ETANOL DE MILHO
25-03-2014

Clivonei Roberto

Os toletes de cana-de-açúcar deixaram de ser a estrela principal da Usimat em 2011, quando a usina começou a utilizar também milho para a produção de etanol. Entrava em funcionamento a primeira usina flex de etanol do Brasil. Localizada no Município de Campos de Júlio, a quase 600 quilômetros de Cuiabá, a unidade foi construída na década de 1980, mas ficou parada por um tempo. Foi reinaugurada em 2006, ainda no modelo convencional – processando apenas cana-de-açúcar. Mas o negócio ganhou um fôlego a mais com a flexibilização da moagem, utilizando o grão como outra matéria-prima.

Gerente industrial da empresa, Vital Nogueira diz que o projeto ajudou a diversificar as possibilidades agrícolas para a produção do combustível, a sustentar os preços do milho safrinha no Oeste de Mato Grosso, ao aproveitar o excedente do grão na região, e a ampliar o período de funcionamento da usina ao longo do ano.

Em 2014, a usina deverá processar por 340 dias ininterruptos, diminuindo os custos fixos da empresa. Em média, a planta industrial é abastecida com cana durante seis meses e por cerca de cinco meses, com milho. Hoje a Usimat mói 850 mil toneladas de cana por safra. A produção do etanol de milho começa depois do fim
da safra de cana.

 LIBRA - Em novembro de 2013, outra destilaria de cana-de-açúcar do Mato Grosso começou a fazer etanol de milho. Foi a Destilaria Libra, situada na cidade de São José do Rio Claro.  Diretor presidente da unidade, o engenheiro civil Luiz Carlos Ticianel conta que a usina está localizada em uma região de grande produção de sorgo e milho, com logística desfavorável e disponibilidade de biomassa. A decisão de acoplar uma usina flex à planta de etanol de cana já instalada foi tomada após estudo que mostrou a viabilidade do projeto, uma vez que a empresa tem balanços favoráveis, bem como capacidade instalada ociosa de geração de vapor, de energia e destilação.

“Após visitas a unidades já em operação no Brasil e no Paraguai, concluímos desenvolver o projeto Libra, com possibilidade de operação na produção do etanol de cereais.” Mas há uma diferença entre o projeto da Libra e
da Usimat. Na destilaria dirigida por Ticianel, a proposta é fazer etanol de milho ao longo de todo o ano, face às capacidades ociosas de equipamentos na safra de cana. “Outros fatores que motivaram a flexibilização da usina é o longo período da entressafra de cana e a localização geograficamente favorecida pela produção de cereais”, explica.

A Libra, que tem capacidade instalada de moagem de 5.500 toneladas de cana, pode processar 500 toneladas de cereais por dia. Já a capacidade de destilação é de 500 mil litros de etanol de cana e 200 mil litros de etanol de cereais por dia.

MONTAGEM DA INDÚSTRIA - A usina flex da Usimat foi desenvolvida pelos gestores da própria usina, sob o comando de Nogueira. “É uma planta compacta, eficiente e que estamos melhorando a cada dia. A proposta é inclusive aumentarmos a capacidade de produção.” O investimento inicial do projeto saiu por R$ 20 milhões.

Na usina, existe sinergia entre a cana-de-açúcar e o milho, pois vem do bagaço da cana grande parte da biomassa utilizada para a geração de energia para movimentar a planta. Quando falta, o jeito é buscar outras fontes, como cavaco de madeira. “Para nós é viável, pois temos praticamente 50% do combustível que precisamos para tocar o sistema”, diz Nogueira. Em 2014, a Usimat deve produzir 62 milhões de litros de etanol de cana e outros 22 milhões de etanol de milho.

E como é montada a indústria de etanol de milho? No projeto concebido na Usimat, Nogueira conta que acoplou à usina de cana-de-açúcar equipamentos para a recepção, armazenamento e processamento de milho. A começar pela instalação de um sistema de descarregamento de milho e de um silo para armazenar a matéria-prima que
chega do campo – como se pode guardar o milho por dois ou três anos no armazém, flexibiliza o processo. “No decorrer do ano, posso vender o milho para o mercado se for rentável, ou guardar para produzir etanol. Tenho versatilidade.”

A Usimat instalou um equipamento de recepção de cereais para o recebimento do grão, que depois segue para um moinho para ser moído. Depois da moagem, o milho é misturado com água. Faz-se uma espécie de farinha, formando um mosto – um caldo que é cozido a certa temperatura para que ocorra a liberação de amigo e a
transformação em açúcares.

“A partir daí, o processo segue como ocorre com o caldo da cana. A estrutura de pré-fermentação
e fermentação é a mesma. Depois que fermentou, vai para a destilação, que também é o mesmo equipamento usado na produção de etanol de cana. A destilaria é a convencional”, explica Nogueira.

Quando se está produzindo etanol de milho, a caldeira para geração de energia é a mesma utilizada para movimentar a planta quando se está fabricando etanol de cana, usando bagaço e cavaco de madeira como matéria-prima. O sistema de tratamento de água, o laboratório e os tanques de armazenagem também são os mesmos.

