é de 90.1 gramas e o do etanol de cana do Brasil pode variar de 58.4 a 71.3 gramas/MJ - a depender do nível de mecanização e de cogeração de energia elétrica da usina produtora.

Neste ciclo 2014/15, o Brasil deverá exportar para a Califórnia metade das 363 milhões de litros que embarcou em 2013/14. Em 2015/16, esse volume deve se aproximar de zero, nas previsões da Copersucar.