Mas depois vem outro processo diferenciado. Enquanto a vinhaça, produzida na fabricação de etanol de cana, é encaminhada para fertirrigação, o resíduo resultante do processamento do milho segue para outro setor, em que é tratado para se chegar ao farelo e ao óleo de milho. No final, a vinhaça que sobra do processamento do milho segue para a fertirrigação.

Ainda produzido em pequena escala, o óleo tem fins comestíveis. “Futuramente, a Usimat pretende oferecer o etanol de milho a outros mercados além do de combustíveis, como indústria química, farmacêutica, cosmética”, afirma Nogueira.

Já o farelo é utilizado como uma ração animal rica em proteína (um tipo de DDG), cuja saca é vendida, segundo Nogueira, a R$ 600/tonelada. Essa ração feita a partir do milho traz grande valor agregado ao produtor, tendendo
a ser mais valorizada no mercado. De acordo com Nogueira, fornecer esse produto ao gado possibilita produzir muito mais carne do que ministrando o milho in natura. “Essa ração tem 35% de
proteína.”

A Usina Flex da Destilaria Libra também foi construída um anexo à planta industrial existente, com recepção e armazenamento de grãos, moagem dos cereais, liquefação, cozimento, propagadores, fermentação e torres de resfriamento. “A produção do etanol de cereais realiza-se na entressafra da cana-de-açúcar, mas no caso
específico da Libra, pelo favorecimento do balanço e da biomassa disponível, se produz etanol de cereais e de cana-de-açúcar concomitantemente.”

Para instalar uma usina flex de etanol, apenas 20% dos equipamentos precisam ser fabricados. Segundo Nogueira, o restante já é fornecido por empresas brasileiras, que adaptaram outros equipamentos para esse tipo de negócio.

VIABILIDADE – Hoje o milho está com preço interessante para fazer etanol, pois há excedente do grão no Mato Grosso. Segundo Nogueira, com a saca do milho custando até R$18, produzir etanol a partir do grão ainda é viável. Ao fazer as contas, a Usimat gasta, em média, R$ 1,15 para produzir um litro de etanol de cana e R$ 0,97 para produzir um litro de etanol de milho. “Produzir etanol de milho aqui sai mais barato porque se agrega valor.” Do milho não se tira somente o etanol, mas também outros produtos (como o farelo de milho seco e o óleo).

Para falar sobre o custo da produção de etanol de milho, Ticianel faz o seguinte cálculo: “Pelo preço atual do milho de R$18,00/saca, considerando o preço da biomassa em R$100,00/tonelada para geração de energia, o custo do etanol de cereais gira em torno de 10% menor que o etanol de cana.”

 Segundo Nogueira, para a Usimat, o custo fixo para produzir etanol de milho é menor do que produzir a partir da cana. “É vantajoso produzir álcool na entressafra com milho. Cerca de 15% do cereal é produzido pela própria empresa e o restante é comprado de fornecedores, uma vez que há excedente grande do produto na região.”

Já os cereais processados na Usina Libra são produzidos na região do Norte de Mato Grosso, com distância de no máximo 100 km da unidade.

De acordo com Nogueira, é uma oportunidade produzir etanol a partir de milho em regiões em que há grande produção do grão, chegando a ser comercializado por preços baixos. Também é preciso ter disponível, a preço interessante, fontes de biomassa para queimar na caldeira. Para o gerente industrial da Usimat, se esses dois pontos forem atendidos, pode ser viável até instalar uma usina apenas para a produção de etanol de milho. No entanto, ainda mais nesse caso, é necessário fazer os cálculos com cuidado e considerar todas as variáveis que
fazem parte do negócio.

Nogueira relata que o preço do milho hoje tem patamar interessante para ser transformado em etanol por conta do excedente de produção que há Mato Grosso. Na safra atual, a Usimat chegou a comprar milho a R$ 9 a saca. “Hoje não se produz mais milho no Mato Grosso e no Brasil porque não tem preço, mas pode-se aumentar a produção do grão no País para fazer etanol. Isso estimularia o cultivo”, garante.

O empresário pode instalar a usina flex em uma escala menor e aumentá-la de acordo com a necessidade. “Não sai caro”, segundo Nogueira. “Um investimento inicial para processar 350 mil toneladas de milho/dia, produzindo cerca de 130 mil litros de álcool/dia, demanda cerca de R$ 15 milhões. Depois, com o tempo, o projeto pode
ser ampliado”, diz. A Usimat começou a funcionar processando 300 mil toneladas de milho/dia, hoje já mói diariamente 600 toneladas e, para o próximo ano, o objetivo é processar mil toneladas/dia.

Nogueira conta que vários grupos sucroenergéticos e empresários do agronegócio já visitaram a empresa para conhecerem de perto a produção de etanol de milho. Hoje, alguns empresários do Estado estão estudando investir no negócio, segundo ele.